Chega já prepara deputados para serem candidatos às autárquicas. Rosto para Lisboa ainda é incógnita (mas não será Ventura)
André Ventura, líder do Chega, orientou os deputados do partido a estarem disponíveis para as eleições autárquicas em 2025, ambicionando uma presença consolidada em câmaras e assembleias municipais por todo o país. O objetivo segundo avança o Observador é capitalizar a força política que o partido atingiu a nível nacional, com Ventura a destacar a necessidade de um Chega fortalecido no plano local. No entanto, permanece a incógnita de quem liderará a candidatura em Lisboa, com Ventura a ponderar soluções, mas deixando claro que a sua própria candidatura à capital será considerada apenas como última opção.
Ventura mostrou-se determinado a corrigir falhas de casting passadas que comprometeram o partido em algumas autarquias, como a candidatura mal-sucedida de Nuno Graciano em Lisboa, em 2021, e outros casos de alinhamento inesperado com partidos adversários ou até de abandono de cargos. Desta vez, Ventura quer garantir que os candidatos escolhidos têm lealdade e estão alinhados com a visão do partido, com o objetivo de colocar o Chega em confronto direto com os grandes partidos. “Não queremos os problemas que tivemos no passado, mas estamos agora mais preparados,” afirmou Carlos Magno Magalhães, membro da Comissão Autárquica Nacional do Chega ao mesmo jornal, sublinhando a importância de evitar novos erros de casting.
O responsável do partido destacou ainda que “70% dos candidatos já foram aprovados”, num processo que começou a nível local e passou por validação da direção do partido. A prioridade, segundo o dirigente, é assegurar que os candidatos são conhecidos e respeitados nas suas localidades, com foco na fidelidade ao partido e ao eleitorado.
Lisboa como desafio estratégico
Lisboa é considerada uma prioridade por Ventura, que pretende corrigir a falta de representação autárquica na capital, onde o Chega não conseguiu eleger um único vereador nas últimas eleições. A possibilidade de o próprio Ventura liderar a candidatura está a ser ponderada, embora seja uma opção que ele considera apenas em último caso, caso nenhum outro candidato de perfil elevado surja. Este silêncio estratégico visa manter o suspense e a flexibilidade na decisão final.
Uma das preocupações é a ameaça de uma coligação de esquerda que possa desafiar a atual gestão de Carlos Moedas na Câmara de Lisboa, o que intensificaria ainda mais a corrida eleitoral. Caso uma coligação de esquerda avance, a eleição poderá tornar-se um confronto polarizado, colocando uma pressão adicional na escolha de um candidato forte.
Ventura estabeleceu a meta de ter cerca de 30 dos 50 deputados do Chega em candidaturas autárquicas, com a maioria assumindo o papel de cabeças de lista nas suas respetivas áreas. Bruno Nunes, deputado e atual vereador em Loures, declarou: “É lógico que os deputados se cheguem à frente. Não podemos estar apenas à espera de ir a eleições quando é o presidente do partido.” Esta linha de pensamento reflete uma estratégia de visibilidade e de criação de uma ligação forte com o eleitorado, aproveitando a notoriedade dos deputados, que são rostos reconhecidos.
A decisão de avançar com deputados como candidatos levanta algumas preocupações internas, sobretudo pela dificuldade em conciliar as responsabilidades parlamentares com os deveres autárquicos. Caso um deputado seja eleito presidente de uma câmara, terá de renunciar ao mandato na Assembleia da República, explicou uma fonte do partido. No entanto, se eleitos como vereadores sem pelouros, será mais fácil de gerir, assegurando que o partido mantém a sua representação.
Aposta em distritos estratégicos
Ventura anunciou uma aposta especial em distritos como Lisboa, Setúbal, Alentejo e Algarve, com foco em capitais de distrito e em localidades do interior. No entanto, fontes do partido alertam que as perspetivas mais realistas apontam para o Algarve como o local onde o Chega tem maiores hipóteses de conquistar uma câmara, sendo a região onde o partido obteve os melhores resultados nas legislativas.
O dirigente Carlos Magno Magalhães sublinhou que o Chega quer conquistar uma base de apoio nas localidades onde tenha fortes hipóteses, sem recorrer a alianças pré-eleitorais, exceto com movimentos independentes ou de cariz local que partilhem ideais semelhantes aos do partido. A estratégia passa por consolidar a presença autárquica e criar um impacto duradouro que reflita a força alcançada no Parlamento.
Com o histórico de desfiliações e de dificuldades em manter representantes autárquicos, o partido aposta numa análise rigorosa dos candidatos para evitar surpresas indesejadas. Um exemplo disso é o caso de uma vereadora em Moura, que, segundo Magalhães, “acabou por ser aliciada pelo PS com um cargo e deixou o partido.” Ventura estabeleceu a lealdade como um critério fundamental, procurando candidatos que sejam dedicados ao Chega e não vacilem em momentos de pressão.
Entre os poucos deputados que comentaram publicamente sobre as autárquicas, Rita Matias confirmou que não será candidata a Lisboa, afirmando que “Ventura terá outros nomes mais interessantes” e que o seu foco permanece em Setúbal. Pedro Santos Frazão, que foi candidato em Santarém, também mostrou abertura para concorrer noutra localidade, apesar de recusar a recandidatura ao mesmo município.
Em última análise, a estratégia de Ventura para as autárquicas tem como objetivo cimentar o estatuto do Chega enquanto terceira força política, com uma presença forte nas autarquias que sirva de trampolim para futuras campanhas nacionais. Para o partido, as próximas autárquicas representam uma oportunidade crucial para consolidar a sua posição e demonstrar que está preparado para competir com PS e PSD, mesmo no campo local, onde os desafios são numerosos e as apostas altas.