Cai o Cairo (e a Trindade)? Egito está a construir uma nova capital e segue tendência global de descentralização
O Egito está a mover-se rumo a um novo futuro, abandonando a sua histórica capital, Cairo, para construir uma nova cidade administrativa a cerca de 40 quilómetros de distância. Esta iniciativa faz parte de uma tendência global onde vários países estão a reconsiderar a centralização das suas capitais, optando por criar novas sedes administrativas ou deslocar partes da sua administração para outras regiões.
No caso do Egito, a construção da Nova Capital Administrativa surge como resposta ao crescimento descontrolado e à sobrepopulação de Cairo. A cidade está a ser desenhada para abrigar as elites e os funcionários de mais alto escalão, com preços de habitação muito além do alcance da maioria dos egípcios. Planeada para estar totalmente operacional até 2030, algumas repartições governamentais já começaram a planear a mudança para esta nova localização nos próximos anos. O projeto, além de pretender aliviar a pressão sobre Cairo, tem também um objetivo estratégico: evitar a repetição de protestos populares como os que levaram à queda do presidente Hosni Mubarak em 2011.
Esta estratégia de mudar a capital não é exclusiva do Egito. A Indonésia, por exemplo, enfrenta um problema semelhante em Jacarta, que está lentamente a afundar-se sob o nível do mar. O governo indonésio decidiu transferir a capital para a ilha de Bornéu, uma localização mais central e menos vulnerável às ameaças ambientais que assolam Jacarta. No entanto, este projeto não é isento de controvérsias, já que a construção da nova capital envolverá a destruição de cerca de 260.000 hectares de floresta tropical, colocando ainda mais pressão sobre o delicado equilíbrio ecológico da região. Para os habitantes de Jacarta, a mudança representa uma incógnita, uma vez que não há planos claros sobre como serão afetados, embora se preveja que um terço da cidade esteja submerso até 2050.
Este movimento de descentralização é cada vez mais comum, não só em países em desenvolvimento, mas também na Europa. Em Espanha, o Conselho de Ministros anunciou recentemente a criação da Agência Espacial Espanhola, cuja sede ficará em Sevilha, em vez de Madrid. Esta decisão faz parte de um esforço tímido, mas crescente, de descentralizar as funções governamentais, aliviando a pressão sobre as grandes capitais. Este fenómeno não é exclusivo de Espanha. Países como Noruega e Dinamarca também têm adotado medidas semelhantes. Desde 2018, o governo norueguês já transferiu cerca de 1.200 funcionários públicos para outras regiões do país, enquanto a Dinamarca escolheu mais de 30 cidades para relocalizar um terço dos seus trabalhadores governamentais.
No continente americano, o México está a seguir um caminho semelhante. Uma das promessas do presidente Andrés Manuel López Obrador foi precisamente a de deslocar algumas secretarias para estados mais periféricos, com o objetivo de reforçar os laços entre a administração central e as regiões mais afastadas do país.
A digitalização e a expansão do teletrabalho estão a mudar as dinâmicas tradicionais, diminuindo a necessidade de manter a administração centralizada nas grandes capitais. Além disso, a dispersão dos centros de poder pode trazer benefícios significativos, como a redução da pressão ambiental, níveis de poluição, preços da habitação e até questões de segurança, tornando as novas capitais menos vulneráveis a ameaças como ataques terroristas ou ciberataques. Este movimento global de descentralização está a remodelar o futuro das nações, trazendo consigo novos desafios e oportunidades.