‘Guerra’ na UE devido aos lobos já tem agendado o combate decisivo: afinal, o que se passa?

Em 2000, a Alemanha tinha uma alcateia de lobos: em 2022, eram quase 200. Nesse outono, um desses lobos matou um pónei de 30 anos chamado ‘Dolly’ – o incidente provavelmente teria passado despercebido se não fosse a dona do animal: Ursula von der Leyen, o todo-poderosa presidente da Comissão Europeia.

O incidente empurrou a mais alta executiva da União Europeia para um debate político cada vez mais amargo: o que deve a Europa fazer relativamente às matilhas de lobos que se espalham pelo continente europeu e atacam ovelhas, cabras, burros e até cavalos?

Na Alemanha, a questão provocou lutas divisórias, colocando os agricultores contra os ecologistas, os eleitores rurais contra os eleitores urbanos e dando à ‘Alternativa para a Alemanha’, de extrema-direita, um poderoso tema de discussão a partir de 2019.

O tema chegou à UE através de Von der Leyen, que pretende reduzir as proteções que permitiram o aumento das populações de lobos na maioria dos países da União Europeia, sendo que foi a Alemanha que registou o maior aumento.

Esta campanha vai atingir o seu pico neste outono: a Comissão Europeia, o ramo executivo da UE em Bruxelas, está a tentar reunir apoio para a sua proposta de desclassificar os lobos de “estritamente protegidos” para “protegidos” – uma classificação estabelecida na Convenção de Berna sobre a Conservação da Vida Selvagem Europeia. A próxima reunião da convenção, a 2 de dezembro, promete ser ‘quente’ e, com apoio suficiente, Bruxelas terá autorização para modificar as próprias guerras da UE.

Mas qual é a dimensão do ‘problema’? De acordo com o jornal ‘POLITICO’, desde o século XIX que os lobos vagueiam pela maior parte da Europa continental, ainda antes da revolução industrial – na década de 1970, os predadores têm regressado, com estimativas de que a sua área tenha aumentado 25% só na última década.

A população de lobos continua a aumentar em 17 dos 24 países da UE onde o animal está presente: veja-se o caso da Alemanha – os lobos foram considerados extintos no início da década de 1990 e agora conta com 185 matilhas.

Em 2023, a Comissão Europeia divulgou um estudo aprofundado sobre os lobos em toda a UE, estimando que existam 20.356, sendo a maior proporção – pouco mais de 3.300 – encontrada em Itália. Roménia e Bulgária, com entre 2.500 e 2.999, completam o top 3 europeu. Já Portugal regista um população de menos de 500 exemplares, situados sobretudo em Trás-os-Montes e Minho.

Ameaças aos lobos da Europa

Os ecologistas têm considerado o lobo “uma espécie fundamental” devido ao seu papel como predador na cadeia alimentar: no entanto, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, a população de lobos na Europa é agora suficientemente grande para se tornar “como preocupante”.

Os lobos da Europa podem ser divididos em nove populações. Apesar do aumento recente, cinco destes grupos foram considerados “Quase Ameaçados” em 2022 e um, a população escandinava, foi considerado “Vulnerável”. Estas ameaças vão desde a caça a ser atropelado por um carro – em 19 países da UE foram registados incidentes com caça ilegal.

Os dados sobre a mortalidade dos lobos assim o demonstram: estudos mostram que onde a caça é ilegal a maioria dos lobos mortos foram abatidos, já onde a caça é ilegal a maioria morreu em acidentes de viação.

Mas porque é que as pessoas estão zangadas com os lobos?

Não será por atacar pessoas: entre 2002 e 2020, há provas de seis ataques de lobos a pessoas em países da UE, ou seja, um “risco acima do zero, mas demasiado baixo para ser calculado”.

Estão, no entanto, a matar gado. As ovelhas são as vítimas mais prováveis, com aproximadamente 12 mil mortas em França – em Portugal, foram registados mais de 2 mil ataques mortais. Há também exemplos de ataques a alpacas, cães e até cangurus de estimação.

Ainda assim, os ataques a gado e animais de estimação nos últimos anos resultaram em 18,7 milhões de euros de indemnizações aos seus proprietários – em Portugal, foram cerca de 330 mil euros disponibilizados.

E agora, o que se segue?

A Comissão Europeia terá de enfrentar alguns obstáculos consideráveis ​​se quiser conseguir o que pretende. Em primeiro lugar, os ministros do ambiente da UE estão a supervisionar as discussões e são amplamente favoráveis ​​à manutenção das proteções existentes. São os ministros da agricultura que pretendem, na sua maioria, tornar mais fácil a matança de lobos, defendendo os proprietários de gado loucos por perderem as suas propriedades.

A reunião da Convenção de Berna, de 2 de dezembro, em Estrasburgo, criou um prazo natural para estas discussões. A convenção só se reúne de forma intermitente, o que significa que se a UE não conseguir aprovar o ajustamento aí, terá de esperar.

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