Fuga em Vale de Judeus: Guarda deu primeiro sinal com luzes de carrinha de alimentos. SIRESP nunca foi ativado

A fuga de cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus, em Alcoentre, revelou uma série de falhas no sistema de comunicação e na formação dos guardas prisionais, que contribuíram para a demora na reação das autoridades. O primeiro sinal de alerta foi dado através de sinais de luzes, emitidos por um guarda prisioneiro a partir de uma carrinha de transporte de alimentos. Contudo, o sistema de comunicação de emergência SIRESP, que poderia ter mobilizado todas as forças policiais de imediato, nunca foi ativado.

A fuga dos reclusos, que durou cerca de seis minutos, foi inicialmente detetada por um guarda prisional, que utilizou sinais de luzes para alertar um colega. O guarda encontrava-se numa carrinha Ford Transit, equipada com uma câmara frigorífica para conservar alimentos destinados aos reclusos, quando avistou uma escada que sugeria a evasão. Em vez de recorrer ao sistema de comunicação SIRESP, que teria acionado um alerta imediato a todas as forças de segurança e Proteção Civil, o guarda optou por comunicar a ocorrência via rádio.

De acordo com Frederico Morais, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP), os guardas prisionais não receberam a formação necessária para utilizar o sistema SIRESP. “Os equipamentos têm, de facto, a possibilidade de comunicação com a rede SIRESP, mas os guardas nunca receberam formação sobre como utilizar essa funcionalidade”, afirmou. A ativação deste sistema teria disseminado a mensagem “fuga, fuga, fuga” em tempo real, possibilitando uma resposta mais eficaz.

A falta de acionamento do sistema SIRESP fez com que apenas os funcionários da cadeia de Alcoentre fossem informados da fuga, e ainda assim, o alerta só foi transmitido uma hora após a evasão. O tempo que decorreu entre o momento da fuga e a comunicação oficial às autoridades competentes permitiu que os cinco reclusos ganhassem vantagem na sua tentativa de fuga.

Segundo a ministra da Justiça, Rita Júdice, o alerta inicial foi dado entre as 11h04 e as 11h08. No entanto, a confirmação oficial da fuga e a identificação dos reclusos só foram transmitidas à Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais por volta das 12h00, quase uma hora após o início da evasão. Este atraso comprometeu a capacidade de resposta das autoridades, que poderiam ter mobilizado recursos de forma mais célere para capturar os evadidos.

A reconstituição dos eventos, realizada pelo Correio da Manhã, veio ao encontro dos dados apresentados pela ministra Rita Júdice. Durante a conferência de imprensa, a ministra confirmou a cronologia dos acontecimentos e sublinhou a importância de rever os procedimentos de formação dos guardas prisionais, especialmente no que diz respeito à utilização de sistemas de comunicação de emergência.

A fuga dos reclusos de Vale de Judeus levantou preocupações quanto à segurança das instalações prisionais e à eficácia dos sistemas de comunicação e resposta a emergências. Com a confirmação de que os guardas prisionais não tinham a formação necessária para utilizar o SIRESP, a questão da segurança nas prisões torna-se ainda mais urgente, especialmente quando se trata de prevenir futuras evasões.

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