“É claro que é espanhol”: Governo de Madrid defende posse de Olivença
O delegado do Governo de Espanha na região da Extremadura disse hoje que Olivença é espanhola com uma origem e passados portugueses, a que os seus habitantes não renunciam, e defendeu a promoção da singularidade da localidade.
José Luis Quintana, que falava com jornalistas em Badajoz, lembrou ainda que Portugal e Espanha, ao assinarem os respetivos tratados de adesão à União Europeia, acordaram e reconheceram que “não se podem reclamar os limites de cada país nos tribunais internacionais”.
Para o representante do governo espanhol na região autónoma da Extremadura, onde fica localizada Olivença, “é claro que o município é espanhol, embora não renuncie de nenhuma forma às suas origens e passado portugueses”.
Jose Luis Quintana lembrou que há mais de mil pessoas em Olivença que têm dupla nacionalidade e afirmou que os habitantes do município se sentem orgulhosos do seu passado.
O delegado do Governo de Espanha (liderado pelo Partido Socialista, PSOE) defendeu “avanços na singularidade de Olivença como espanhola com passado histórico português”.
Jose Luis Quintana comentou assim as declarações sobre Olivença do ministro da Defesa de Portugal, Nuno Melo, na sexta-feira.
O presidente da câmara de Olivença, Jose González Andrade, presente no mesmo evento de hoje em Badajoz, considerou infelizes e deslocadas as declarações de Nuno Melo e sublinhou que o próprio ministro “foi consciente” disso mesmo e posteriormente esclareceu que são uma posição pessoal que não vincula o Governo português.
Para o autarca, o ministro não pode “fazer este tipo de declarações sobre polémicas esquecidas” e disse que os habitantes de Olivença “sabem onde estão, orgulhosos do seu passado português” e afastados “de discursos anacrónicos que só pretendem dividir e levantar muros onde há muito tempo há pontes”.
González Andrade acrescentou que as relações de Portugal e Espanha são atualmente excelentes e por isso considerou especialmente “fora de lugar e absolutamente infelizes” as declarações de Nuno Melo.
“Em Olivença sabemos onde estamos e também nos sentimos orgulhosos desse passado português. A cidade tem mais de oito séculos de história desde a sua fundação e durante mais de cinco fomos portugueses. Evidentemente, isso reflete-se na localidade, reflete-se no caráter de quem lá vive e reflete-se noutras singularidades que nos tornam únicos na Península Ibérica”, acrescentou, revelando que gosta de dizer que Olivença é “a capial ibérica”.
Para o autarca, a relação de Portugal com Espanha e o caso de Olivença são um exemplo de diálogo e de mistura de culturas “que é preciso aproveitar de forma positiva” e não com discursos que dividem ou reavivam polémicas.
Também hoje, em Mérida, a presidente do governo regional da Extremadura, María Guardiola, disse que o debate sobre Olivença não está em cima da mesa e realçou as boas relações entre Portugal e Espanha.
A líder da Junta da Extremadura, que é do Partido Popular (PP, direita), disse que Olivença é espanhola desde 1801 e “vai continuar a ser”.
María Guardiola destacou a seguir a relação “fantástica” da Extremadura com Portugal, como provam as últimas décadas em termos de cooperação transfronteiriça.
“Avançámos mais como parceiros europeus e irmãos do que nos últimos séculos”, afirmou, citada pela agência de notícias EFE e a rádio COPE.
Sobre as declarações de Nuno Melo, afirmou que é uma opinião pessoal do ministro e líder do CDS-PP.
“Não a partilho e na Extremadura vamos continuar a defender a espanholidade de Olivença”, acrescentou.
Nuno Melo afirmou na sexta-feira, na cerimónia comemorativa do Dia do Regimento de Cavalaria N.º 3 (RC3), em Estremoz, que “Olivença é portuguesa, naturalmente, e não é provocação nenhuma”.
“Aliás, por tratado, Olivença deverá ser entregue ao Estado português”, continuou Nuno Melo em resposta aos jornalistas.
Posteriormente, escreveu na rede social X que a posição que expressou é pessoal e que “não vincula o Governo” (PSD/CDS-PP, liderado por Luís Montenegro).
Olivença, com cerca de 12 mil habitantes, é uma cidade na zona raiana reivindicada por direito por Portugal, desde o tratado de Alcanizes, em 1297, mas que Espanha anexou e mantém integrada na província de Badajoz, na comunidade autónoma da Extremadura, apesar de ter reconhecido a soberania portuguesa sobre a cidade quando subscreveu o Congresso de Viena, em 1817.