Atitude dos russos face a Putin está a mudar? Análise às redes sociais revela onda crescente de críticas desde incursão da Ucrânia em Kursk

As atitudes em relação ao Presidente Vladimir Putin parecem estar a mudar na Rússia, com um aumento de sentimentos negativos desde que as tropas ucranianas iniciaram uma incursão em território russo, de acordo com a FilterLabs AI, uma empresa que monitoriza as opiniões públicas no país através da análise de redes sociais e outras publicações online.

Nas últimas semanas, desde que as forças ucranianas penetraram na região de Kursk, no oeste da Rússia, observou-se um aumento notável de críticas ao governo russo, e especificamente a Putin, entre os utilizadores das redes sociais russas. Embora os meios de comunicação estatais tenham tentado dar uma conotação positiva aos acontecimentos, centrando-se na resposta humanitária do governo russo, as redes sociais contam uma história diferente.

Muitas das publicações analisadas pela FilterLabs AI sugerem que o avanço ucraniano é visto como uma falha do governo russo, colocando a culpa diretamente em Vladimir Putin. Avaliar com precisão a opinião pública num país autoritário como a Rússia é sempre um desafio, pois as pessoas tendem a responder de forma a alinhar-se com o que percebem ser a vontade do governo. Para superar esta limitação, a FilterLabs utiliza modelos de computador para analisar os sentimentos expressos em comentários em redes sociais, fóruns online e sites de notícias, permitindo uma visão mais realista das opiniões dos cidadãos russos comuns.

No ano passado, a popularidade de Putin sofreu um revés significativo após a rebelião armada de curta duração liderada por Yevgeny Prigozhin, chefe de uma força paramilitar russa. Contudo, a mudança de sentimento pareceu ser ainda mais acentuada desde o início da incursão ucraniana em Kursk. “A resposta de Putin à incursão foi vista, na melhor das hipóteses, como inadequada e, na pior, como insultuosa”, afirmou Jonathan Teubner, CEO da FilterLabs.

Apesar de as atitudes em relação a Putin permanecerem mais positivas em Moscovo, onde o controlo governamental sobre os meios de comunicação e o debate público é mais rígido, mesmo na capital a opinião pública sobre o presidente tem vindo a deteriorar-se, ainda que de forma mais lenta do que no resto do país. Nas regiões mais periféricas da Rússia, a frustração com o Kremlin está a crescer, segundo a análise.

Fontes oficiais americanas, no entanto, alertam que ainda é cedo para determinar se esta deterioração da reputação de Putin será duradoura. Recordam que, após o fim da rebelião de Prigozhin, a popularidade de Putin rapidamente recuperou, evidenciando a sua capacidade constante de manipular a percepção pública a seu favor. Contudo, uma perda permanente de popularidade poderia complicar a capacidade do Kremlin de continuar a guerra na Ucrânia.

“É difícil, neste momento, determinar o impacto da contraofensiva ucraniana”, observou Teubner. “Mas é claro que está a ser um choque e, para Putin, um embaraço. A propaganda do Kremlin, as manobras e as distracções têm os seus limites, especialmente quando as más notícias se espalham amplamente pela Rússia.”

O sentimento em relação a Putin caiu drasticamente nas regiões onde o Kremlin se concentra nos seus esforços de recrutamento militar. A estratégia de recrutamento do Kremlin depende da sua capacidade de gerir a perceção da guerra. Se a popularidade e o prestígio de Putin diminuírem nessas regiões-chave – particularmente se os russos começarem a acreditar que a guerra está a correr mal – o Kremlin poderá enfrentar maiores dificuldades em preencher as suas fileiras militares, segundo a análise da FilterLabs.

O Kremlin continua a exercer uma forte influência sobre a cobertura da guerra pelos meios de comunicação nacionais, sendo raros os meios que dão destaque a notícias negativas. No entanto, os meios de comunicação regionais são menos propensos a suavizar as notícias, como notou Teubner.

A FilterLabs também monitoriza a desinformação russa. Segundo Teubner, a empresa identificou que, após o início da contraofensiva ucraniana, o Kremlin lançou uma campanha de propaganda direcionada às regiões fronteiriças da Rússia, num esforço para controlar a narrativa. Esta campanha, que relembra a propaganda soviética, alertava que operações psicológicas ucranianas estavam a visar os russos.

Mesmo enquanto os sites de notícias locais propagavam a propaganda, misturavam-na com relatos da incursão ucraniana, informações que eram mais difíceis de encontrar em Moscovo. Na União Soviética, esta técnica de misturar más notícias com propaganda era conhecida como “arenque podre”, referiu Teubner.

Um exemplo claro disso foi um artigo que, ao mesmo tempo que exibiu pinturas glorificando o poderio militar russo, relatou também o duelo de artilharia forçado pelas tropas ucranianas em Kursk.

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