Conselheiro de saúde de Trump ameaça despedir especialistas de agências federais
Robert F. Kennedy Jr. – um dos conselheiros de saúde do Presidente eleito dos EUA Donald Trump – tem intensificado as críticas à Food and Drug Administration (FDA), declarando a intenção de demitir especialistas da agência que poderá vir a supervisionar.
Ainda não se sabe qual a extensão da influência de Kennedy no próximo Governo de Trump, mas várias fontes citadas pelos meios de comunicação social norte-americanos sugerem que ele poderá vir a atuar como um “czar” da Casa Branca para as políticas de saúde.
Na reta final de campanha, depois de Kennedy ter abandonado a corrida presidencial como independente a favor de Trump, o Presidente eleito começou a elogiar as suas competências na área da saúde e deu a entender que lhe iria entregar a pasta de supervisão da FDA, com total liberdade para tomar todas as decisões.
“Vai com toda a força na saúde” (‘go wild on health’)”, aconselhou Trump a Kennedy, num dos comícios, depois de assumir que o poderá vir a nomear para a liderança da FDA ou do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC).
Horas depois de ouvir este incentivo e na véspera das eleições, Kennedy usou a rede social X para difundir uma mensagem em que ameaçava despedir especialistas da FDA – uma poderosa agência federal para a alimentação e os medicamentos – por estarem a “promover uma guerra contra a saúde pública”.
“Se trabalham para a FDA e fazem parte deste sistema corrupto, tenho duas mensagens para vocês: guardem os vossos registos; façam as malas”, escreveu Kennedy.
Na mesma mensagem, vista por mais de seis milhões de utilizadores da rede social, Kennedy alega que a FDA “suprimiu agressivamente” uma série de produtos, incluindo a invemectina, leite cru e vitaminas, bem como terapias que envolvem células estaminais, prejudicando a saúde pública com essa decisão.
De acordo com a FDA, o consumo de leite cru é considerado arriscado, por estar associado a doenças provocadas por bactérias que podem causar insuficiência renal, podendo provocar a morte, mas Kennedy considera essa decisão mal fundamentada.
Contudo, em declarações ao jornal The New York Times, Georges Benjamin, diretor da Associação Americana de Saúde Pública, afirmou que promover o consumo de leite cru é “provavelmente uma má ideia” no meio de um surto de gripe aviária, por exemplo, pelo que este tipo de postura pode ser perigosa, como condição de atuação da FDA.
Os antecedentes de Kennedy em matéria de saúde pública também não sossegam muitos especialistas e dirigentes de agências sanitárias, que lembram o facto de o ex-candidato presidencial ter feito campanha com bandeiras políticas como a crítica às vacinas, promovendo teorias que associam a vacinação a condições como o autismo, apesar do consenso científico que refuta essas alegações.
A vice-Presidente e candidata democrata derrotada, Kamala Harris, usou os seus comícios de campanha para dizer que um cético das vacinas deveria ser “a última pessoa” para definir políticas para famílias e crianças.
Contudo, em entrevistas recentes, Kennedy já respondeu que não pretende “tirar as vacinas a ninguém”, prometendo apenas que, se vier a ter responsabilidade nesta área, iniciará de imediato estudos sobre a segurança e eficácia desse tipo de prevenção.
Kennedy também já expressou preocupações sobre a fluoretação da água (remover o flúor da água potável), considerando que pode ser prejudicial para a saúde, mais uma vez em choque com recomendações atuais das agências federais de saúde pública.
Em sentido inverso, o potencial ‘czar’ da Casa Branca para a saúde pública tem elogiado os benefícios da quelação, uma terapia aprovada para remover metais pesado do sangue, mas longe de ser consensual para tratar o autismo, como propõe Kennedy.
Perante estas posições, nos últimos dias, os ‘media’ norte-americanos têm divulgado declarações de especialistas que revelam preocupação de que a influência de Kennedy possa aumentar a hesitação vacinal e direcionar recursos das agências para apoiar visões controversas.
Esses especialistas acreditam que – embora existam salvaguardas institucionais nas agências federais que impedem mudanças radicais, como a retirada de vacinas do mercado – a influência de Kennedy pode ser significativa.
Entre os vários exemplos desses riscos, apontam a possibilidade de Kennedy nomear figuras céticas em relação às vacinas para comités consultivos importantes no CDC, direcionar recursos para pesquisas científicas alinhadas com as suas opiniões ou reduzir o financiamento de atividades e investigações com as quais não concorda.