País dos piratas prepara ‘golpe’ do petróleo: milhares de milhões de barris estão em mar inexplorado

É um dos países mais pobres do mundo e o menos desenvolvido do planeta, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano da ONU: décadas de guerra civil, gestão desastrosa de recursos e fragmentação política transformaram a Somália numa espécie de Estado falido, dominada por gangues criminosos, senhores da guerra e piratas: sete em cada 10 pessoas vivem na pobreza.

A Somália, face à pobreza extrema, é conhecidas como o país dos piratas, cujos mares fazem parte daquela que é conhecida como a “próxima fronteira petrolífera”, assim como parte da América do Sul: um território pouco ou nada explorado que poderá ter milhares de milhões de barris de petróleo bruto, um ‘tesouro’ que, bem gerido, poderá ajudar a estimular a economia deste país africano.

Atualmente, centenas ou milhares de somalis arriscam as suas vidas todos os dias no Mar Vermelho, no Golfo de Aden, entre outros pontos-chave, atentos aos navios: de acordo com gestores de risco marítimo e seguradoras, os ataques piratas são hoje muito mais raros do que no período 2011-2014 e os piratas atacam principalmente navios mais pequenos em águas menos monitorizadas. A vigilância internacional conseguiu reduzir o problema, mas a pirataria continua relevante para um povo somali.

A instabilidade, a pirataria e as guerras impediram durante anos a chegada de investimento estrangeiro a este país: esta falta de investimento é a principal razão pela qual o petróleo ainda não é produzido na Somália. O risco de operar em águas tão perigosas e sem qualquer tipo de segurança ou proteção jurídica não valia a pena para as empresas.

De acordo com a S&P Global, “tem havido recentemente um interesse renovado nos campos de exploração na Somália, uma das últimas fronteiras para o desenvolvimento global de petróleo e gás, com a segurança energética de volta à agenda política no país da África Oriental após o fim de anos de conflito e instabilidade”.

A história do petróleo somali

A história do petróleo da Somália remonta à lenda da cidade de ‘El Dorado’… mas agora com petróleo. Há décadas que se fala do ‘tesouro’ que a Somália abriga, mais ainda ninguém viu uma gota. Empresas petrolíferas internacionais, como a Chevron, a Eni, a ExxonMobil e a Shell, começaram a explorar o país na década de 1950, mas retiraram-se quando o país mergulhou numa sangrenta guerra civil em 1991.

Porém, hoje, a ‘Coastline Exploration’, com sede em Houston (Estados Unidos), lidera a iniciativa, depois de ter adquirido sete blocos offshore ao Governo federal da Somália em 2022. Segundo o CEO Richard Anderson, “acreditam que há potencial para várias dezenas de bilhões de barris, recuperáveis, ou até mais ao longo do tempo”. A Coastline, que pagou 7 milhões de dólares pelos blocos, vai começar a realizar sísmica 3D em novembro, com o objetivo de perfurar em meados de 2025.

Entretanto, há rumores na indústria de que a ExxonMobil e a Shell planeiam regressar à Somália. Para já, análises sísmicas 2D realizadas revelaram que poderão existir até 30 mil milhões de barris de petróleo bruto nos 15 blocos inicialmente oferecidos pelo Governo somali, o que tem gerado grandes expectativas no país: no início deste ano, Abdirizak Omar Mohamed, ministro do Petróleo e Recursos Minerais somali, garantiu que “a Somália começará a produzir petróleo no seu território pela primeira vez na história no final deste ano”.

Estudos geossísmicos, confirmados pelos EUA, demonstraram que a Somália tem reservas potenciais de petróleo e gás natural equivalentes a várias dezenas de milhares de milhões de barris. Tal é a expectativa que outras empresas começaram a negociar com o Governo da Somália para obter novas licenças noutros blocos fronteiriços que a Coastline Exploration está a analisar. Como aconteceu na pequena Guiana, uma vez encontrado petróleo de qualidade em blocos inexplorados, demora muito pouco tempo para que os gigantes do setor chegarem para tentar limpar o que resta ou procurar novas jazidas de petróleo.

Apesar de toda essa expectativa e entusiasmo, a S&P Global explicou que atuar na região pode ser um desafio. A Somália continua a ser um país instável, que entre 2021 e 2023 sofreu uma seca que levou metade da população a sofrer de deficiências nutricionais. Neste clima de pobreza e incerteza, tribos, clãs e grupos religiosos estão a ganhar força e a testar o Governo da Somália. Embora até à data o Governo Federal tenha conseguido “apagar estes incêndios”, a fraqueza inerente desta instituição representa um risco notável que põe em perigo os investimentos de empresas estrangeiras.

Por exemplo, na região separatista da Somalilândia (norte da Somália), a Genel Energy, cotada em Londres, provocou a ira do Governo federal da Somália ao adquirir vários blocos negociados com o Governo local, que poderiam conter 5 mil milhões de barris de petróleo. A Somalilândia declarou independência da Somália em 1991, mas a sua tentativa de obter reconhecimento internacional estagnou. O Estado separatista vê os acordos com empresas internacionais como fundamentais para a sua missão de independência.

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