Geórgia ‘transformada’ em Coreia do Norte? Primeiro-ministro prepara-se para proibir a oposição caso vença as eleições deste ano

As ambições da Geórgia de aderir à União Europeia (UE) estão a enfrentar um novo obstáculo, após o partido no poder ter anunciado planos para proibir praticamente todos os seus adversários políticos, caso vença as eleições parlamentares deste ano. Este movimento é visto por analistas como uma ameaça grave à democracia no país.

Pedro Gonçalves
Agosto 23, 2024
16:05

As ambições da Geórgia de aderir à União Europeia (UE) estão a enfrentar um novo obstáculo, após o partido no poder ter anunciado planos para proibir praticamente todos os seus adversários políticos, caso vença as eleições parlamentares deste ano. Este movimento é visto por analistas como uma ameaça grave à democracia no país.

O primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Kobakhidze, revelou que o governo pretende banir mais de meia dúzia de partidos após as eleições nacionais de outubro, uma decisão que poderá arruinar as já frágeis aspirações da Geórgia de se juntar à UE. Esta declaração surge poucos dias depois do partido governante, Georgian Dream, ter ameaçado dissolver o maior partido de oposição no parlamento, o Movimento Nacional Unido (UNM), fundado pelo ex-presidente georgiano Mikheil Saakashvili.

Além do UNM, outras facões pró-Ocidente com assento parlamentar também enfrentam a possibilidade de serem desmanteladas. Kobakhidze afirmou que, “na realidade, todos eles representam uma única força política.” E acrescentou que qualquer deputado eleito nas plataformas desses partidos seria impedido de tomar posse.

“Considero que a abolição dos mandatos [parlamentares] será a continuação lógica da proibição destes partidos. Membros criminosos de forças políticas criminosas não devem exercer o estatuto de membro do parlamento da Geórgia,” declarou Kobakhidze.

“Este movimento efetivamente banirá toda a oposição que o Georgian Dream vê como uma ameaça,” alertou Tinatin Akhvlediani, investigador no Centro de Estudos de Política Europeia, em declarações ao jornal Politico. “Os únicos paralelos para este tipo de situação são Alexander Lukashenko na Bielorrússia ou a Coreia do Norte — seria o fim da democracia na Geórgia.”

Os partidos da oposição têm tentado unir forças antes das eleições para derrotar o Georgian Dream, que tem enfrentado protestos populares nos últimos meses, após a introdução de uma lei inspirada na Rússia que rotula ONGs e meios de comunicação apoiados pelo Ocidente como “agentes estrangeiros.”

Kobakhidze rejeitou as acusações de que o país está a enveredar por um caminho ditatorial, afirmando que tanto a Ucrânia como a Moldávia proibiram partidos políticos sem comprometerem os seus laços com o Ocidente. “O mesmo acontecerá no caso da Geórgia,” afirmou.

Estes dois países da Europa de Leste baniram facções pró-Moscovo na sequência da guerra da Rússia contra a Ucrânia e de avisos de que estas facções estavam a planear golpes de estado — mas ambos mantiveram sistemas multipartidários vibrantes.

Tina Bokuchava, líder do UNM, afirma ao mesmo jornal que a tentativa de banir o seu partido prova que o Georgian Dream se transformou num “governo autoritário ao estilo de Putin.”

A UE congelou a candidatura da Geórgia para adesão ao bloco europeu, em meio a avisos de retrocessos nos direitos humanos, enquanto os Estados Unidos suspenderam financiamentos essenciais ao país do Cáucaso do Sul devido à sua aproximação ao Kremlin.

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