“Assustadoras”: escolhas de Trump geram extrema inquietação na Europa
A União Europeia ganhou algum ânimo com Donald Trump conforme este anunciou a escolha do republicano da Flórida, Marco Rubio, para ser o principal diplomata dos Estados Unidos. Mas essa sensação não durou…
As escolhas subsequentes do recém-eleito presidente americano – casos do apresentador da ‘Fox News’, Pete Hegseth, para secretário da Defesa e Tulsi Gabbarb como diretora da inteligência nacional – fizeram crescer os receios de que a Europa precisa de se preparar para o pior e estar pronta para intervir sem o seu tradicional aliado da NATO num mundo dilacerado por conflitos estratégicos.
Sobretudo Gabbard, uma ex-congressista conhecida por amplificar teorias da conspiração, de se ter encontrado com o líder sírio Bashar Assad e ter abraçado o presidente russo Vladimir Putin, foi vista como uma escolha particularmente surpreendente. “Isso é realmente assustador”, garantiu Nathalie Loiseau, ex-ministra francesa para a Europa no Governo do presidente Emmanuel Macron e agora eurodeputada, citada pelo jornal ‘POLITICO’. “O tempo de contenção europeia e a esperança de que os EUA nos protegeriam acabou”, sustentou Marie-Agnes Strack-Zimmermann, a alemã que chefia a Subcomissão de Segurança e Defesa do Parlamento Europeu.
Também Marek Magierowski, o ex-embaixador polaco em Washington DC, lembrou como, três dias após a invasão da Ucrânia pela Rússia, Gabbard pediu aos líderes da Rússia, Ucrânia e EUA que “abraçassem o espírito de aloha” e concordassem em tornar a Ucrânia um país neutro. “Como ela se torna a chefe de toda a comunidade de inteligência dos EUA, este é um sinal muito perturbador, com certeza”, defendeu, num comentário na televisão polaca.
A escolha de Marco Rubio mereceu uma reação cautelosamente otimista, com diplomatas, especialistas e autoridades europeias, do Reino Unido e Israel a observar que ele era um especialista experiente em política externa, que apoiava a NATO, era duro com o Irão e queria defender Taiwan contra qualquer invasão chinesa. Michael Waltz, o ex-militar escolhido como conselheiro de segurança nacional, também foi visto como uma escolha segura. Segundo o analista de política externa Ulrich Speck, a reação inicial foi um “grande alívio”. No entanto, um diplomata europeu esclareceu o ‘alívio’: “Eles são um pouco menos terríveis do que os outros.”
Mas depois da nomeação de Gabbard e Hegseth, a confusão ganhou todo um outro nível. “Não tenho certeza se é realmente possível fazer previsões sensatas sobre a direção desta administração com base nas escolhas da equipa”, garantiu um outro diplomata europeu. A grande questão é o que dizem estas nomeações sobre a abordagem de Trump ao poder. “O que está claro é que não haverá nenhum contrapeso a Trump”, referiu o especialista. “Eles devem-lhe tudo.”
As autoridades e diplomatas da UE notaram que Trump tinha o hábito de deixar de lado funcionários do gabinete e até mesmo agências de inteligência dos EUA quando procurou acordos diretos com autocratas como Putin ou Xi Jinping, da China, e estavam céticos de que alguém pudesse realmente moderar os seus instintos. “Sabemos desde a primeira iteração da presidência de Trump o quão imprevisíveis as políticas podem ser”, sustentou. “Mesmo que Rubio e Waltz adotassem uma abordagem mais moderada em relação à Ucrânia, isso não isenta a UE do dever de se preparar para fazer mais.”