Médica russa é condenada a quase seis anos de prisão após denúncia pública
Um tribunal russo condenou esta terça-feira uma pediatra de Moscovo a cinco anos e meio de prisão numa colónia penal, de acordo com os media russos, depois de a mãe de um dos seus pacientes o ter denunciado publicamente pelos seus comentários sobre soldados russos na Ucrânia.
Na semana passada, os procuradores judiciais havia pedido uma sentença de seis anos para Nadezhda Buyanova por espalhar “mentiras” sobre o exército russo, depois de uma mãe ter gravado um vídeo através do qual denunciou a médica de 68 anos por comentários que Buyanova negou ter feito.
Mais de 1.000 pessoas foram processadas criminalmente na Rússia por se manifestarem contra a guerra, de acordo com o projeto de direitos humanos OVD-Info, e mais de 20.000 foram detidas por protestar.
O caso de Buyanova faz parte de uma tendência na Rússia em que cada vez mais pessoas denunciam outras por alegados crimes políticos: desde fevereiro de 2022, o OVD-Info registou 21 desses processos criminais.
Eva Levenberg, advogada do grupo de direitos humanos, indicou à agência ‘Reuters’ que outras 175 pessoas enfrentaram processos administrativos de menor instância por “desacreditar” o exército russo em consequência de denúncias feitas por outras pessoas, sendo que 79 delas foram multadas.
“Não consigo entender isso”, disse Buyanova, aos jornalistas, antes do veredito. “A sentença é monstruosamente cruel”, disse o advogado de Buyanova, Oscar Cherdzhiev, citado pelo ‘Mediazona’.
O caso contra Buyanova foi iniciado em fevereiro pelo chefe do Comité Investigativo da Rússia, que lida com crimes graves. Foi motivado por uma reclamação de Anastasia Akinshina, que levou o seu filho de 7 anos para ver Buyanova na sua clínica. O pai do menino, de quem Akinshina era divorciada, foi morto quando lutava pela Rússia na Ucrânia. Akinshina gravou um vídeo onde acusou Buyanova de se ter referido ao pai do seu filho como “um alvo legítimo da Ucrânia”.
O vídeo foi postado pelo ‘Mash’, um canal do Telegram com mais de 3 milhões de assinantes e próximo aos serviços de segurança russos. Buyanova, que negou ter feito a declaração, foi colocada em prisão preventiva em abril.