Gouveia e Melo a caminho de Belém? O que defende o almirante para o País e como os militares veem a sua potencial candidatura a Presidente

A possibilidade de Henrique Gouveia e Melo, actual Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), entrar na corrida às presidenciais de 2026 divide opiniões, tanto dentro como fora do meio militar. A decisão final sobre uma eventual candidatura só deverá ser conhecida em março, mas o almirante já comunicou ao Governo que não pretende continuar no cargo, levantando especulações sobre as suas intenções políticas.

Gouveia e Melo tornou-se amplamente conhecido em Portugal pela sua liderança na task force da vacinação contra a covid-19, em 2021. O seu desempenho à frente desta missão foi elogiado por muitos como exemplar, associando o almirante a uma imagem de autoridade, organização e pragmatismo. O militar descreve-se como alguém de “centro pragmático”, com opiniões que combinam ideias “mais à esquerda e outras à direita”.

“Sou uma pessoa ambiciosa. Tenho fome de vencer e não gosto de perder”, afirmou em entrevistas passadas, enfatizando a sua motivação para continuar a contribuir para o país, mesmo após a reforma militar. Sobre a possibilidade de avançar para Belém, reiterou que “há muitas formas de servir Portugal”, mas reconheceu que uma candidatura presidencial só faria sentido se sentisse que poderia ser “útil ao país”.

Entre as suas declarações, recorda o jornal Público, destacam-se críticas ao sistema político, que considera fechado e desprovido de renovação significativa. Gouveia e Melo apontou a falta de líderes com visão política como uma falha estrutural e sublinhou que não está interessado em integrar partidos políticos, preferindo antes explorar “um movimento de cidadania”.

Apoio e críticas no meio militar

No meio militar, as opiniões sobre a candidatura de Gouveia e Melo estão longe de ser consensuais. Melo Gomes, antigo CEMA, destaca ao mesmo jornal o “sentido de serviço à pátria” do almirante, considerando-o um institucionalista com convicções democráticas, plenamente apto para assumir o cargo de Presidente. Já Garcia Leandro, ex-vice-chefe do Estado-Maior do Exército, questiona o perfil de Gouveia e Melo para o cargo, argumentando que na Europa Ocidental é raro eleger-se um militar para chefia de Estado.

Raul Cunha, ex-inspetor-geral do Exército, é ainda mais crítico, recordando o episódio em que Gouveia e Melo repreendeu publicamente a guarnição do NRP Mondego após uma recusa de embarque, em protesto pelas condições do navio. “Foi inaceitável”, afirmou, acrescentando que ser militar não garante automaticamente o apoio da classe.

O general Faria Menezes, ex-comandante operacional das Forças Terrestres, questiona a capacidade de um militar gerar a massa crítica política necessária para uma candidatura independente, embora reconheça o desempenho positivo de Gouveia e Melo na liderança da vacinação.

Posicionamento político e críticas ao sistema partidário

Apesar de se descrever como alguém “fora do sistema”, Gouveia e Melo reconhece a importância dos partidos na democracia. No entanto, critica o que considera ser o “esgotamento” da classe política e o fechamento do sistema eleitoral. Sobre os partidos populistas, já afirmou que oferecem “soluções muito simplificadas” que podem ser atraentes, mas são “perigosas em termos de execução”.

Entre os temas que lhe são mais caros está a defesa das condições das Forças Armadas. Durante o seu mandato, defendeu aumentos salariais para os militares, elogiando o esforço do Governo ao conceder um aumento de 300 euros no suplemento da condição militar.

No entanto, mantém uma abordagem conservadora noutros temas. Sobre o Serviço Militar Obrigatório, manifestou reservas, embora admita que a guerra na Ucrânia possa justificar uma reavaliação do tema num formato mais abrangente.

Reações e apoios políticos

No campo político, a eventual candidatura de Gouveia e Melo já gerou reações diversas. André Ventura, líder do Chega, afirmou estar aberto a apoiar o almirante, mas o militar desdramatizou, sublinhando que os partidos não são “donos do eleitorado”. Por outro lado, o primeiro-ministro Luís Montenegro enfatizou que a condição de militar não deve ser impeditiva nem determinante para uma candidatura presidencial.

Dentro do PSD, o partido de Montenegro, os sinais indicam apoio a Luís Marques Mendes, ex-líder do partido, enquanto outras figuras, como Leonor Beleza, têm sido apontadas como possíveis candidatas.

Com o fim do seu mandato como CEMA a aproximar-se, Gouveia e Melo deverá confirmar a sua posição em março. Para já, mantém o discurso ambíguo, recusando confirmar ou desmentir uma candidatura. A sua visão, no entanto, é clara: acredita que a política não deve temer o envolvimento de ex-militares, considerando tal receio um reflexo de uma “democracia coxa, com medos do passado”.

Se decidir avançar, Gouveia e Melo terá pela frente o desafio de provar que o seu perfil, associado à competência operacional e à autoridade, é compatível com as exigências do cargo de Presidente da República.

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