UE tem ‘oportunidade de ouro’ para apostar em novos parceiros comerciais na próxima era Trump
Com a reeleição de Donald Trump e o seu foco em políticas comerciais protecionistas, a União Europeia (UE) está a preparar-se para possíveis obstáculos no comércio transatlântico e uma potencial guerra comercial. Trump, durante a sua campanha, propôs tarifas de 10% a 20% sobre produtos importados, medida que prejudicaria diretamente as exportações europeias e poderia ter um impacto significativo na economia do bloco. Em 2023, os Estados Unidos foram o maior destino das exportações da UE, representando 19,7% do total, enquanto a China ficou com 8,8%.
As consequências de tarifas desta magnitude são preocupantes para a Europa. Especialistas estimam que um imposto de 10% sobre os produtos europeus poderia causar uma redução de 1,6% no PIB da Alemanha e de 0,8% em França, afetando drasticamente a competitividade das empresas europeias no mercado norte-americano. Assim, os líderes da UE estão a explorar alternativas para enfrentar estas políticas comerciais que, segundo analistas, tornarão o mercado dos EUA “mais reduzido, menos rentável e mais competitivo” para as empresas europeias.
Como primeira medida, a UE deve voltar-se para dentro, completando o seu mercado único. Embora esta tarefa seja complexa, exigindo que os Estados-membros cedam algumas das suas políticas económicas à UE e aceitem uma reestruturação de mercado que pode afetar empresas menos competitivas, os benefícios potenciais são grandes. Atualmente, barreiras internas fazem com que a UE perca até 10% do seu PIB potencial. A eliminação destas barreiras não só impulsionaria a economia europeia, como também a tornaria mais resiliente frente a desafios externos.
Acelerar acordos comerciais com países fora da UE
Outro passo essencial é a aceleração dos acordos de livre comércio (TLCs) em processo de negociação. Entre os mais críticos está o acordo com o Mercosul, cuja negociação já dura mais de 25 anos e recentemente enfrentou novos obstáculos. Este acordo é visto como crucial para fortalecer a posição da UE na América Latina e garantir acesso a matérias-primas que a Europa não possui, além de aumentar a sua influência geopolítica na região. A relação com a Índia também é uma prioridade, embora ambas as partes ainda estejam distantes de um entendimento total. A UE poderá avançar com acordos setoriais, facilitando o comércio enquanto trabalha para um acordo mais amplo.
A Ásia Oriental também se mostra promissora: a UE está a negociar um acordo de comércio digital com a Coreia do Sul, um mercado em expansão para produtos digitais. As tensões comerciais entre EUA e Coreia do Sul, que incluem um défice na balança comercial norte-americana, são um incentivo adicional para Seul reforçar laços comerciais com a Europa. Concluir e implementar estes TLCs rapidamente daria à UE maior acesso a mercados alternativos, compensando as possíveis medidas protecionistas dos EUA. Além disso, a conclusão desses acordos seria um sinal político claro de que a UE é um parceiro económico comprometido com o comércio multilateral e baseado em normas.
Paralelamente, a UE poderia expandir e melhorar os acordos comerciais já existentes com o México e o Canadá. Estes dois países têm acesso preferencial ao mercado dos EUA através do Tratado entre México, Estados Unidos e Canadá (T-MEC), que Trump negociou no seu primeiro mandato, mas que ele já sinalizou querer rever. Fortalecer os laços com o México e o Canadá poderia dar às empresas europeias uma entrada indireta para o mercado norte-americano, uma vantagem crucial num cenário de novas barreiras comerciais entre EUA e UE.
Parcerias com economias emergentes
A aproximação às economias emergentes é outro ponto estratégico para a UE. A crescente preocupação de países emergentes, como a Indonésia, com a prática chinesa de inundar os seus mercados com produtos a preços reduzidos, abre oportunidades para a UE oferecer alternativas de cooperação. A Indonésia, que deverá atingir quase 300 milhões de habitantes até 2030, tem implementado tarifas elevadas sobre produtos chineses e já está em negociações comerciais com a UE. Para países que aspiram desenvolver a sua capacidade industrial e integrar-se nas cadeias de valor globais, a experiência europeia em produção de maquinaria industrial representa um trunfo.
Nesta linha, a UE poderia aproveitar a sua iniciativa Global Gateway, voltada para investimentos em conectividade, como ferramenta para fortalecer laços com as economias emergentes. Integrar a liberalização do comércio com investimentos estratégicos em infraestrutura, como os promovidos pela Global Gateway, pode garantir o acesso a novos mercados e contribuir para a criação de cadeias de valor mais robustas com esses países.
Embora nenhum mercado externo possa substituir completamente o mercado norte-americano, o estabelecimento de uma rede diversificada de parceiros comerciais ajudaria a UE a mitigar os efeitos das políticas protecionistas de Trump. Estas ações também posicionariam a UE numa posição mais forte para enfrentar possíveis retaliações e defender os interesses económicos do bloco. Uma postura mais assertiva e a criação de uma ampla rede de acordos comerciais não só ajudariam a reduzir a dependência dos EUA, mas também demonstrariam o compromisso da UE com um comércio global sustentável e equilibrado.
Estas medidas fazem parte da estratégia europeia para lidar com as expectativas de uma administração norte-americana que provavelmente tomará medidas rigorosas contra as importações, protegendo o mercado interno dos EUA.