Rússia lança hoje dois satélites iranianos: o Kowsar e o Hodhod

Em mais um passo na sua cooperação tecnológica e científica, a Rússia lança esta noite, dois satélites iranianos, o Kowsar e o Hodhod, usando um foguetão Soyuz. O embaixador iraniano na Rússia, Kazem Jalali, anunciou ontem na rede X que o lançamento ocorrerá às 2h48, horário de Teerão (23h48 de Lisboa). A operação coloca os satélites numa órbita a 500 quilómetros da Terra, reforçando uma parceria estratégica que se intensifica desde a guerra na Ucrânia.

Esta operação surge no seguimento da entrega dos satélites à Rússia, que foi concluída a 12 de outubro. A relação entre os dois países tem-se fortalecido, especialmente após as sanções ocidentais impostas devido à guerra na Ucrânia, unindo Rússia e Irão num esforço comum para impulsionar o desenvolvimento e o uso partilhado de tecnologia espacial.

“A continuação da cooperação científica e tecnológica entre o Irão e a Rússia é um avanço importante. Este lançamento é um marco que fortalece a nossa parceria numa altura de grandes desafios internacionais”, afirmou Jalali na sua publicação.

Objetivos dos satélites: de uso civil ao potencial militar

O Kowsar e o Hodhod têm finalidades distintas. O satélite Kowsar, com capacidade de obtenção de imagens de alta resolução, foi desenvolvido para monitorização agrícola, controlo ambiental e resposta a catástrofes, segundo fontes oficiais. Por outro lado, o Hodhod, um pequeno satélite de comunicações, foi projetado para levar conectividade a áreas remotas e com limitada cobertura terrestre, promovendo o acesso à comunicação via satélite em zonas onde os serviços tradicionais são escassos ou inexistentes.

Este lançamento marca o terceiro envio de satélites iranianos para o espaço com apoio russo, com operações anteriores em fevereiro e novamente em 2022. No entanto, estas colaborações têm gerado preocupações no Ocidente, sobretudo nos Estados Unidos. Analistas norte-americanos expressaram receios de que os satélites iranianos possam servir para finalidades militares, tanto para apoiar operações russas na Ucrânia como para permitir ao Irão monitorizar atividades militares no Médio Oriente, incluindo em Israel.

A cooperação crescente entre Moscovo e Teerão na área aeroespacial levanta questões sobre o impacto desta aliança no cenário geopolítico, especialmente com a tensão persistente entre a Rússia e os países ocidentais. A preocupação reside na possibilidade de que a tecnologia dos satélites iranianos venha a ser utilizada em contextos de conflito, incluindo a guerra na Ucrânia, onde o Irão já tem fornecido à Rússia milhares de drones Shahed, utilizados em ataques contra infraestruturas ucranianas. Além disso, Teerão é suspeito de ter enviado à Rússia mísseis balísticos de curto alcance.

Analistas militares, ouvidos pelo Kiyiv Independent acreditam que o lançamento de satélites pode ajudar a Rússia e o Irão a monitorizar movimentações e operações militares de aliados dos EUA no Médio Oriente, fortalecendo a sua capacidade de resposta e aumentando a pressão sobre países como Israel.

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