Quatro mil mineiros ilegais estão presos em mina na África do Sul. Autoridades bloqueiam fornecimento de mantimentos

Cerca de quatro mil mineiros ilegais permanecem presos numa mina abandonada em Stilfontein, na província de North West, África do Sul. Privados de comida e água há semanas, enfrentam condições precárias após as autoridades sul-africanas bloquearem deliberadamente o fornecimento de mantimentos básicos numa tentativa de forçar a sua rendição.

A operação, apelidada de “Fechar o Buraco”, consiste em cortar os abastecimentos essenciais para obrigar os mineiros ilegais, conhecidos localmente como zama zamas, a emergir e enfrentar detenção. Até agora, mais de 1.100 mineiros foram capturados nesta mina.

A Ministra da Presidência, Khumbudzo Ntshavheni, afirmou na quarta-feira que o governo não intervirá para ajudar os mineiros presos. “Não estamos a enviar ajuda aos criminosos. Vamos expulsá-los. Eles vão sair. Os criminosos não devem ser ajudados; devem ser processados. Nós não os mandámos para lá”, declarou Ntshavheni, adotando uma posição firme contra o que classificou como “atos de criminalidade”.

Os mineiros ilegais, que podem permanecer meses no subsolo em busca de ouro, enfrentam agora fome, desidratação e exposição a poeiras tóxicas. David Van Wyk, investigador principal da Benchmarks Foundation, uma organização que monitora a responsabilidade social corporativa na mineração, alertou, em declarações à CNN Internacional que “eles estão a passar fome, a desidratar e a respirar poeiras tóxicas. Quando emergirem, estarão fracos e muito doentes.”

Relatos apontam para a presença de pelo menos um corpo em decomposição trazido à superfície, sinalizando o agravamento da situação. “Mais mineiros podem morrer se não receberem medicação e água para se sustentarem”, alertou Emily Photsoa, residente da comunidade local.

Causas da mineração ilegal
A prática de mineração ilegal na África do Sul é facilitada por milhares de minas abandonadas, que permanecem abertas, contrariando a legislação que exige o seu encerramento e reabilitação. “Temos cerca de 6.000 minas abandonadas no país. As grandes empresas violam a lei ao não fecharem e reabilitarem estas minas”, denunciou Van Wyk.

A Federação dos Sindicatos da África do Sul (SAFTU) atribui parte da responsabilidade ao governo, acusando-o de negligenciar a regulação do setor mineiro. Segundo a organização, a mineração artesanal, principal atividade dos zama zamas, é alimentada pela pobreza e pelo desemprego generalizado. “Enquanto estas condições persistirem, as pessoas continuarão a arriscar as suas vidas para colocar comida na mesa”, alertou Meshack Mbangula, coordenador nacional do grupo comunitário Mining Affected Communities United in Action (MACUA). O responsáve defendeu ainda a legalização da mineração artesanal como uma solução para reduzir a pobreza e o crime.

A mineração ilegal na África do Sul gera perdas superiores a mil milhões de dólares anuais e alimenta o mercado negro de ouro, fomentando guerras territoriais violentas, conforme indicado por um relatório parlamentar. Os zama zamas, frequentemente provenientes de países vizinhos, operam em condições controladas por sindicatos do crime organizado e enfrentam constantes ameaças de violência.

O que pode acontecer a seguir?
A polícia e as forças de defesa continuam a monitorizar a mina, mas o governo insiste que não recuará na sua estratégia. Mametlwe Sebei, líder do General Industries Workers Union of South Africa, criticou duramente a abordagem oficial, considerando-a desumana e insensível às necessidades básicas dos mineiros. “Essa abordagem está a criminalizar pessoas desesperadas e empurradas para esta situação pela pobreza e pela exclusão social”, afirmou.

Enquanto a tensão persiste, familiares dos mineiros reuniram-se nas imediações da mina, apelando por ajuda e manifestando preocupação com os entes queridos ainda no subsolo. “Estamos aqui pelos nossos irmãos e irmãs. O meu marido está lá há oito meses”, disse Ntomboxolo Qwanti à AFP.

O desfecho da crise em Stilfontein permanece incerto, mas a urgência em encontrar uma solução humanitária e sustentável para a mineração ilegal é cada vez mais evidente.

Ler Mais





Comentários
Loading...