Mais de 50% dos professores já foram agredidos por alunos. Um terço alvo de assédio laboral, revela inquérito

Um estudo conduzido pelo movimento cívico Missão Escola Pública (MEP) revela que 55% dos professores em Portugal já sofreram agressões físicas ou verbais por parte dos seus alunos. O inquérito, realizado entre 30 de setembro e 6 de outubro, contou com a participação de 1368 professores e diretores escolares, sendo os resultados enviados ao Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) esta segunda-feira.

O relatório destaca três problemas principais enfrentados pelos docentes: indisciplina, excesso de burocracia e o atual modelo de gestão escolar, que são apontados como fatores que afetam o bem-estar e o desempenho dos profissionais de educação.

 

Indisciplina nas escolas e medidas propostas

Cristina Mota, porta-voz do MEP, afirmou que a indisciplina nas salas de aula é uma das maiores preocupações dos professores, com relatos diários de agressões verbais e físicas. “Todos os dias ouvimos desabafos de professores que foram agredidos pelos seus alunos”, destacou em declarações à CNN Portugal.

A resposta dos professores a essa situação inclui um pedido claro por mais autoridade e proteção nas salas de aula, além da criação de políticas eficazes para gerir os conflitos escolares. Entre as propostas do MEP estão:

  • Formação contínua sobre gestão de sala de aula e resolução de conflitos, com um foco prático.
  • Medidas disciplinares eficazes para lidar com comportamentos violentos ou disruptivos.
  • Responsabilização dos encarregados de educação pelos atos de violência dos seus filhos.
  • Apoio psicológico e jurídico acessível aos docentes que enfrentam situações de agressão.

Assédio laboral também afeta os docentes

Outro dado preocupante que emergiu do inquérito é a alta incidência de assédio laboral nas escolas. Cerca de 33,4% dos professores afirmaram já ter sido vítimas de assédio ao longo da sua carreira. Cristina Mota explica que o modelo atual de gestão unipessoal das escolas contribuiu para o aumento deste tipo de situações. A pressão para adesão às greves ou lutas sindicais foi outro fator que gerou conflitos, com alguns professores a relatarem perseguições e coação durante as recentes greves.

O MEP defende o regresso ao modelo colegial de gestão escolar, com mais de 75% dos professores a preferirem um modelo de gestão democrática, onde os diretores são eleitos pelos seus pares, em vez do atual modelo unipessoal.

Além da indisciplina, o inquérito revela que a carga burocrática é outro fator que afeta negativamente o trabalho dos professores. Segundo o estudo, 26% dos docentes consideram a redução da burocracia a principal reivindicação, acima de questões salariais, que foram referidas por 24,3% dos inquiridos.

Os professores pedem, assim, a simplificação dos processos administrativos, permitindo-lhes focar-se mais no ensino e no acompanhamento dos alunos. A criação de uma lista mínima de documentos obrigatórios, a ser definida pelo Ministério da Educação, é uma das medidas sugeridas.

Apesar das promessas do governo para reduzir a burocracia, através da criação de equipas especializadas nas escolas, o projeto MAIA não tem mostrado os resultados esperados, afirma o MEP.

Medidas do Ministério com impacto limitado

O estudo também avaliou o impacto das medidas recentemente anunciadas pelo Ministério da Educação no âmbito do plano +Aulas +Sucesso. Segundo o MEP, a adesão dos professores reformados ou em vias de reforma às medidas do Ministério tem sido residual, o que compromete a eficácia das propostas para lidar com a falta de docentes.

“Pelo contrário, muitos professores estão a antecipar a sua reforma, apesar das penalizações, devido às condições atuais do ensino em Portugal”, afirmou Cristina Mota, citada pela CNN Portugal.

Outro dado revelador é a sobrecarga horária de alguns professores, com relatos de docentes a quem foram atribuídas até 10 horas extraordinárias. “Temos colegas que, na semana passada, não tinham horas extras e, nesta semana, já lhes foram atribuídas sete ou oito horas adicionais”, referiu a porta-voz do MEP.

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