Putin corta nos pagamentos e compensações aos soldados russos perante perdas e custos da guerra na Ucrânia
O governo russo anunciou novas medidas para reduzir os pagamentos aos soldados feridos na guerra da Ucrânia, em consequência do peso crescente dos custos de uma campanha militar prolongada e o aumento significativo de baixas. Um decreto assinado por Vladimir Putin na quarta-feira introduziu limites aos valores das compensações por ferimentos, afetando diretamente os militares que sofrem lesões menos graves.
De acordo com o novo decreto, apenas os soldados que sofrerem ferimentos classificados como “Secção I” – lesões consideradas graves o suficiente para ameaçar a vida ou causar danos significativos a órgãos vitais, como fraturas graves na coluna, danos cerebrais, fraturas de costelas e membros partidos – continuarão a receber o valor completo de 3 milhões de rublos (aproximadamente 30 mil dólares). Até então, qualquer ferido em combate tinha direito a essa compensação máxima.
Para aqueles que sofrem ferimentos menos graves, classificados como “Secção II”, o pagamento será reduzido, variando entre 1 milhão de rublos (10 mil dólares) e 100 mil rublos (1 mil dólares). Ferimentos temporários, como concussões, fraturas menores e feridas de bala que não afetam órgãos vitais, enquadram-se nesta categoria de menor compensação.
A decisão de modificar os critérios para compensações surgiu após a vice-ministra da Defesa russa, Anna Tsivileva, levantar a questão sobre a necessidade de ajustar os pagamentos conforme a gravidade das lesões. Segundo o jornal russo RBC, Tsivileva argumentou que o sistema anterior não levava em conta a seriedade dos ferimentos, defendendo a introdução de uma escala variável de compensações.
As compensações para as famílias dos soldados mortos permanecem inalteradas. Uma legislação implementada no início do conflito, em março de 2022, continua a garantir uma compensação de 7,4 milhões de rublos (aproximadamente 75 mil dólares) para as famílias dos militares falecidos.
Impacto económico da guerra coloca pressão no orçamento russo
Estimativas divulgadas em julho por pesquisadores norte-americanos indicam que a guerra já gerou um encargo financeiro significativo ao Kremlin. Em um artigo para o site War on the Rocks, Thomas Lattanzio, da Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, e Harry Stevens, do Centro para o Interesse Nacional, estimaram que os custos com baixas militares somavam 2,3 trilhões de rublos (26 mil milhões de dólares) até maio de 2024, representando cerca de 6% do orçamento total da Rússia para o ano.
As baixas russas na Ucrânia continuam a aumentar, particularmente na região de Donetsk, onde os avanços russos, embora incrementais, têm sido acompanhados por pesadas perdas humanas. Na última quinta-feira, o Ministério da Defesa da Ucrânia relatou 1.690 baixas russas em um único dia, elevando a estimativa total de mortos e feridos russos, segundo dados ucranianos, para cerca de 716.070 desde o início do conflito. No entanto, estas cifras variam, e ambos os lados evitam divulgar números exatos de perdas.
A elevada taxa de baixas levanta questões sobre os próximos passos do Kremlin para suprir a escassez de tropas, numa altura em que a Rússia enfrenta uma diminuição da força de trabalho e a possibilidade de descontentamento popular com novas ordens de mobilização.
Para enfrentar as dificuldades em atrair novos recrutas, algumas regiões russas estão a recorrer aos orçamentos de assistência social para oferecer bónus de alistamento, revelou esta semana uma investigação do meio de comunicação independente iStories. Em algumas regiões, até metade dos fundos de apoio social – normalmente destinados a órfãos, famílias numerosas, pessoas com deficiência e outros grupos vulneráveis – estão a ser redirecionados para atrair novos soldados, uma medida que pode gerar controvérsia e descontentamento entre a população.
Com a guerra na Ucrânia a pressionar o orçamento e o Kremlin a rever os custos, a Rússia enfrenta agora desafios significativos para equilibrar os gastos militares com a manutenção de políticas de apoio social, num contexto de incerteza e aumento da tensão interna.