Risco de catástrofe ambiental nas águas europeias está a aumentar, alertam especialistas: petróleo de Moscovo que viaja em ‘sucatas flutuantes’ dispara

O mercado petrolífero vive um ano extremamente turbulento, em particular devido à guerra no Médio Oriente. Mas, mais perto da Europa, está a ocorrer outra situação perigosa que tem passado despercebida: o petróleo que viaja por via marítima em navios extremamente antigos e sem manutenção está a disparar.

A culpa por esta tendência preocupantes é a ‘frota sombra’ russa, uma manobra de Moscovo para conseguir colocar o seu petróleo sancionado em quase todos os cantos do mundo, colocando em risco os mares e a fauna. Em termos anuais, a Rússia expandiu a capacidade da sua frota paralela em quase 70%, apesar da ofensiva do Ocidente (em particular o Reino Unido e Estados Unidos) contra seguradoras e companhias de navegação.

Um relatório abrangente publicado pela Escola de Economia de Kiev (KSE) apontou que o volume de petróleo russo transportado por esta perigosa ‘sucata flutuante’ passou de 2,4 milhões de barris por dia em junho de 2023 para 4,1 milhões em junho de 2024, um aumento de 70%. Para referência, na altura em que entraram em vigor as sanções ocidentais, como o limite máximo do preço do petróleo bruto, em dezembro de 2022, este volume era de apenas 2,2 milhões de barris por dia.

O relatório também oferece um facto importante e mais do que revelador, apontou a publicação espanhola ‘El Economista’: nos últimos meses, cerca de 70% das exportações marítimas russas de petróleo foram transportadas por petroleiros paralelos e, portanto, não foram sujeitas ao limite de preço estabelecido pelo G-7 – isto inclui quase 90% do petróleo bruto, que tem sido negociado acima dos 60 dólares por barril fixado pelo limite desde meados de 2023. No caso dos produtos petrolíferos, a quota transportada nestes navios antigos é de 38%.

“A frota paralela permite à Rússia contornar o limite máximo do preço do petróleo do G-7 e dos aliados e obter receitas de exportação adicionais para financiar a sua guerra de agressão. Embora o investimento tenha sido considerável – está estimado em 10 mil milhões de dólares desde o início de 2022 -, a estratégia reduziu significativamente a influência do regime de sanções”, sublinharam os analistas do Instituto KSE.

O tamanho exato da ‘frota sombra’ da Rússia tem sido um tema de amplo debate. Num outro relatório recente, o Instituto KSE documentou que mais de 300 petroleiros transportaram petróleo bruto russo em 2023 e no primeiro semestre de 2024, enquanto mais de 430 petroleiros transportaram produtos petrolíferos russos durante este período.

Uma aplicação mais rigorosa de regulamentos ou sanções não iria afetar os volumes de exportação russos, referem os analistas. Por outro lado, embora as sanções tenham conseguido reduzir o preço a que a Rússia vende o seu petróleo bruto, isto também não é um problema sério para Moscovo: “Isto deve-se ao facto de os custos de produção do petróleo bruto russo serem bastante baixos – estima-se que em média ronda os 10-15 dólares por barril”, salientaram os especialistas.

O relatório alertou ainda para o risco ambiental que paira sobre a Europa: “A contínua dependência da Rússia em infraestruturas de produção e exportação destinadas aos seus tradicionais mercados na Europa significa que grandes quantidades de petróleo passam diariamente pelas águas europeias. O petróleo russo viaja no que poderia ser chamado de ‘sucata flutuante’ sob bandeiras exóticas: por exemplo, o Panamá, as Ilhas Cook, os Camarões, Palau ou o Vietname.”

“Considerando a ameaça iminente e significativa que a frota paralela da Rússia representa para o ambiente, instamos os países da coligação a tomar medidas rápidas e a implementar um plano que garanta que todos os petroleiros que passam pelas águas europeias tenham um seguro adequado contra derrames de petróleo que compense no caso de de um incidente”, apontou o think tank ucraniano.

No primeiro semestre de 2024, 72% do petróleo transportado por mar russo saiu dos portos do Báltico e do Mar Negro e 58% foi transportado em navios-tanque da frota paralela. “Isto significa mais de 75 milhões de barris por mês em navios que têm em média 18 anos, têm manutenção insuficiente e seguros provavelmente inadequados”, alertou o Instituto KSE. A verdade é que estes petroleiros atravessam as águas europeias várias vezes ao dia, em média 2,9 através do Estreito da Dinamarca e do Canal da Mancha, 2,8 através do Estreito de Gibraltar e 2,2 através do Mar Egeu.

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