Rússia começa a recrutar “sob a mira de uma arma” ucranianos de territórios ocupados para combater o próprio país
A Rússia já estará a recrutar ucranianos dos territórios ocupados do leste para lutar contra o seu próprio país. De acordo com o canal russo independente ‘iStories’, na plataforma ‘Telegram’, “os jovens dos territórios ocupados da Ucrânia foram convocados para o exército russo pela primeira vez”, citando as autoridades das regiões ocupadas: também a agência de notícias estatal ‘RIA Novosti Crimea’ relatou um “comício cerimonial” realizado em Simferopol, na Crimeia, onde foi celebrado o recrutamento de novos recrutas das regiões de Kherson e Zaporizhia, no sul da Ucrânia.
Além de Kherson e Zaporizhia, anexadas pela Rússia após o lançamento da invasão em 2022, o ‘iStories’ garantiu que jovens de Donetsk e Lugansk também foram enviados para servir nas forças armadas russas.
Esta não é uma prática nova, de acordo com o Ministério da Reintegração dos Territórios Temporariamente Ocupados, um órgão do Governo ucraniano criado em 2016. “Começaram esta prática vergonhosa em 2014”, acusou o MRTOT. “A recusa de receber uma intimação de representantes das autoridades de ocupação pode custar a vida de uma pessoa.” O ministério indicou ainda esses recrutas – que podiam mesmo ter incluídas crianças de até 12 anos – eram considerados pela Rússia como “escravos” e “bucha de canhão”, de acordo com informações de soldados ucranianos capturados posteriormente.
A prática, descrita pelo MRTOT como “recrutamento sob a mira de uma arma”, atraiu repetidas condenações de autoridades estaduais e grupos de direitos humanos. Em outubro último, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia garantiu que a mobilização forçada de ucranianos para o exército russo violava tanto as normas do Direito Internacional como o Artigo 51 da Quarta Convenção de Genebra sobre a Proteção de Pessoas Civis em Tempo de Guerra. “A potência ocupante não pode obrigar pessoas protegidas a servir em suas forças armadas ou auxiliares”, refere o artigo.
O Conselho Municipal de Mariupol salientou que “os ocupantes alegam que os recrutas aparentemente não participarão da guerra contra a Ucrânia. No entanto, não há garantias. Afinal, os russos têm usado repetidamente jovens na frente de batalha, a fim de salvar as suas forças”.