Opositora de Lukashenko deixa aviso a Trump: “Não se podem reeducar nem apaziguar os ditadores”
Svetlana Tijanovskaya, a líder da oposição bielorrussa exilada, destacou em entrevista que as ditaduras não podem ser apaziguadas, alertando que tal abordagem “termina sempre mal”, num aviso que faz ao presidente-eleito dos EUA; Donald Trump. Concorrente às eleições presidenciais de 2020 contra Alexander Lukashenko, Tijanovskaya foi forçada a exilar-se após o pleito amplamente denunciado como fraudulento. Atualmente vive em Vilnius, capital da Lituânia, a cerca de 180 quilómetros da fronteira com a Bielorrússia, país que não pode visitar devido a uma sentença de 15 anos de prisão emitida contra si.
Tijanovskaya dirigiu críticas indiretas a Donald Trump, e apesar de expressar respeito pelo presidente-eleitos dos EUA, defendeu que “é fundamental que os EUA continuem com uma política firme contra as tiranias e a favor da democracia”. Quando questionada sobre o que diria a Trump frente a frente, foi direta, em entrevista ao El Mundo “Aos ditadores não se pode reeducar, não se pode apaziguar. A democracia tem de mostrar os dentes e demonstrar que tem ferramentas para combater.” Para Tijanovskaya, a unidade e a firmeza do mundo democrático são cruciais para enfrentar regimes autoritários.
A líder opositora sublinhou que a guerra na Ucrânia e a liberdade da Bielorrússia estão interligadas. “Se deixarmos a Bielorrússia como um prémio de consolação para Putin, será uma ameaça constante para a segurança de toda a região”, afirmou, sublinhando a importância de derrotar pelo menos um ditador brutal para enfraquecer outros regimes autoritários.
Com novas eleições presidenciais marcadas para janeiro de 2025 na Bielorrússia, Tijanovskaya não tem ilusões sobre o desfecho. “O que vocês chamam de eleições nos vossos países democráticos não tem nada a ver com as ‘eleições’ na Bielorrússia. É uma farsa, um circo, um ritual”, afirmou. Denunciou ainda que o regime de Lukashenko reprime sistematicamente a sociedade civil, prende opositores e impede qualquer forma de oposição livre. Segundo a líder, essas “eleições” não resolverão a crise política e humanitária que o país enfrenta, reiterando que apenas um processo verdadeiramente democrático trará mudanças reais.
“Será como a reeleição de Lukashenko por Lukashenko. Não mudará nada”, lamentou Tijanovskaya, que continua a reivindicar a vitória nas eleições de 2020. “É difícil ser otimista num país onde o ditador tomou milhares de prisioneiros políticos como reféns, muitos deles incomunicáveis.”
Tijanovskaya entrou na política em 2020 como substituta do seu marido, Serhei Tijanovski, que foi preso durante a campanha eleitoral e condenado a 18 anos de prisão. Desde março de 2023, ela não tem qualquer notícia dele. “Não ouvi uma palavra do meu marido, nem sequer uma resposta às cartas dos nossos filhos. Não sei como está fisicamente. É uma carga enorme para os familiares dos presos políticos”, desabafou.
Mesmo diante dessa adversidade, Tijanovskaya mantém a esperança viva para os seus filhos. “Digo à minha filha: vamos acreditar que o pai está vivo e que voltará para nós. Mas não é fácil dizer isso”, confidenciou.
O poder de Lukashenko, segundo Tijanovskaya, sustenta-se em três pilares: dinheiro, repressão e o apoio de Vladimir Putin. “Se um desses pilares for removido, todo o sistema colapsará”, previu. Apesar de reconhecer os desafios, continua a lutar pelo que considera ser o futuro democrático da Bielorrússia, mesmo a partir do exílio.
Tijanovskaya conclui com uma mensagem para o mundo democrático: “A democracia precisa de ser respeitada, e isso só acontece quando mostramos força e determinação contra os ditadores.”