NATO já tem plano para transporte em larga escala de soldados feridos, no caso de guerra com a Rússia

A NATO está a desenvolver planos para coordenar o transporte de um número significativo de tropas feridas a partir das linhas da frente, caso ocorra um conflito com a Rússia. Este transporte poderá ser realizado através de comboios-hospital, uma vez que as evacuações aéreas podem não ser viáveis, de acordo com o Tenente-General Alexander Sollfrank, responsável pelo comando logístico da NATO.

Durante uma entrevista à Reuters, Sollfrank sublinhou que o cenário futuro para as evacuações médicas diferirá da experiência dos aliados no Afeganistão e no Iraque. Em um potencial conflito com a Rússia, as forças ocidentais enfrentariam uma zona de guerra muito mais vasta, um maior número de feridos e, pelo menos temporariamente, uma falta de superioridade aérea próxima das linhas de frente.

“O desafio será assegurar rapidamente cuidados de alta qualidade para, no pior cenário, um grande número de feridos”, afirmou Sollfrank, sem especificar quantos soldados feridos a NATO poderia esperar.

Esta preparação para as evacuações médicas faz parte de um esforço mais amplo da NATO, motivado pela invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, para reformular e aumentar a sua capacidade de deter e defender contra qualquer ataque russo. O exército alemão prevê que a Rússia possa atacar um país da NATO já em 2029, enquanto o presidente russo, Vladimir Putin, considera o Ocidente como o agressor por ter fornecido armas à Ucrânia. O conflito na Ucrânia tem gerado a maior confrontação entre a Rússia e o Ocidente desde a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962.

Sollfrank comanda o Comando Conjunto de Apoio e Capacitação da NATO (JSEC), responsável por coordenar o movimento rápido de tropas e tanques por toda a Europa, assim como as preparações logísticas, incluindo o armazenamento de munições no flanco oriental da NATO. Recentemente, o JSEC, que tem sede na cidade de Ulm, no sul da Alemanha, realizou um exercício para coordenar os fluxos de pacientes.

Se um conflito com a Rússia surgir, os soldados feridos não apenas precisarão ser transportados por distâncias maiores do que em guerras anteriores, como também deverão enfrentar novas ameaças. Segundo Sollfrank, as defesas aéreas e os aviões russos poderiam representar uma ameaça aos voos de evacuação médica, algo que não aconteceu no Afeganistão ou no Iraque, tornando necessário o uso de comboios-hospital, que conseguem transportar mais feridos de uma só vez do que as aeronaves.

“A superioridade aérea deverá ser alcançada em primeiro lugar. Será necessário tempo para garantir isso em toda a extensão e profundidade da linha da frente”, afirmou Sollfrank. Para fins de planeamento, todas as opções para transportar um grande número de feridos para instalações médicas precisam de ser consideradas, incluindo comboios e, potencialmente, autocarros.

Sollfrank também destacou que as diferentes regulamentações médicas entre os países representam outro obstáculo a ser superado. Um espaço “Schengen militar e médico”, semelhante à zona Schengen política que permite a livre circulação na maior parte da União Europeia, poderia ser uma solução viável, segundo descreveu. Esta proposta incluiria uma área de passagem livre para medicamentos sensíveis, como narcóticos ou analgésicos fortes, que são essenciais para tratar os feridos, mas cuja circulação transfronteiriça é regulamentada.

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