Covid, gripe (e não só): Espanha prepara regras mais apertadas no inverno, mas em Portugal devem manter-se só recomendações, adiantam especialistas

O Ministério da Saúde de Espanha propôs o uso obrigatório de máscaras nas salas de espera de centros de saúde e urgências hospitalares durante os períodos de alta transmissão de infeções respiratórias agudas, como a gripe ou a Covid-19. A proposta será debatida esta semana na Comissão de Saúde Pública, com o objetivo de evitar o colapso dos serviços de saúde durante a época de maior circulação viral. No entanto, em Portugal, segundo o vice-presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Bernardo Gomes, não se espera que as autoridades de saúde implementem medidas tão restritivas, apostando em recomendações e mudanças culturais no uso voluntário de máscaras.

A proposta espanhola surge num contexto de preparação para a época gripal, estabelecendo um plano com base nos dados do Sistema de Vigilância de Infeções Respiratórias Agudas (Sivira). O documento sugere diferentes níveis de risco, desde o cenário 0, de risco basal, até ao cenário 3, onde a transmissão é considerada muito elevada ou pandémica. Dependendo do cenário, as comunidades autónomas terão a liberdade de decidir se a obrigatoriedade do uso de máscara será aplicada de forma geral ou apenas em determinados centros de saúde.

A obrigatoriedade do uso de máscara será reforçada conforme a gravidade da situação, com foco em áreas de maior vulnerabilidade, como salas de quimioterapia e unidades de transplantados. Além disso, o documento espanhol recomenda o autoisolamento para pessoas com sintomas e reforça a importância de medidas de vacinação para todos os grupos etários.

Portugal aposta em recomendações e cultura de prevenção

Em Portugal, as autoridades de saúde têm adotado uma abordagem diferente. Segundo Bernardo Gomes, vice-presidente da ANMSP, apesar da preparação contínua para a resposta sazonal, não se antevê a necessidade de medidas reforçadas, como as que estão a ser debatidas em Espanha. “Há um esforço concertado entre a DGS, a Direção Executiva do SNS e as Unidades Locais de Saúde para trabalhar a componente sazonal de contingência. Não julgo que exista uma margem óbvia de crítica ou de melhoria no planeamento”, afirmou Gomes, sublinhando que o país continua a ser uma referência mundial na adesão à vacinação, tanto para a gripe como para a Covid-19.

Embora não se prevejam mudanças imediatas nas medidas impostas pelas autoridades portuguesas, Gomes destaca a importância de uma “mudança cultural” no que diz respeito à prevenção de infeções, nomeadamente no uso voluntário de máscaras e na melhoria da ventilação em espaços públicos e privados. “Continuamos com um mau controlo da ventilação dos espaços fechados, o que favorece a transmissão de vírus respiratórios, especialmente em épocas de grande disseminação”, alerta o especialista.

Máscaras e qualidade do ar: uma prioridade em Portugal?

Para Bernardo Gomes, o uso de máscaras em espaços com ventilação insuficiente, como transportes públicos, e a ventilação adequada em escolas e outros locais fechados devem ser foco das recomendações. Em entrevista à Executive Digest, o especialista considera que a utilização de máscaras em ambientes onde coabitam pessoas vulneráveis, como hospitais, centros de saúde e lares, pode tornar-se necessária, mas sem a imposição de uma obrigatoriedade generalizada. “Fora disso, falamos de recomendações. Em alturas de transmissão sazonal de vírus respiratórios, a questão dos transportes públicos e do uso voluntário de máscara é fulcral”, referiu.

O especialista defende que, mais do que decretar novas obrigatoriedades, Portugal deve apostar numa comunicação clara e empática dos riscos, promovendo a adoção de medidas preventivas pela própria população. “Há margem para modificação cultural de hábitos, e a transmissão da necessidade de medidas deve ser feita com tranquilidade e boa comunicação de risco”, acrescentou.

Preparação para o inverno e o papel da vacinação

Portugal, de acordo com Gomes, está bem preparado para lidar com a transmissão de vírus respiratórios neste inverno. O país tem apostado em inovações, como a introdução da imunização contra o vírus sincicial respiratório (VSR), e numa adaptação contínua das suas respostas sazonais. O grande desafio, segundo o especialista, passa agora pela consolidação da transição para as Unidades Locais de Saúde e pela gestão do Sistema Nacional de Saúde (SNS).

“Estamos num contexto de maior tranquilidade, também com aprendizagens da pandemia e uma estruturação do esforço da DGS para que a resposta seja mais consequente. Mas há sempre um risco a ser gerido todos os anos”, concluiu Bernardo Gomes, reforçando o seu otimismo em relação ao planeamento e à resposta portuguesa para a época gripal de 2024.

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