Rússia tem projeto secreto de drones de guerra na China, denuncia serviço de inteligência europeu

A Rússia estabeleceu um programa secreto de armas na China para desenvolver e produzir drones de longo alcance para uso na guerra contra a Ucrânia, segundo indicou esta quarta-feira a agência ‘Reuters’, citando duas fontes de uma agência de inteligência europeia.

A IEMZ Kupol, uma subsidiária da empresa estatal russa de armas Almaz-Antey, desenvolveu e testou em voo um novo modelo de drone chamado Garpiya-3 (G3) na China com a ajuda de especialistas locais, segundo um relatório que a Kupol enviou ao Ministério da Defesa russo, no início de 2024 – a empresa informou o ministério que foi capaz de produzir drones, incluindo o G3, em escala numa fábrica da China, para que as armas possam ser implantadas na “operação militar especial” na Ucrânia. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China negou ter conhecimento de tal projeto, acrescentando que Pequim tem medidas de controlo rigorosas sobre a exportação de drones.

O G3 pode viajar cerca de 2.000 km com uma carga útil de 50 kg, de acordo com os relatórios de Kupol ao ministério.

De acordo com Fabian Hinz, investigador do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, sediado em Londres, a entrega de UAV da China para a Rússia, se confirmada, seria um acontecimento significativo. “Se se olhar para o que a China é conhecida por ter entregue até agora, eram principalmente bens de uso duplo. Eram componentes, subcomponentes, que poderiam ser usados ​​em sistemas de armas”, referiu. “Isso é o que foi relatado até agora. Mas o que realmente não vimos, pelo menos no código aberto, são transferências documentadas de sistemas de armas inteiros.”

Segundo a ‘Reuters’, nos documentos não estão identificados os especialistas chinesas em drones envolvidos no projeto. A Kupol recebeu sete drones militares fabricados na China, incluindo dois G3, na sua sede na cidade russa de Izhevsk, denunciam duas faturas enviadas à Kupol no verão por uma empresa russa que, segundo as duas fontes de inteligência europeias, atua como intermediária com fornecedores chineses. As faturas, uma das quais solicitou o pagamento em yuan chinês, não especificam datas de entrega nem identificam os fornecedores na China.

De acordo com as duas fontes de inteligência, a entrega dos drones de amostra a Kupol foi a primeira evidência concentra que a sua agência encontrou de UAV inteiros fabricados na China a serem entregues a Moscovo desde o início do conflito na Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Pequim negou repetidamente que a China ou empresas chinesas tenham fornecido armas à Rússia para uso na Ucrânia, garantindo que o país permanece neutro. O Ministério dos Negócios Estrangeiros indicou à ‘Reuters’ que a posição da China era um contraste com outras nações com “padrões duplos em venda de armas” que “colocaram lenha na fogueira da crise ucraniana”.

David Albright, ex-inspetor de armas da ONU que lidera o grupo de pesquisa do Instituto de Ciência e Segurança Internacional, disse à ‘Reuters’ que a Kupol poderia contornar as sanções ocidentais à Rússia estabelecendo uma unidade de produção na China, onde poderia ter acesso a chips avançados e conhecimento especializado.

O G3 é uma versão atualizada do drone Garpiya-A1, de acordo com os relatórios de Kupol enviados ao Ministério da Defesa, que foi redesenhado por especialistas chineses a partir de projetos do Garpiya-A1. A Kupol disse que, dentro de oito meses, o projeto na China estaria pronto para produzir um UAV de ataque REM 1 projetado pela China com uma carga útil de 400 kg, semelhante ao drone americano Reaper.

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