Tecnologia, retenção de talentos, modelos de negócio e Governance: Quais as barreiras (e oportunidades) para garantir investimento em Portugal?
Na segunda parte da XXVII Conferência Executive Digest, na Culturgest, teve lugar a mesa-debate subordinada ao tema
“Como fazer Portugal crescer mais? O que falta? Onde apostar? Que barreiras derrubar?”, e que contou com Guilherme Durão Barroso, Head of Financial Services, da Capgemini, Luís Drummond Borges, Administrador da Lusíadas Saúde, Miguel Abecasis, administrador da Fidelidade e Raul Neto, Diretor-geral da Randstad Portugal.
Ricardo Florêncio, CEO do Multipublicações Media Group e moderador da sessão, começou por perguntar quais as razões que explicam o fraco crescimento económico verificado nos últimos 10 anos, e soluções para contrariar este ‘atraso’.
Guilherme Durão Barrosos afirmou que “o tema fiscal é essencial” e é uma das “principais barreiras ao investimento externo”. “Este investimento muitas vezes traz inovação, e não havendo uma adaptação rápida, será muito complicado as empresas adaptarem-se e sobreviver”. “Há outro fator importante que é voltarmos a olhar para dentro”, no sentido em que é necessário regressar a um foco na exportação, e nas necessidades das empresas portuguesas”, afirmou o responsável da Capgemini.
Na mesma nota da inovação, Miguel Abecasis, administrador da Fidelidade, referiu que “sente falta de termos de uma visão, um posicionamento” governamental, que contribui para “uma visão do todo muito pobre”. “Temos muita dificuldade em Portugal na direção da nossa política económica do que vamos ou não vamos fazer”, resumiu.
O responsável da Fidelidade referiu o peso do turismo no PIB “não o queremos minguar, mas sim diluir o seu peso”. “Porque não havemos de ser o Silicon Valley da Europa?”, questionou, apontando que há esforços muito dispersos entre autarquias, e não existe uma visão única para o País. “Estamos todos preocupados com as tensões geopolíticas: para alguns isto abre possibilidades, especialmente para países que não entram neste jogo de tensões”.
Raul Neto, Diretor-geral da Randstad Portugal, foi questionado sobre se há falta de pessoas ou de competências, e como articular estas sensibilidades. “Obviamente que há falta de pessoas. Temos um desemprego estrutural, o número de empregos continua a crescer… Há falta de talento. E adicionalmente há um desfasamento entre necessidades desse talento e do que está disponível para trabalhar”, afirmou, recordando a já referida necessidade de maior foco no ensino técnico.
Outra dimensão que referiu “tem a ver com os fatores de atração do talento”, nomeadamente salários, mas mais do que isso modelos organizacionais, criação de ambientes apropriados nas organizações e os seus valores, atenção à sustentabilidade.
Por seu lado Luís Drummond Borges, Administrador da Lusíadas Saúde, quando questionado sobre os problemas na área da saúde, afirmou que “é um grande desafio”. “Tem um problema que é não poder estar politizada em termos de instrumentos de médio-longo prazo”, assinalou. “Não há nada muito rápido para se fazer que melhore o SNS em curto prazo”, avisou o orador, denunciado os processos de “distorção” que se têm verificado em sucessivos governos. “Não podem haver estas ULS tão dispersas, que criam competitividade de captação de recursos”, continuou, assinalando que “o grande risco é a Governance” e que a acessibilidade é ainda um desafio.
Miguel Abecasis, apontou um tipo de modelo de negócio que podia ser seguido, afim de contribuir para um avanço e maior crescimento da economia nacional. “É preciso trabalhar bem como vamos para o mercado, e o que temos de ter para materializar esta abordagem. Temos um problema gravíssimo sobre estrutura empresarial: um mix mau entre pequenas, médias e grandes empresas”, assinalou.
“O papel do Estado é criar condições” para que surjam clusters em vários setores, para que se possa lançar empresas nacionais “noutros palcos competitivos”, segundo referiu o responsável da Fidelidade. Foram ainda indicados os obstáculos que se colocam à efetivação das possibilidades trazidas pela Inteligência Artificial (IA) nas empresas.
Guilherme Durão Barroso recordou as palavras de Paulo Macedo na conferência para afirmar que “as grandes empresas tem os ‘legacy-systems’ que implicam processos demorados, em despedimentos e outros aspetos, mas que existe um potencial enorme de agilização, especialmente nas médias empresas”, que podem ser as “próximas campeãs, com grande impacto na nossa economia”, mas que vão passando despercebidas (ainda). “A banca de investimento tem de voltar. Não existe uma economia saudável e a crescer sem uma boa banca”, defendeu. “As empresas deviam estar a gastar todos os euros disponíveis em investimento em tecnologia e inovação”, resumiu.
Sobre a IA como solução para os problemas na saúde, Luís Drummond Borges, Administrador da Lusíadas Saúde, referiu o upskiling de funções (de enfermeiros e auxiliares), uma lógica de utilização de regras (que atualmente estão destruturadas), e um posicionamento de competição com os maiores players do mercado.
O dinheiro continua a ser factor essencial para retenção de talento? Raul Neto, Diretor-geral da Randstad Portugal, indicou que o “salário e benefícios continua a ser o aspeto mais valorizado, por 73% das pessoas”. “Continua a ser o mais importante, mas nas novas gerações já não é só isso. O desafio é como aumentar salários sem a produtividade não ter aumentado, e entramos num ciclo onde é difícil perceber onde mexer. Não acredito num modelo único, depende de cada organização e de cada setor. Temos sobretudo de olhar para isto de uma forma integrada: para conseguirmos promover este aumento salarial desejado, temos de investir em ter mão-de-obra qualificada, e ajustada às realidades”.
O administrador da Fidelidade Miguel Abecasis, continuou a ideia, referindo a necessidade de um “desprendimento” da classe política sobre o pensamento de onde se quer colocar o país nas próximas décadas, e “estando aí, será reconhecido porquê?”. “Não pode ser uma escolha agnóstica e cega, equilibrada entre potencial e capacidade/veleidade de aspirar a ser player relevante nos clusters mapeados”, alertou.
Guilherme Durão Barroso considerou ainda que “na industria portuguesa não existe uma liquidez no mercado par investimento, existem processos que funcionam bem, mas são insuficientes”, no sentido de inovação e captação de talento. “Com a carga fiscal que temos, porque não olhar para isso como uma forma de trazer de volta dinheiro para a nossa economia, e pôr o dinheiro a circular nas empresas”.
O Administrador da Lusíadas Saúde falou ainda a barreiras ao investimento em Portugal, referindo que “nos hospitais são elevadíssimas”. “Nós para abrir um hospital temos que ter aprovação das antigas ARS, ANEPC, que pode demorar dois meses, ANAC, Património, DGEG, APA,…”, referiu Luís Drummond Borges, para ilustrar os desafios que se enfrenta.
Finalmente Raul Neto, Diretor-geral da Randstad Portugal, falou de como a estrutura demográfica impactará inevitavelmente o desempenho económico de Portugal. “è o desajustamento das necessidades e o que temos, hoje, na nossa realidade. Há quatro grandes dimensões: a população envelhecida, baixa natalidade, desequilíbrio regional e migração (de talentos jovens). Mas há oportunidades e temos de requalificar o que existe no mercado de trabalho”.
A XXVII Conferência Executive Digest juntou em palco os nomes mais relevantes do tecido empresarial nacional para debater o tema “É Agora Portugal!!! 12 ideias para melhorar o País”. A Conferência conta com o apoio da Altice, Capgemini, Caixa Geral de Depósitos, Delta Q, Fidelidade, Lusíadas Saúde, Randstad, MC Sonae, Tabaqueira, Unilever, e ainda com a parceria da Capital MC, Neurónio Criativo e Sapo.