Falha catastrófica deixa nave experimental da NASA que custou 18 milhões de euros a rodar sem controlo no espaço

Uma nova nave espacial da NASA, avaliada em 20 milhões de dólares (mais de 18 milhões de euros) , encontra-se atualmente a girar descontroladamente no espaço enquanto engenheiros da agência trabalham para resolver um problema que causou a perda de controlo da embarcação. Trata-se do Advanced Composite Solar Sail System (ACS3), um protótipo com quatro velas refletoras concebido para testar um inovador sistema de propulsão que utiliza a luz solar como impulso, semelhante à forma como um barco à vela utiliza o vento.

O ACS3 foi lançado a 23 de abril da Nova Zelândia, a bordo de um foguetão Electron, da empresa Rocket Lab. Apesar do lançamento bem-sucedido, a nave encontrou dificuldades logo nos primeiros meses. O processo de desenrolar das velas, essencial para a nave poder navegar utilizando a luz solar, foi interrompido quando o sistema de monitorização detectou correntes de energia superiores às previstas, o que fez com que o motor de desenrolamento fosse temporariamente suspenso.

Após uma tentativa falhada inicial, a equipa conseguiu desdobrar as velas em agosto. No entanto, o sistema de controlo de atitude – responsável pela orientação da nave – foi desligado para acomodar as mudanças de dinâmica durante o processo de desdobramento. Desde então, permanece desativado. Durante esta fase, foi detetado um desvio numa das estruturas de suporte das velas, chamadas de booms, o que afeta a estabilidade e o curso da nave. A NASA afirma que este problema terá surgido quando as velas foram esticadas, mas há sinais de que a deformação poderá ter-se atenuado ligeiramente ao longo do tempo, enquanto a nave rodava lentamente.

A ACS3 encontra-se atualmente em modo de baixa energia, enquanto a equipa tenta posicioná-la de forma a orientar as velas para captar luz solar diretamente. Este alinhamento é fundamental para a reativação do sistema de controlo de atitude, o que permitirá estabilizar a nave e possibilitar o apontamento da antena de rádio para a Terra, viabilizando a comunicação com a NASA. Segundo a agência, “uma vez que a nave esteja orientada corretamente, será possível obter mais dados, calibrar a forma exata da vela e iniciar as manobras de navegação.”

Estas manobras de navegação constituem o verdadeiro teste para o sistema de propulsão solar, pois envolvem ajustar o ângulo das velas para alterar a órbita da nave. No caso do ACS3, que está localizado a cerca de 600 milhas (aproximadamente 965 quilómetros) acima da superfície terrestre – o dobro da altitude da Estação Espacial Internacional –, estas manobras poderão comprovar a viabilidade de uma propulsão solar eficaz.

As velas solares são impulsionadas pela pressão dos fotões – partículas de luz – emitidos pelo sol, que produzem pequenos impulsos que propulsionam a nave. Segundo a NASA, a força gerada é semelhante ao peso de um pequeno clip de papel sobre a mão, mas é suficiente para superar a resistência atmosférica e ganhar altitude. Este princípio de navegação espacial com luz solar já foi testado em 2019 pela LightSail 2, da Planetary Society, que conseguiu ganhar altitude antes de, eventualmente, perder controlo e desintegrar-se ao reentrar na atmosfera terrestre.

A missão ACS3 foi inspirada pelo LightSail 2 e tem como objetivo melhorar a tecnologia. “Os dados recolhidos deste teste de voo já provaram ser extremamente valiosos, e a demonstração continuará a produzir informações cruciais para possibilitar futuras missões com velas solares,” afirmou a NASA num comunicado recente. A propulsão solar representa um potencial avanço no desenvolvimento de missões de longo alcance no espaço profundo, como as viagens para Marte, permitindo uma redução significativa na quantidade de combustível necessário e, consequentemente, nos custos destas operações.

A NASA permanece empenhada em retomar o controlo do ACS3 e a avançar no desenvolvimento da tecnologia de velas solares, que promete transformar a exploração espacial, tornando-a mais acessível e menos dependente de combustíveis fósseis.

Ler Mais





Comentários
Loading...