Pagamentos: Uma mudança profunda

Por Luís Timóteo, Executive Board Member | Practice Director – Technology, Capgemini Portugal

A área dos pagamentos a nível mundial está a sofrer uma transformação acelerada, à medida que os consumidores aderem cada vez mais aos meios digitais para realizar transações. Perante a confiança nos pagamentos digitais a crescer, as transações em meios de pagamento não numerário estão a aumentar, com a região da Ásia-Pacífico a marcar o ritmo, conforme revela o World Payments Report 2025

Esta rápida transformação está a ser incentivada e potenciada quer ao nível da regulação, quer principalmente através da inovação que tem vindo a chegar aos vários setores de atividade, com foco nos pagamentos instantâneos e no Open Finance. Ou seja, ecossistemas financeiros abertos baseados na simplificação da venda e consumo de serviços e produtos bancários, assim como de seguros, fundos e ações, entre outros.

O Open Finance é uma evolução sobre o conceito de Open Banking, utilizando a tecnologia e a partilha de dados para criar um ecossistema financeiro mais transparente e interligado, permitindo aos consumidores e às empresas disporem de produtos financeiros personalizados, avaliações de crédito mais rápidas e uma gestão financeira simplificada. Embora o seu potencial seja imenso, a adoção generalizada é desigual a nível mundial. No entanto, está a revolucionar o sector financeiro, catalisando a adoção de pagamentos instantâneos e redefinindo o panorama competitivo.

Estando operacional em mais de 80 mercados a nível global, o volume de pagamentos instantâneos está a ganhar velocidade. Espera-se que o crescimento acelere à medida que os casos de utilização aumentam, e que mais prestadores de serviços de pagamentos não bancários participem, graças à criação de mecanismos de cooperação mais abertos e disponíveis nos mercados e sistemas locais.

A integração dos pagamentos instantâneos em casos de utilização de Open Finance pode gerar vantagens competitivas substanciais para os Bancos e instituições financeiras. É na área do retalho onde a adoção dos pagamentos instantâneos está mais acelerada, contudo, não será de menosprezar o potencial dos pagamentos instantâneos entre empresas.

Os pagamentos de retalho estão a transformar-se à medida que os consumidores exigem opções flexíveis. As carteiras digitais, cada vez mais populares, estão a remodelar o panorama dos pagamentos. Embora os Bancos enfrentem uma forte concorrência dos gigantes tecnológicos estabelecidos e das FinTechs, estão a surgir pagamentos conta-a-conta (A2A) disruptivos. O potencial do pagamento A2A instantâneo, que pode canibalizar os pagamentos tradicionais com cartão – uma fonte de receitas significativa para os Bancos – exige uma resposta estratégica. Para mitigar os riscos e captar novas oportunidades, os Bancos devem adotar uma abordagem que maximize os tipos e meios de pagamento disponibilizados e propondo serviços complementares, que permitam proteger os fluxos de receitas existentes, explorando simultaneamente serviços de pagamentos instantâneos inovadores, potenciados no contexto do Open Finance.

Em paralelo os pagamentos entre empresas (B2B) estão a digitalizar-se rapidamente. Contudo, a capacidade de resposta por parte dos Bancos na disponibilização e evolução de soluções de pagamentos no contexto B2B, fica frequentemente aquém das expectativas das empresas. Uma gestão de tesouraria mais eficaz, que minimize previsões deficientes e falta de visibilidade, permitirá às empresas uma importante redução de custos. Os pagamentos instantâneos e o Open Finance podem revolucionar os processos de contas a pagar e a receber, proporcionando uma visibilidade acrescida da tesouraria em tempo real e aumentando os níveis de eficiência operacional.

Os desafios e as oportunidades marcam a complexa transição para os pagamentos instantâneos. Os sistemas bancários existentes, concebidos para fazerem o processamento ao final do dia e funcionando apenas durante um espaço horário limitado, estão frequentemente mal equipados para poderem responder adequadamente às novas exigências advindas dos pagamentos em tempo real. A evolução para modelos de processamento contínuo, 24 horas por dia, 7 dias por semana e 365 dias por ano, exigirá mudanças operacionais significativas. Ao mesmo tempo que respondem a estes desafios, os Bancos deverão também reforçar as medidas de prevenção da fraude e de combate ao branqueamento de capitais de modo a  atenuarem os  riscos emergentes.

Ainda assim, são muitos os Bancos que  estão a adotar modelos Payment-as-a-Service (PaaS), para acelerar a sua transformação, tirando partido da facilidade de integração e das funcionalidades baseadas na Cloud para ganharem maior agilidade e flexibilidade. Esta abordagem permite uma adaptação mais rápida à evolução das condições de mercado e à introdução de novos produtos e serviços.

Para prosperarem neste cenário em constante evolução, os Bancos que forem pioneiros na transformação incluirão na sua estratégia a adoção do Open Finance e dos pagamentos instantâneos. Combinando estas duas forças, e tirando partido de soluções tecnológicas avançadas, podem criar propostas de valor inovadoras que satisfaçam as crescentes necessidades dos consumidores e das empresas.

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