Portugal pode ajudar numa “mudança poderosa” na Palestina, diz Francesca Albanese
A relatora especial da ONU para os Territórios Palestinianos Ocupados defendeu hoje que Portugal é um dos poucos países onde estão reunidos “todos os elementos para uma mudança poderosa ou significativa do rumo da ação” de Israel na Palestina.
Em entrevista à agência Lusa por telefone, Francesca Albanese frisou a partir de Tunes, de onde partiu com destino a Portugal para uma série de palestras nos próximos dias sobre os conflitos no Médio Oriente, que as autoridades portuguesas podem sobretudo ajudar no reconhecimento internacional total de um Estado palestiniano, independentemente de Lisboa apenas defender a solução de dois países.
“Gostava que o problema [de Portugal] fosse apenas a falta de reconhecimento do Estado da Palestina. O problema é que isto não é uma coisa só de Portugal, que tem sido até bastante presente em comparação com outros países da Europa, os que têm tido uma posição de grande apoio em relação a Israel”, sublinhou Albanese.
“O problema é que não teríamos chegado à situação catastrófica a que estamos a assistir hoje se não fosse a impunidade que foi concedida a Israel durante décadas. Muitos Estados violam o direito internacional. Israel não é o único. O que torna Israel único é o facto de ser um violador em série do direito internacional. Viola sistematicamente o direito internacional. E nada foi feito”, acrescentou.
“Claro que o facto de não haver reconhecimento do Estado da Palestina é intrigante, (…) especialmente os Estados europeus que, durante anos, a única resposta que pareciam ter sobre tudo o que dizia respeito à Palestina era a solução de um Estado independente”, acrescentou.
Afinal, prosseguiu a relatora da ONU, “tudo era um mantra, vazio de significado”, em especial para os países que não reconhecem o direito palestiniano a tornar-se um Estado.
“Por isso, sim, estou ansiosa por perguntar também às autoridades portuguesas, do governo e do parlamento, com quem me vou encontrar, o que se passa com o reconhecimento do Estado da Palestina”, acrescentou.
Sobre a vinda a Portugal, Albanese indicou ter sido convidada para dar algumas palestras em várias universidades de Lisboa e Coimbra para falar do trabalho que está a desenvolver, incidindo no mais recente relatório que apresentou na ONU, em que concluiu que Israel “cometeu atos de genocídio em Gaza, já em março deste ano”.
“E estou muito feliz por ir a Portugal, porque me parece ser um dos poucos países onde estão reunidos todos os elementos para uma mudança poderosa ou significativa do rumo da ação na Palestina. E refiro-me ao governo, ao povo e a um sentido geral de compreensão do que é a injustiça. Esta é a minha perceção do exterior”, referiu.
A responsável da ONU irá, durante a estada em Portugal, manter contactos oficiais com as autoridades portuguesas, cujo programa está ainda por definir.
Para já, sabe-se que, em Lisboa, no ISCTE, Francesca Albanese participará quarta-feira nas conferências de abertura conjuntas dos mestrados em Estudos Internacionais e em Ação Humanitária, ambos subordinados ao tema “Anatomia de Um Genocídio: Um Fracasso do Sistema Internacional?”.
Quinta-feira, no Centro Cultural de Belém, Albanese participará numa sessão voltada para a sociedade civil, intitulada “Palestina e o Direito Internacional: Entre a Esperança e o Abismo”, organizada pelo Le Monde Diplomatique, cuja diretora em Portugal, Sandra Monteiro, será moderadora.
No último dia da visita, sexta-feira, Albanese estará presente numa conferência organizada pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC).