Rússia já tem ‘resposta pronta’ aos ATACMS da Ucrânia? Imagens de satélite mostram expansão de fábricas de mísseis de Putin

Numa altura em que a Ucrânia já teve a tão esperada ‘luz verde’ por parte dos EUA para usar os mísseis de longo alcance ATACMS em territórios russo, parece que Moscovo já tem vindo a preparar-se para responder a esta eventualidade. Imagens de satélite recentes revelaram significativas expansões em cinco complexos na Rússia dedicados à produção de motores de mísseis de combustível sólido. Segundo Fabian Hinz, investigador do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), estas alterações apontam para um aumento substancial na capacidade de produção de mísseis, numa medida que parece estar alinhada com os esforços do Kremlin para sustentar a sua campanha militar na Ucrânia.

As instalações em questão localizam-se na República de Altai, na Sibéria, em Rostov, no sul da Rússia, e nos arredores de Moscovo, São Petersburgo e Perm. As imagens de satélite captadas pela Maxar Technologies entre julho e outubro deste ano mostram extensas obras de construção ao lado de edifícios identificados como dedicados à investigação e produção de combustível sólido para mísseis.

Fabian Hinz, que utilizou relatórios da imprensa russa e documentos desclassificados da CIA sobre as instalações de produção soviéticas, explicou no blogue Military Balance Plus, do IISS, que estas expansões refletem a priorização da produção de motores de foguetes de combustível sólido no esforço bélico da Rússia.

“Estas imagens sugerem que a capacidade de produção de motores de foguetes de propelente sólido parece ser um dos focos desta iniciativa”, afirmou Hinz.

O Ministério da Defesa russo comentou ainda as alegações, enquanto um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, questionado pela Reuters, recusou confirmar se Washington estava ciente destas expansões, limitando-se a reiterar a intenção de aplicar novas sanções a entidades e instituições financeiras russas envolvidas na produção de material de defesa.

Desde o início da invasão da Ucrânia, em 2022, as forças russas dispararam mais de 9.600 mísseis, segundo o comandante-chefe das forças armadas ucranianas, citado em agosto deste ano. Este esforço militar extenuante levou a Rússia a procurar reabastecer os seus stocks de mísseis através de aliados como a Coreia do Norte e o Irão, mas as falhas recorrentes nos sistemas norte-coreanos reforçam a necessidade de produção interna, explicou Hinz.

Mísseis de combustível sólido, como os produzidos pela Rússia, oferecem vantagens no campo de batalha: são mais seguros, de armazenamento prolongado, prontos para lançamento imediato e exigem menos apoio logístico comparados aos de combustível líquido.

Análise especializada confirma tendências

Pavel Podvig, analista de defesa baseado em Genebra, também analisou as imagens e corroborou as conclusões de Hinz. “Produzir propelentes significa que é necessário utilizá-los de alguma forma. Isto sugere que a produção de mísseis vai aumentar”, comentou Podvig, acrescentando que não vê outra explicação para as ampliações em curso.

Apesar das evidências de maior produção, Podvig considera improvável que a Rússia esteja a aumentar a produção de mísseis estratégicos nucleares, cujas taxas de fabrico permanecem relativamente estáveis. Ainda assim, um diplomata russo afirmou em maio que Moscovo terá de reforçar o seu arsenal completo de mísseis devido ao confronto aberto com os Estados Unidos e seus aliados.

Hinz alerta que a Rússia enfrentará desafios significativos para concretizar os seus planos, especialmente devido às sanções ocidentais e ao controlo de exportações que dificultam o acesso a ferramentas de alta tecnologia e matérias-primas essenciais, como o perclorato de amónio.

Além disso, a escassez de mão de obra qualificada, agravada pela mobilização militar de 2022 e pela emigração em massa, é um problema crescente. “Há uma escassez de mão de obra em toda a economia russa”, sublinhou Hinz, mencionando que muitos trabalhadores mais jovens deixaram o país para evitar serem recrutados ou foram diretamente mobilizados para o exército.

Apesar destas dificuldades, a Rússia tem registado um crescimento económico robusto este ano, impulsionado em parte pela produção militar aumentada, segundo responsáveis estatais.

Com o aumento do orçamento de defesa para 6,3% do PIB em 2024, o mais elevado desde a Guerra Fria, as ações do Kremlin sublinham a prioridade dada à sua capacidade militar enquanto o conflito na Ucrânia continua.

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