Apoio militar da Coreia do Norte à Rússia já tem ‘preço’: arroz, tecnologia espacial e 200 milhões de dólares

A decisão da Coreia do Norte em enviar milhares de soldados para a Rússia, para apoiar a invasão da Ucrânia, poderá custar mais a Pyongyang do que os benefícios.

De acordo com a publicação ‘The Korea Herald’, o Instituto de Estratégia de Segurança Nacional (INSS), um grupo de estudos afiliado ao Serviço Nacional de Inteligência da Coreia do Sul (NIS), salientou, num relatório, que a decisão da Coreia do Norte de enviar tropas parece ser baseada no cálculo de que uma vitória de Donald Trump na corrida à Casa Branca pode levar ao fim antecipado da guerra na Ucrânia.

Segundo as autoridades sul-coreanas, Pyongyang tem atualmente 3 mil tropas a treinar na Rússia, com um aumento planeado para 10 mil até dezembro – Kiev já confirmou que as unidades iniciais já estão na zona de combate de Kursk.

“Os EUA, sob Trump, podem retirar-se da Ucrânia, o que minaria um dos principais pilares da nova estrutura semelhante à da Guerra Fria que Pyongyang tem trabalhado arduamente para construir nos últimos anos em sua estreita cooperação com Moscovo”, salientou o relatório do INSS, garantindo que os custos do envolvimento da Coreia do Norte parecem superar os benefícios. No entanto, de acordo com os especialistas de Seul, Pyongyang agora pode esperar que Moscovo a apoie numa possível contingência na Península Coreana.

De acordo com o deputado Wi Sung-lac, ex-embaixador de Seul na Rússia, entrar na guerra contra a Ucrânia “não é um mau negócio” para a Coreia do Norte: cada soldado norte-coreano enviado para lutar pela Rússia receberia um salário mensal de cerca de 2 mil dólares, o que se traduziria numa receita anual de bem mais de 200 milhões de dólares.

Os serviços de inteligência sul-coreanos apontou também que o fornecimento russo de entre 600 e 700 mil toneladas de arroz cobriria mais de metade da escassez anual da Coreia do Norte. Além do mais, acredita-se que Moscovo esteja a ajudar Pyongyang com tecnologia espacial avançada, numa altura que o regime norte-coreano procura lançar outro satélite de reconhecimento militar.

No entanto, a parte mais interessante do acordo da Rússia com a Coreia do Norte, de acordo com Sung-lac, é possivelmente fazer com que a Rússia lute ao seu lado no caso de uma contingência na Península Coreana. “A Coreia do Norte está registada como tendo lutado pela Rússia. Se alguma vez houver uma guerra na Península Coreana, a Coreia do Norte pode agora esperar que a Rússia venha e ajude.”

Por último, o INSS argumentou que a Coreia do Norte perderia valor para a Rússia quando a guerra na Ucrânia diminuísse. Quando esse ponto chegar, o regime de Kim Jong-un, embora enredado em sanções e laços tensos com a tradicional aliada China, não poderá mais contar com a assistência russa. “A longo prazo, a Coreia do Norte pode perder mais do que ganhar ao se juntar à guerra da Rússia”, concluiu o relatório.

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