Reino Unido coloca ‘linhas vermelhas’ à Ucrânia e proíbe Zelensky de usar mísseis de longo alcance oferecidos por Londres em território russo
O governo britânico mantém firme o seu apoio à Ucrânia, mas impõe uma restrição clara: os mísseis de longo alcance fornecidos por Londres não devem ser usados em território russo. Esta ‘linha vermelha’ surge num momento de crescente tensão, após semanas de incursões ucranianas na região fronteiriça de Kursk, no interior da Rússia.
Desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, o Reino Unido tem sido um dos maiores apoiantes militares da Ucrânia,tendo fornecido ajuda no valor de 7,6 mil milhões de libras esterlinas, de um total de 12,5 mil milhões prometidos. Este apoio incluiu o envio de tanques “Challenger 2”, sistemas de defesa antiaérea, mísseis antitanque e munições. No entanto, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, recentemente expressou preocupações sobre um possível enfraquecimento deste apoio, apesar de reconhecer o papel de liderança desempenhado pelo Reino Unido ao salvar “milhares de vidas”.
Uma das principais fontes de fricção é o uso dos mísseis de longo alcance “Storm Shadow”, fornecidos pelo Reino Unido. Estes mísseis, com um alcance superior a 250 quilómetros, têm sido cruciais nas operações ucranianas contra as forças russas. No entanto, Londres impôs restrições rigorosas sobre o seu uso, proibindo a Ucrânia de os lançar contra alvos em território russo. Zelensky sublinhou a importância crítica de poder utilizar estes mísseis para as operações militares, apelando aos seus parceiros que “removam as barreiras” que limitam a capacidade da Ucrânia de enfraquecer as posições russas.
Em resposta, o governo britânico reafirmou que o seu apoio à Ucrânia é “inquebrávell”. Um porta-voz do primeiro-ministro Keir Starmer declarou que o governo continua “absolutamente firme” no seu compromisso com a Ucrânia, prometendo manter o apoio financeiro e militar, estimado em 3 mil milhões de libras anuais, “durante o tempo que for necessário”. No entanto, sobre a utilização dos mísseis “Storm Shadow”, Downing Street reiterou que não houve mudanças na posição do governo, insistindo que as operações com estes mísseis devem ser limitadas ao território ucraniano reconhecido internacionalmente.
Esta posição britânica tem gerado controvérsia, especialmente à luz das recentes incursões ucranianas em solo russo. Desde 6 de agosto, a Ucrânia lançou uma ofensiva na região de Kursk, na Rússia, marcando a maior incursão estrangeira em território russo desde a Segunda Guerra Mundial. O objetivo desta ofensiva parece ser criar uma “zona de amortecimento” para proteger a população ucraniana dos ataques russos, recorrendo a drones, artilharia e tanques, incluindo os “Challenger 2” fornecidos pelo Reino Unido.
Embora o Ministério da Defesa britânico tenha evitado comentários oficiais sobre a utilização destes tanques em território russo, um porta-voz reconheceu que “o direito da Ucrânia à autodefesa não exclui operações dentro da Rússia”. Esta declaração é vista por alguns como contraditória em relação às restrições impostas sobre os mísseis de longo alcance. Em maio, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, David Cameron, já havia dado luz verde ao uso de armamento fornecido por Londres na Rússia, com um porta-voz da Defesa a defender a sua utilização desde que respeite o direito internacional.
O ministro da Defesa britânico, John Healey, também se pronunciou a favor desta política, afirmando que a Ucrânia tem o direito de se defender, mesmo que isso implique levar a guerra a território russo. Num artigo publicado na imprensa britânica, Healey sublinhou que “devemos estar orgulhosos do apoio do Reino Unido à luta da Ucrânia”, destacando que o equipamento fornecido por Londres, nas mãos de corajosos soldados ucranianos, está a ajudar a defender o seu país e a pressionar Putin.
Moscovo já acusou o Ocidente de estar por trás dos ataques em território russo, e a utilização de armamento britânico nestas incursões pode reforçar essa narrativa.
Por outro lado, os Estados Unidos mantêm uma postura cautelosa quanto ao uso de armas de longo alcance em território russo, alertando para os riscos de uma escalada direta entre o Ocidente e a Rússia. Segundo informações do The Times, o governo britânico pediu há mais de um mês aos EUA que levantassem as restrições sobre as armas de longo alcance, mas o processo está bloqueado devido aos receios de Washington de uma possível escalada do conflito.