Grandes grupos empresariais e algumas das famílias mais ricas do país: quem doa mais dinheiro aos partidos políticos?

Os partidos com assento parlamentar receberam, nos últimos cinco anos, em média, cerca de um milhão de euros em donativos por ano, com PS e PSD como os que atraem mais dinheiro. Na lista de doadores, indica esta quinta-feira a revista ‘Sábado’, estão algumas das famílias mais ricas do país, assim como gestores dos mais poderosos grupos económicos portugueses.

Sempre que há eleições, há um pico no fluxo de donativos no trimestre anterior à ida às urnas: em 2022, o PSD recebeu 30 mil euros da família Costa Leite, que construiu um império com madeira e o Finibanco; já o PS recebeu quase 40 mil euros de elementos da construtora Mota-Engil e 30 mil euros dos donos do grupo Barraqueiro. O Chega recebeu 20 mil euros, em dois dias, dos donos da Quinta da Marinha. A Iniciativa Liberal, em duas semanas de pré-campanha para as europeias de 2019, averbou 20 mil euros de vários empresários.

Esta é a regra: grande parte dos partidos procura ativamente donativos em anos eleitorais.

No caso do PS, há doadores habituais: do universo da construtora Mota-Engil, o então CEO António Manuel Queirós Vasconcelos Mota doou 10 mil euros em todas as eleições, assim como o sobrinho Carlos António Vasconcelos Mota Santos, então vogal do conselho de administração e hoje CEO – da mesma empresa, o então CFO, José Pedro Matos Marques Sampaio de Freitas, e José Manuel Mota Neves Costa, administrador na Fundação Manuel António da Mota.

O dono da Barraqueiro – e antigo administrador da TAP -, Humberto Pedrosa, está na lista dos doadores regulares dos socialistas, assim como os filhos. Com um desvio: em 2020, a família Pedrosa fez um donativo de 5 mil euros para o partido de André Ventura. Da hotelaria chegam Dionísio Fernandes Pestana, CEO da cadeia Pestana, Nazir Din, dos Sana, e Stefano Saviotti, do Hotel Dom Pedro Lisboa.

No total, o PS foi o partido que mais angariou em tempo de eleições: 287 mil euros em 2019, 565 mil em 2021 e 160 mil em 2022, uma parcela significativa dos 4 milhões de euros doados a partidos nos últimos cinco anos.

No PSD, ganha destaque o comendador António da Silva Rodrigues, fundador do Grupo Simoldes, assim como a mulher, membros de uma das famílias mais ricas do país, avaliada em 1.320 milhões de euros, de acordo com a revista ‘Forbes’. Em 2021, o maior donativo chegou de Avelino Mota Gaspar, dono da empresa Lusiaves, um dos maiores grupos portugueses do setor agroalimentar. Nas eleições legislativas de 2022, os sociais-democratas receberam cerca de 30 mil euros da família Costa Leite, herdeira da histórica empresa Arsopi.

Na Iniciativa Liberal, no pós-eleições europeias em 2019, Miguel Espírito Santo Silva Mello, primo de Ricardo Salgado, Pedro Manuel Seabra Van Zeller, charmain da Caravela Gest (detentora da marca Häagen-Dazs) ou Rui Paiva, CEO da Unidade Global de Risco da Mobileum, foram os mais ativos – desde então, Gonçalo Calle Lucas Mendes, sócio na sociedade gestora de fundos de investimento Oxy Capital, Miguel Stiwell d’Andrade, CEO da EDP e Paulo carmona, atual diretor-geral da Energia e Geologia, ganharam destaque nas contas liberais. Luís Amaral, CEO da Eurocash e acionista do jornal ‘Observador’, doou 20 mil euros ao partido de Rui Rocha.

De acordo com a revista ‘Sábado’, o partido de Nuno Melo averbou mais de 671 mil euros nos últimos cinco anos, sendo que o grupo Silmodes é o mais ativo.

O Chega de André Ventura (com cerca de 497 mil euros) tem contado com militantes em vez de grandes empresários. No entanto, destacam-se as contribuições, nas autárquicas de 2021, Miguel Vilardebó Sommer Champalimaud, dono da Quinta da Marinha, que doaram mais de 22 mil euros ao partido de André Ventura. Nos últimos anos, as contas de donativos do Chega não têm sido claras: em 2022, não há referências à identidade dos doadores e de 2021 havia doadores por identificar, que correspondiam a mais de metade dos donativos (cerca de 21 mil euros).

À esquerda, o número de donativos é muito menor: entre os mais de 4 milhões de euros doados nos últimos cinco anos, Bloco de Esquerda, PCP, Livre e PAN receberam cerca de 150 mil euros, apenas 3,36% do total. No entanto, há fenómenos específicos nestes partidos: a proeminência de contributos de militantes.

No caso do BE (quase 14 mil euros), alguns dos donativos chegaram de assessores do partido: Ricardo Fuertes, então assessor de Manuel Grilo, vereador bloquista em Lisboa, Fabian Figueiredo, então adjunto do grupo parlamentar e hoje deputado, Madalena Figueira, assessora no Parlamento Europeu, foram os principais rostos das contribuições.

No PCP (cerca de 53 mil euros) não há donativos avultados, mas quando os há, tem sempre o mesmo rosto: António Joaquim Gonçalves, CEO do Grupo Imobiliário Libertas

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