Satélite da Boeing desintegra-se em órbita e causa falhas nas comunicações em várias partes do mundo

Um satélite de comunicações construído pela Boeing desintegrou-se no espaço, provocando uma interrupção generalizada dos serviços em várias partes do mundo. O satélite, identificado como Intelsat 33e (iS-33e), estava em operação pela Intelsat, uma das maiores empresas de comunicações por satélite, e fornecia serviços a clientes em regiões da Europa, África e Ásia-Pacífico. A Intelsat confirmou a “perda total” do satélite, sublinhando que este incidente resultou numa perturbação significativa das comunicações em várias áreas.

Este novo contratempo agrava os problemas já enfrentados pela Boeing, que além de lidar com esta falha, enfrenta uma greve laboral e desafios técnicos relacionados com a sua nave espacial Starliner.

A destruição do satélite iS-33e gerou uma resposta imediata por parte da Intelsat e da Boeing. A operadora de satélites anunciou que está a realizar uma “análise abrangente” para apurar as causas que levaram à falha catastrófica do equipamento. “Estamos a coordenar com o fabricante do satélite, a Boeing, e com agências governamentais para analisar os dados e observações”, afirmou a Intelsat em comunicado. A Boeing, no entanto, optou por não comentar diretamente o incidente.

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos também se pronunciou sobre o evento, através do seu site de monitorização espacial SpaceTrack, que confirmou a desintegração do satélite em órbita. De acordo com a SpaceTrack, a Força Espacial dos EUA está a acompanhar cerca de 20 fragmentos de detritos resultantes da destruição do iS-33e, que representam potenciais riscos para outras naves espaciais e satélites que operam em órbitas próximas.

O incidente com o satélite é apenas uma das várias adversidades que a Boeing está a enfrentar atualmente. A empresa tem sido alvo de forte pressão devido a problemas nas suas diferentes divisões. Entre os desafios mais significativos, destaca-se a situação do Starliner, uma cápsula espacial desenvolvida para transportar astronautas até à Estação Espacial Internacional (ISS), que tem sofrido uma série de contratempos. Mais recentemente, dois astronautas ficaram retidos na ISS após a cápsula Starliner ter sido declarada inapta para regressar à Terra. Agora, espera-se que estes astronautas regressem no próximo ano a bordo de uma nave da SpaceX.

Além dos problemas técnicos, a Boeing está também a lidar com uma greve no seu setor de fabrico de aviões comerciais. Mais de 30 mil trabalhadores entraram em greve, exigindo melhores salários e condições laborais. A empresa apresentou recentemente uma nova proposta de aumento salarial, que inclui uma subida de 35% ao longo dos próximos quatro anos, mas ainda aguarda a votação dos membros do sindicato.

Paralelamente, a Boeing enfrenta dificuldades financeiras, tendo anunciado que pretende angariar até 35 mil milhões de dólares em novos fundos. A empresa também prevê despedir cerca de 17 mil trabalhadores, o equivalente a 10% da sua força de trabalho, já a partir de novembro, numa tentativa de reduzir custos.

Os problemas da Boeing não se limitam aos desafios técnicos e operacionais. A empresa enfrenta também consequências legais. Em julho deste ano, a Boeing aceitou declarar-se culpada num caso de conspiração para fraude. Este acordo judicial decorre de uma violação de um acordo de adiamento de acusação, relacionado com dois acidentes fatais com aviões 737 MAX, que ocorreram há mais de cinco anos e resultaram na morte de 346 pessoas.

Como parte do acordo, a Boeing comprometeu-se a pagar pelo menos 243,6 milhões de dólares em multas. Estes acidentes foram amplamente noticiados e trouxeram grande escrutínio sobre as práticas de segurança da Boeing e sobre os defeitos de conceção dos aviões 737 MAX, causando danos consideráveis à reputação da empresa.

Problema crescente com detritos espaciais
A destruição do iS-33e também levanta preocupações sobre o aumento de detritos espaciais. Segundo a Agência Espacial Europeia (ESA), mais de 40 mil fragmentos com mais de 10 cm e mais de 130 milhões de pedaços menores que 1 cm estão atualmente em órbita terrestre. Estes detritos representam um risco crescente para naves espaciais e satélites, uma vez que a sua deteção e monitorização são extremamente difíceis, especialmente em altitudes elevadas como a do iS-33e, que orbitava a cerca de 35 mil quilómetros da Terra.

A perda do Intelsat 33e é particularmente preocupante, pois a sua desintegração pode ter gerado fragmentos demasiado pequenos para serem detetados pelas instalações existentes, aumentando o risco de colisões no espaço.

A falha catastrófica do satélite iS-33e é mais um desafio para a Boeing, que já enfrenta uma série de problemas técnicos, financeiros e legais. Com a investigação ainda em curso e os detritos espaciais a serem monitorizados, este incidente ressalta a complexidade e os riscos crescentes da exploração espacial e da gestão de satélites em órbita. Ao mesmo tempo, a Boeing procura encontrar soluções para os diversos obstáculos que enfrenta, num cenário que tem vindo a deteriorar-se nos últimos meses.

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