Os macacos conseguem prever os resultados das eleições nos EUA? Estudo revela ‘talento natural’ dos primatas para identificar os derrotados

Num estudo recente e controverso, investigadores decidiram testar uma hipótese peculiar: será que os macacos podem prever o resultado das eleições presidenciais dos EUA apenas ao observar fotos dos candidatos? A ideia parece absurda à primeira vista, mas os resultados sugerem o contrário.

Investigadores acompanharam os movimentos oculares de três macacos enquanto lhes mostravam centenas de imagens de candidatos a senadores e governadores em diferentes eleições nos EUA. De forma surpreendente, os macacos fixavam o olhar durante mais tempo nos rostos dos candidatos que perderam, na maioria das vezes.

“Eles estão a detetar algo com base apenas na imagem”, explicou Yaoguang Jiang, neurocientista da Universidade da Pensilvânia e coautor do estudo. Jiang e a sua equipa têm vindo a estudar as preferências faciais dos macacos há anos, e este estudo mais recente foi publicado este mês na plataforma bioRxiv, embora ainda não tenha sido revisto por outros cientistas.

Antes deste estudo, os investigadores já tinham realizado experiências que chamaram de “Tinder para macacos”. Nessas experiências, os macacos eram mostrados a imagens de outros macacos que já conheciam. Verificou-se que os primatas apenas olhavam brevemente para a imagem de um macho de alto estatuto, mas fixavam o olhar por mais tempo em machos de estatuto inferior ou em fêmeas. Segundo os investigadores, isto ocorre porque os macacos tendem a interpretar o contacto visual prolongado como um sinal de agressão.

Este comportamento levantou uma nova questão para Jiang e a sua equipa: será que os macacos exibiriam o mesmo padrão ao observar rostos humanos, particularmente de políticos em eleições?

O teste com candidatos políticos dos EUA

Para testar esta teoria, os investigadores mostraram fotos de pares de candidatos das eleições para o Senado, governador e presidente dos EUA a três macacos adultos do sexo masculino, enquanto monitorizavam o movimento dos seus olhos. Os macacos, na maioria das vezes, fixavam o olhar num dos candidatos em cada par.

Quando confrontados com imagens de candidatos em quase 300 eleições para o Senado e governador, que ocorreram entre 1995 e 2008, os macacos olharam mais tempo para o candidato perdedor em 54% dos casos. Em eleições de estados decisivos (“swing states”), essa percentagem aumentou para 58%.

Contudo, nas eleições presidenciais realizadas entre 2000 e 2020, os macacos acertaram no perdedor apenas 50% das vezes – uma precisão equivalente a atirar uma moeda ao ar. Em relação às eleições presidenciais deste ano, o resultado foi semelhante. “Foi um empate,” disse Michael Platt, neurocientista e coautor do estudo, ao Science.

Embora o estudo não tenha identificado com precisão o vencedor nas eleições presidenciais, os macacos sugeriram que J. D. Vance, candidato a vice-presidente de Donald Trump, perderia num confronto direto com o governador do Minnesota, Tim Walz, colega de chapa de Kamala Harris.

Apesar dos resultados, Platt explicou que o estudo revela que os rostos dos candidatos transmitem informações relacionadas com o comportamento dos eleitores. Segundo os investigadores, parte dessas informações pode estar relacionada com a estrutura facial dos candidatos. Por exemplo, o tamanho e a forma do maxilar de uma pessoa podem ser um indicador de dominância social, o que poderia levar os macacos a olhar mais para candidatos com linhas de maxilar menos pronunciadas.

A equipa descobriu que, em média, os candidatos vencedores apresentavam maxilares 2% mais proeminentes, com base na proporção do maxilar em relação às bochechas.

Ceticismo e controvérsia

Apesar das descobertas curiosas, vários especialistas mantêm-se céticos quanto à validade da previsão eleitoral feita pelos macacos. Allen Lichtman, um historiador que previu com precisão quase todas as eleições presidenciais dos últimos 40 anos, questionou a utilidade do método. “Quantas eleições futuras, onde o resultado é desconhecido, este método previu? Se a resposta for nenhuma, não tenho mais interesse,” afirmou ao Science.

Gary King, cientista político que analisou 28 anos de resultados eleitorais do Congresso para criar o seu próprio modelo de previsão, descreveu os achados do estudo como “de certo modo interessantes,” mas duvidou que o método dos macacos pudesse ser mais eficaz do que os métodos tradicionais de previsão eleitoral, que analisam fatores como rendimento dos eleitores, ideologia e padrões de voto anteriores.

“Há um pequeno macaco em todos nós”

Michael Platt, contudo, defende que o estudo ilustra uma ligação clara entre o comportamento dos macacos e o comportamento humano. “Quando se trata de votar – e praticamente de todos os nossos outros comportamentos – há um pequeno macaco em todos nós,” afirmou Platt.

Embora a ideia de que macacos possam prever eleições presidenciais pareça absurda, o estudo levanta questões intrigantes sobre a forma como os rostos dos candidatos influenciam as decisões dos eleitores, apontando para possíveis conexões entre dominância social percebida e preferências de voto.

O estudo, apesar de não oferecer um método definitivo para prever eleições, abre portas para novos entendimentos sobre como fatores subconscientes, como a perceção de características faciais, podem influenciar os resultados eleitorais.

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