PR iraniano promete trabalhar para que polícia da moralidade deixe de visar mulheres

O Presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, afirmou hoje que a chamada polícia da moralidade “deveria” ter cessado atividades, dois anos após a morte de Mahsa Amini, jovem detida por esta força por não usar corretamente o lenço islâmico.

“A polícia da moralidade continua a incomodar as pessoas?”, questionou o líder iraniano após ser confrontado com o tema por um jornalista, na primeira conferência de imprensa após a tomada de posse no final de julho.

“Vou investigar o assunto. Era suposto terem parado”, acrescentou Pezeshkian, que durante a campanha eleitoral deu a entender que, se pudesse, tiraria das ruas a temida Polícia da Moralidade.

O Presidente iraniano respondia a uma jornalista que lhe disse que, para chegar ao local da conferência de imprensa, em Teerão, teve de fazer vários desvios para evitar a força encarregada de fazer cumprir o rigoroso código de vestuário da República Islâmica.

Mais tarde, outra jornalista levantou a questão da Polícia da Moralidade e do véu, tendo o Presidente afirmado que iria abordar o assunto de forma a “chegar a um compromisso” com a outra parte, numa aparente referência aos setores mais conservadores da política do país islâmico.

A Polícia da Moralidade regressou às ruas do país em meados de abril e voltou a deter as mulheres que não usam o ‘hijab’, que acabam normalmente libertadas depois de assinarem um documento em que se comprometem a usar o véu.

As declarações de Pezeshkian surgem no mesmo dia em que as mulheres iranianas estão a manifestar-se em todo o país em memória da morte da jovem curda Mahsa Amini, detida pela polícia de costumes iraniana a 13 de setembro de 2022, por alegadamente não estar a usar devidamente o véu islâmico, acabando por morrer, três dias depois, ainda sob custódia policial.

Nesse contexto, a iraniana Narges Mohammadi, Prémio Nobel da Paz, apelou hoje à comunidade internacional para “pôr fim ao silêncio e à inação” face à opressão das mulheres no Irão, exatamente dois anos após a eclosão do movimento “Mulher, Vida Liberdade”, na sequência da morte de Amini.

“Apelo às instituições internacionais e aos povos para que atuem. Exorto as Nações Unidas a pôr fim ao seu silêncio e inação face à opressão e discriminação devastadoras perpetradas por governos teocráticos e autoritários contra as mulheres, criminalizando o apartheid de género”, declarou Mohammadi, detida desde novembro de 2021, numa mensagem transmitida por pessoas próximas nas redes sociais.

Domingo, Mohammadi anunciou que ela própria e 33 outras mulheres iniciaram uma greve de fome para assinalar o segundo aniversário da morte de Amini.

“De novo, as prisioneiras políticas e ideológicas de Evin [prisão nos arredores da capital iraniana] começaram uma greve de fome em solidariedade com o povo em protesto no Irão contra as políticas opressivas do governo” de Teerão, escreve.

A Nobel da Paz 2023 – uma das vozes mais importantes na defesa dos direitos humanos no Irão, condenada em seis ocasiões a um total de 13 anos e três meses de prisão e 154 chicotadas – já no sábado conseguira utilizar a rede social Instagram para divulgar o protesto de dezenas de detidas em Evin, clamando “mulher, vida, liberdade”, o grito do movimento criado após a morte de Amini.

Segundo Mohammadi, as prisioneiras queimaram véus no pátio da prisão, ato habitual durante os protestos desencadeados após a morte de Amini.

A morte da ativista foi seguida de protestos que duraram meses e foram brutalmente reprimidos pelas autoridades iranianas, com um balanço de 500 mortes, dez execuções e 22 mil detenções.

Sob as palavras de ordem “mulher, vida, liberdade”, milhares de manifestantes pediram o fim do regime teocrático iraniano.

Embora os protestos sejam agora limitados e esporádicos, as autoridades iranianas continuam a calá-los metodicamente: o Irão executou dez homens condenados à morte em processos ligados ao movimento, o último dos quais Gholamreza Rasaei, de 34 anos, foi enforcado em agosto, poucos dias depois da tomada de posse do novo Presidente.

Os grupos de defesa dos direitos humanos denunciam igualmente o número crescente de execuções por todo o tipo de delitos, destinadas a criar medo e a dissuadir os opositores de qualquer predisposição para a dissidência.

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