Dia Nacional das Conservas de Peixe: Conheça a história e os mitos que têm a ‘lata’ de nos contar
No século XVIII, surgiu uma necessidade crucial de conservar alimentos, especialmente para exércitos e marinheiros que enfrentavam longas jornadas oceânicas. Os métodos tradicionais, como a salga de carne e peixe, tinham limitações no tempo de conservação e comprometiam o sabor e a saúde.
Nicolas Appert, um pasteleiro francês, revolucionou essa área ao criar um método de conservação em frascos de vidro hermeticamente fechados, que eram fervidos para eliminar microrganismos. A sua técnica, adoptada pela Marinha francesa, tornou-se amplamente conhecida após ser publicada em livro, graças ao incentivo financeiro do governo de Napoleão. Este avanço inspirou outros, como Philippe de Girard, que substituiu os frascos de vidro por latas de folha-de-flandres, marcando o início da produção industrial de conservas.
A evolução das conservas continuou com a abertura da primeira fábrica de conservas de lata por Bryan Donkin em 1813, conquistando a elite britânica e tornando-se fornecedor da Marinha. Este progresso espalhou-se pela Europa e América, chegando a Portugal, onde Sebastián Ramirez fundou a primeira fábrica de conservas de peixe em 1853, a fábrica Ramirez, que continua em operação e se destaca como a mais antiga do mundo.
Com o tempo, surgiram outras inovações, como o abre-latas na década de 1850 e, mais tarde, a lata de abertura fácil desenvolvida por Manuel Guerreiro Ramirez nos anos 1970, que transformou o mercado de conservas, tornando-o mais prático e acessível.
A longa história das conservas trouxe consigo também vários mitos associados aos produtos enlatados:
- As conservas não são saudáveis?
Totalmente falso. Estudos comprovam que as conservas mantêm quase os mesmos nutrientes dos alimentos frescos, como proteínas, hidratos de carbono e vitaminas. Aliás, alguns alimentos, como o tomate, até têm aumento de nutrientes com a esterilização, como o licopeno, um antioxidante natural. - As conservas contêm sempre aditivos alimentares?
Não é verdade. Muitas conservas não necessitam de conservantes, pois a esterilização elimina microrganismos e a selagem hermética impede a deterioração do produto. - Todos os aditivos são artificiais?
Outro mito. Alguns aditivos são naturais e provenientes de plantas, animais ou minerais, sendo a indústria cada vez mais adepta de opções orgânicas. - As conservas não podem durar sem aditivos?
Falso. O tratamento térmico durante a esterilização, que elimina quase todos os microrganismos, garante a durabilidade das conservas por longos períodos, sem necessidade de refrigeração. - Os aditivos são prejudiciais à saúde?
A realidade é que, quando consumidos em quantidades controladas, os aditivos são seguros. Todos os aditivos aprovados na União Europeia têm como base estudos científicos que garantem sua segurança. - Conservas não devem fazer parte da dieta?
As conservas podem, sim, ser incluídas na alimentação, desde que consumidas com moderação. Nutricionistas afirmam que uma dieta equilibrada pode muito bem incluir conservas, especialmente quando se precisa de uma opção prática e saudável. - Comer conservas gourmet pode causar botulismo?
Falso. O botulismo é raro e ocorre principalmente em conservas caseiras feitas sem os devidos cuidados. As conservas gourmet seguem rigorosos processos de esterilização que garantem a segurança alimentar. - As conservas artesanais não são seguras?
Errado. As conservas artesanais produzidas por pequenos produtores devem ser esterilizadas ou pasteurizadas de forma profissional, o que garante que são tão seguras quanto as produzidas em larga escala. - Data de consumo preferencial é igual a data de validade?
Não. A data de consumo preferencial indica quando o alimento pode perder algumas de suas propriedades, mas não representa um risco para a saúde. Já a data de validade, sim, é para produtos altamente perecíveis. - Se o recipiente de uma conserva estiver danificado, não deve ser consumida?
Nem sempre. Pequenas amolgadelas não afetam a segurança do produto. Porém, se o recipiente estiver perfurado ou inchado, deve-se descartar o produto, pois isso pode indicar a entrada de oxigénio e a deterioração do alimento. - As latas de conserva contêm chumbo?
Antigamente, sim. Hoje, porém, as latas são feitas de aço ou alumínio, sem chumbo, e revestidas com materiais seguros que mantêm o sabor e a qualidade dos alimentos. - Após abertas, as conservas devem ser transferidas para outro recipiente?
Embora as latas modernas de alumínio possam ser reutilizadas, recomenda-se transferir o conteúdo para outro recipiente se não puder ser selado novamente. Algumas latas já vêm com tampas plásticas para garantir a conservação do produto após aberto.