Ministro da Defesa e Gouveia e Melo apanhados em ‘encontro secreto’ em Lisboa
Na noite de terça-feira, o discreto bar Cockpit, localizado na Avenida Sacadura Cabral, em Lisboa, foi palco de um encontro não-oficial entre o ministro da Defesa, Nuno Melo, e o almirante Henrique Gouveia e Melo, chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA).
Este encontro, realizado longe do radar público, surge num momento de grande expectativa quanto ao futuro do almirante, cujo mandato termina a 27 de dezembro, e numa altura em que se intensificam as especulações sobre uma eventual candidatura às presidenciais de 2025.
Segundo revelou o jornal online Página Um, que captou imagens do encontro entre os dois, Gouveia e Melo e Nuno Melo chegaram por volta das 22h45 desta terça-feira, mas sem a ‘pompa e circunstância’ habituais: O almirante foi de táxi e vestido com trajes civis, enquanto o ministro chegou num automóvel oficial, mas apenas acompanhado pelo motorista.
No momento informal, os dois mostraram cumplicidade, como ilustram as imagens captadas, que ‘apanharam’ o cumprimento caloroso entre os dois, momentos antes de subirem para uma zona reservada privada no primeiro piso do bar.
Esta reunião entre os dois ocorre numa semana decisiva para o futuro de Gouveia e Melo. Segundo fontes políticas citadas pelo Correio da Manhã, o Governo está a preparar uma proposta para que o almirante continue à frente da Marinha por mais dois anos, uma posição que o comprometeria com o cargo até dezembro de 2026, afastando-o das presidenciais. Em alternativa, caso o almirante recuse este plano, o Executivo poderá oferecer-lhe o cargo de chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), a ser assumido em março de 2026, quando terminar o mandato do general Nunes da Fonseca.
Para muitos observadores, esta movimentação estratégica tem como principal objetivo evitar que Gouveia e Melo avance para Belém, onde as sondagens o colocam como favorito nas eleições presidenciais. O próprio almirante, no entanto, parece manter todas as opções em aberto, não descartando uma possível candidatura – mas também não a confirmando.
A relativa ‘desconfiança’ de Gouveia e Melo em relação às propostas governamentais não é nova. Recorde-se que se verificou um bloqueio de três meses, em 2021, quando Marcelo Rebelo de Sousa adiou a sua nomeação como CEMA. Este episódio deixou marcas, e há quem veja com ceticismo qualquer solução patrocinada pelo Presidente da República.
O encontro também acontece num contexto de desafios crescentes para as Forças Armadas, incluindo o reforço da NATO e a modernização das forças navais. A incerteza quanto ao futuro do almirante reflete tensões mais amplas no seio da estrutura militar e na relação entre as lideranças política e militar.
Com o prazo legal para a decisão a aproximar-se rapidamente – até à próxima quarta-feira –, o desfecho deste impasse poderá ter implicações profundas tanto na liderança da Marinha como no panorama político nacional.