Rússia tenta influenciar as eleições nos EUA: conheça as cinco táticas de desinformação preferidas do Kremlin

A recente exposição pela Casa Branca das tentativas russas de influenciar as eleições presidenciais dos EUA que vão decorrer em novembro deste não foram uma surpresa, sobretudo para quem acompanhou as táticas de desinformação durante as últimas eleições americanas, que ditaram a derrota de Donald Trump face a Joe Biden.

Na campanha de 2020, o Kremlin utilizou os seus veículos de media patrocinados pelo Estado – o canal de televisão internacional ‘RT’ e a rádio ‘Sputnik’ – para divulgar conteúdos a questionar a legitimidade do processo democrático americano: foram também descobertas redes de bots e trolls patrocinados por Moscovo para espalhar desinformação divisiva e teorias da conspiração online.

No entanto, desta feita, os EUA apreenderam uma rede de domínios de internet administrados por russos e sancionaram dez pessoas, incluindo Margarita Simonyan, editora-chefe da ‘RT’ (antiga ‘Russia Today’), por “atividades que visam deteriorar a confiança pública nas nossas instituições”. As sanções incluem o congelamento de qualquer propriedade ou ativos nos EUA e, potencialmente, restrições a qualquer cidadão ou empresa dos EUA que trabalhe com eles.

Os EUA também acusaram dois responsáveis da ‘RT’ baseados em Moscovo, Kostiantyn Kalashnikov e Elena Afanasyeva, sob a lei de lavagem de dinheiro por pagar criadores de conteúdo dos EUA para espalhar “propaganda e desinformação pró-Rússia” nos EUA.

De acordo com o site ‘The Conversation’, as práticas alegadas pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos correspondem a uma prática padrão nas tentativas russas de influenciar públicos internacionais – estas obedecem a cinco características principais.

Utilizar influencers locais.

O DOJ acusou funcionários da ‘RT’ de pagarem a uma empresa sediada no Tennessee quase 10 milhões de dólares para produzir conteúdos de media social alinhados com os interesses russos, sem revelar, no entanto, que o financiamento chegou, em última análise, do Estado russo.

Vários influencers com ligações à empresa do Tennessee garantiram que tinham controlo editorial sobre o seu conteúdo e negaram conhecimento de quaisquer ligações à Rússia. No entanto, este é um padrão tipo. Primeiro, a ‘RT’ trabalha há muito tempo tempo com o espaço dos media populistas de direita e frequentemente imita o estilo e as práticas: frequentemente, vincula as suas peças no seu site, promove as personalidades dos media de direita e distribui os seus programas, além de apresentá-los nas suas próprias plataformas.

Dessa forma, a ‘RT’ frequentemente providenciou uma plataforma, financiamento e rédea solta a personalidades dos media dos países debaixo de olho russo – vários estudos já apontaram que as pessoas são mais propensas a acreditar naquilo que ouviram repetidas vezes, sejam essas alegações verdadeiras ou não.

Veículos de notícias falsas.

Parte integrante deste caso, os EUA apreenderam uma rede de domínios de internet supostamente usados ​​para promover informações falsas direcionadas a subconjuntos específicos da população dos EUA. Disfarçados de sites locais, os seus conteúdos tendem a explorar as preocupações sociais específicas e controvérsias que têm impacto em grupos-alvo específicos, bem como amplificar os principais pontos de discussão russos.

Já tinha sido visto no passado: a Agência de Pesquisa da Internet, apoiada pelo Kremlin, criou um site falso de notícias de esquerda e enganou freelancers ​​para contribuírem com conteúdo para operações de informação russas. De acordo com os especialistas, este site não apenas fazem referências cruzadas entre si, mas também frequentemente fazem referências cruzadas de outros site autointitulados ‘contra o mainstream’ para aumentar a sua credibilidade com determinados grupos demográficos online.

Adicionar combustível ao fogo.

Outra tática comum para manter o conteúdo credível é vinculá-lo aos medos e preocupações que já são importantes em qualquer sociedade. Por exemplo, a Rússia não trouxe a guerra cultural para os EUA, mas habilmente explorou as ansiedades da sociedade americana em torno deste tópico.

Ou seja, quando os sites russos se disfarçam de fontes locais, tornam prioritários temas que são familiares para os seus públicos-alvo – normalmente, tópicos divisivos que são ‘embelezados’ com uma manta de retalhos de informações reais e fabricadas, o que torna difícil ao público separá-los. De qualquer forma, as suas motivações iniciais significam que muitas vezes não estão motivados a tentar.

Inverter o roteiro.

Moscovo negou repetidamente qualquer envolvimento em campanhas de influência, à semelhança do que fez em 20219, quando o Reino Unido acusou o Kremlin de uma série de envenenamentos pela substância Novichok.

Esta é a resposta do ‘roteiro invertido’ dos representantes russos repetido – o embaixador de Moscovo em Washington, Anatoly Antonov, rejeitou as alegações americanas como um produto da “russofobia” – o mesmo termo utilizado pela embaixada russa após os envenenamentos no Reino Unido.

Já a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, tem repetido o seu tema favorito nos últimos anos, acusando os EUA de se tornarem “uma ditadura neoliberal totalitária” – o que até parece ‘divertido’ vindo de um país que criminalizou as críticas à sua invasão da Ucrânia. No entanto, o modus operandi está identificado: as mentiras descaradas andam de mão dada com as operações de informação russa.

Humor.

O Kremlin utiliza igualmente o humor de forma estratégica: a ‘RT’ tornou-se uma pioneira no uso do humor para legitimar as ações da Rússia ou neutralizar críticas. No entanto, a rede televisiva não utiliza apenas o humor para reportar a política internacional – a sua marca registada é conscientemente se incluir como parte da piada: várias campanhas publicitárias da ‘RT’ utilizaram as críticas estrangeiras como um ponto de venda.

Basta ver a resposta sarcástica de Simonyan às últimas acusações dos EUA: em comentários publicados na rede social ‘Telegram’, a editora-chefe da ‘RT’ rejeitou as alegações como o alarmismo dos EUA “sobre a todo-poderosa ‘RT'”.

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