Plano de Meloni para colocar migrantes na Albânia ‘afundou’: centros vazios e dezenas de polícias enviados para casa
O plano de Meloni para a Albânia está praticamente afundado: foi tocado pela primeira vez pela Justiça italiana, que anulou as deportações de requerentes de asilo para o país dos Balcão, uma das principais medidas da primeira-ministra para impedir a chegada de refugiados a Itália: agora, os centros de migrantes estão vazios, os agentes da polícia, assistentes sociais e funcionários que tinham sido enviados para a Albânia regressaram a casa.
A presença de trabalhadores nestes centros foi considerada “desnecessária” porque, desde a sua abertura, a 11 de outubro último, apenas 24 requerentes foram enviados para os centros da Albânia com o objetivo de os repatriar para os seus países de origem. Cinco deles estiveram menos de 12 horas num centro de detenção, enquanto os restantes permaneceram por pouco mais de 48 horas. Já o plano de Meloni previa a chegada de cerca de 3 mil pessoas por mês.
Os migrantes que chegaram à Albânia foram transferidos de volta para Itália depois de os juízes italianos terem declarado ilegal a sua detenção no país balcânico antes de os repatriarem para “países terceiros” considerados seguros pelas autoridades italianas, como o Egito ou o Bangladesh. O golpe jurídico contra o plano de imigração de Meloni confirmou a decisão do Tribunal de Justiça da UE (TJUE) que estabelecia que um país não pertencente ao bloco não poderia ser declarado seguro a menos que todo o seu território fosse considerado seguro.
O regresso de quase todo o pessoal destacado na Albânia – cerca de 7 funcionários ainda estão por razões administrativas – foi fortemente criticado pelos partidos e políticos que foram contra o plano desde o início. “Missão cumprida”, apontou Riccardo Magi, presidente do partido de oposição de esquerda Più Europa (Mais Europa). “O Governo tem tido sucesso no seu esforço para repatriar os migrantes. Migrantes? Não, operadores italianos enviados para a Albânia, que regressarão a casa no fim de semana. O Governo primeiro desperdiçou uma enorme soma de fundos públicos, depois, com centros vazios até os assistentes sociais estão a regressar a casa.”
Por sua vez, a deputada Rachele Scarpa, do Partido Democrata, descreveu a operação na Albânia como “cruel e irrelevante”. “É apenas propaganda”, afirmou. “O Governo Meloni, que se vangloriou de ter encontrado uma solução para a questão dos imigrantes, deve responder pelo dinheiro desperdiçado, pelo sentido do Estado perdido”, acrescentou Filiberto Zaratti.
Os recursos económicos atribuídos ao ‘plano Albânia’ têm sido uma das críticas mais recorrentes desde a sua implementação porque o acordo de migração entre Itália e Tirana tem um custo de 500 milhões de euros para o período de cinco anos entre 2024 e 2028. Segundo dados do próprio Governo italiano, em 2022 os custos de manutenção dos centros de detenção de imigrantes foram de 55 milhões de euros, o que representa um custo médio de 250 euros por dia e pessoa. Na Albânia este valor subirá para 500 euros.
O ‘modelo da Albânia’ nasceu com muitas dificuldades jurídicas que foram ratificadas pela justiça europeia. No entanto, Meloni não recuou e tem travado uma batalha política contra os juízes italianos, a quem culpa por terem boicotado o seu plano. Os tribunais, por seu lado, argumentam que suspenderam as deportações na sequência da decisão do tribunal europeu.
O confronto entre o Governo e os juízes tornou-se uma das consequências mais importantes do plano de imigração de Meloni. “Devemos parar de atacar os magistrados só porque não gostamos de uma decisão”, referiu Nicola Gratteri, procurador-chefe de Nápoles. “Não quero fazer um julgamento político, mas digo que neste momento na Albânia há 250 agentes da polícia que não fazem praticamente nada. É um desperdício manter 250 agentes da polícia em missão na Albânia, por isso penso que deveriam regressar a Itália, onde lutamos contra a falta de milhares de polícias.”
Roma esclareceu que os centros albaneses permanecerão abertos e que o regresso de quase todo o pessoal que trabalhou nas instalações responde às necessidades do momento. No entanto, o “abandono” dos centros pode ser um golpe para a credibilidade de Meloni, que transformou a sua proposta numa bandeira política. “O Governo falhou sabendo que iria falhar. Gastou uma montanha de dinheiro e brincou com os direitos das pessoas. Isto ficará na história como uma página vergonhosa para o nosso país”, acusou Elisabetta Piccolotti, deputada da Aliança Verde e de Esquerda.