Incertezas económicas e geopolíticas fragilizam estabilidade financeira, diz BCE
O Banco Central Europeu (BCE) assinalou hoje que as vulnerabilidades da estabilidade financeira continuam elevadas, face a um ambiente volátil de incerteza económica, geopolítica e comercial.
“A par da incerteza geopolítica e política, as tensões comerciais globais estão a aumentar, elevando o risco de eventos imprevisíveis”, afirmou o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, numa nota divulgada na instituição europeia, em que acrescenta que os mercados financeiros “registaram uma ressurgência da volatilidade, apresentando notórios picos desde a última edição do Relatório de Estabilidade Financeira”.
O BCE publicou hoje o seu relatório semestral sobre a estabilidade financeira, em que concluiu que as perspetivas são nebulosas e que, apesar de os mercados financeiros “terem mostrado resiliência” face a breves picos de volatilidade, “não há espaço para complacência”.
O documento refere que o principal foco da preocupação da zona euro passou da inflação para o receio de um crescimento mais brando da economia.
O BCE identificou três fatores de risco para a estabilidade financeira na zona euro.
O primeiro fator passa pela suscetibilidade dos mercados a dinâmicas adversas no contexto de elevadas avaliações bolsistas e a concentração de alto risco, enquanto o segundo se debruça sobre o aumento das incertezas geopolíticas e de políticas, a fragilidade das regras orçamentais e da sustentabilidade das dívidas soberanas.
Por fim, o risco de crédito para famílias e empresas da área da moeda única poderá enfraquecer a qualidade dos ativos dos bancos e das instituições financeiras, caso o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) fique abaixo do esperado.
O BCE assinalou ainda que os custos dos empréstimos e as fracas perspetivas de crescimento entre as empresas pesam nos seus resultados, que continuam a retrair.
Para o mercado da habitação, as perspetivas são mistas. Enquanto os preços da habitação deverão estabilizar, o setor imobiliário comercial poderá enfrentar uma pressão contínua. Já as famílias beneficiam de um mercado de trabalho forte e do aumento da poupança.
Neste campo, o BCE regista que o mercado do mercado imobiliário está “num mínimo desde a crise financeira global” e que “qualquer regresso aos níveis de atividade normais vai, provavelmente, levar a uma nova descida dos preços”.
A instituição europeia recomendou às autoridades para manterem os atuais requisitos de capital “com medidas apoiadas nos mutuários, para servir de apoio estrutural e garantir padrões de empréstimo sólidos em todas as fases do ciclo financeiro”.
De igual forma, o BCE apelou para um conjunto abrangente de medidas para aumentar a resiliência do setor dos intermediários financeiros não bancários, de modo a alcançar uma maior integração nos mercados de capitais.