Randstad Insight: O papel das pessoas com incapacidade no mercado de trabalho

Este estudo foca-se na análise do mercado de trabalho das pessoas com incapacidade em Portugal, um grupo cuja integração plena na sociedade e no emprego é crucial. A participação no mercado de trabalho promove a independência e autoestima destas pessoas e enriquece a diversidade e a inclusão no trabalho, beneficiando toda a sociedade.

No entanto, a obtenção de dados precisos e actualizados é essencial para entender e melhorar a situação deste grupo, pois os que se encontram disponíveis são poucos e obsoletos. Por isso, o objectivo deste estudo é apresentar uma visão completa do mercado de trabalho das pessoas com incapacidade, com base nos últimos dados disponíveis oficiais e em dados obtidos de forma interna.

As fontes externas utilizadas para a análise são os dados do INE (2021), da Eurostat (2023) e do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos (ODDH 2022 e 2023), que são os últimos dados disponíveis. Além desta informação, também foi usada informação primária através de um questionário para complementar a informação quantitativa.

O relatório está estruturado em três blocos:

O primeiro bloco apresenta o perfil sócio-demográfico das pessoas com incapacidade (cinco ou mais anos) e comparação europeia (16 ou mais anos).

O segundo bloco visa analisar as principais variáveis do mercado de trabalho das pessoas com incapacidade em idade activa (16 a 64 anos).

O terceiro bloco faz uma análise qualitativa do talento das pessoas com incapacidade.

01 – Perfil socio-demográfico das pessoas com incapacidade
Primeiro bloco

Este bloco faz uma análise do perfil sócio-demográfico das pessoas com incapacidade, usando os dados do INE do ano 2021 e da Eurostat do ano 2022, que são os últimos dados oficiais divulgados. Em termos de análise da evolução dos dados existe uma dificuldade comparativa devida a forma de recolha e tratamento dos dados.

No Censo do 2011 do INE, os dados focam-se nas pessoas com problemas de saúde ou doenças prolongadas, dados obtidos (ad hoc) no Inquérito ao Emprego “O emprego das pessoas com deficiência”. Também foi feita uma análise mais específica da população segundo a existência de dificuldades na realização de actividades básicas por condição perante o trabalho. Assim, os valores obtidos relativamente ao número de pessoas nestas situações é superior e dificilmente comparável aos obtidos no censo do ano 2021.

No Censo do 2021, também do INE, é feita uma análise da população com cinco ou mais anos, total e com incapacidade, segundo algumas características (socio-demográficas e socioeconómicas) para os seis domínios essenciais da funcionalidade, em conformidade com o modelo “Washington Group Short Set on Functioning” (WG-SS). Esta consideração dos dados é diferente da realizada no ano 2011 o que dificulta a comparação temporal dos dados. Nos Censos 2011, foram também recolhidos dados sobre os seis domínios de funcionalidade, mas existem vários aspectos que impedem uma comparação dos resultados.

Por último, neste bloco também é feita uma comparação com outros países da UE usando os dados da Eurostat do ano 2023. Os resultados também são diferentes dos dados divulgados pelo INE. Isto deve-se ao facto da Eurostat considerar a população com incapacidade aquela que tem limitação na realização de actividades incluindo diferentes dimensões do estado de saúde e limitações de actividade não permanentes, sendo esta população mais ampla que a considerada pelo INE.

O total da população com cinco ou mais anos que tem incapacidade foi de 1,09 milhões de pessoas, em 2021.

No ano 2021, segundo os da- dos do INE, do total de 9,94 milhões de pessoas residentes em Portugal, com mais de cinco anos, 1,09 milhões de pessoas tinham algum tipo de incapacidade (10,9% da população de mais de cinco anos). Segundo o modelo “Washington Group Short Set on Functioning” (WG-SS), existe in- capacidade quando a pessoa tem dificuldade ou não consegue realizar de todo uma das seis actividades específicas do modelo que correspondem aos domínios de funcionalidade universais: visão, audição, mobilidade (andar ou subir degraus), cognição ou memória, realização de cuidados pessoais (tomar banho ou vestir-se sozinha), e comunicação (compreender os outros ou fazer-se compreender).

A incapacidade de mobilidade é a mais prevalente, afectando 55,9% da população com incapacidade. Isso é seguido por limitações visuais (32,4%) e cognitivas/de memória (31,3%). Outros tipos de incapacidade incluem dificuldades auditivas (26,0%), nos cuidados pessoais (27,6%) e na comunicação (14,2%). Esses números destacam a diversidade de desafios enfrentados pelas pessoas com incapacidade. Apesar de não se poder comparar os dados directamente, esta situação já era observada em 2011 (censo anterior), com um ligeiro aumento na prevalência de incapacidade grave em termos de mobilidade e cuidados pessoais, e uma pequena diminuição nas limitações relacionadas à cognição.

Perfil sociodemográfico das pessoas com incapacidade.

A maior parte das pessoas com incapacidade em Portugal são mulheres e pessoas com 65 anos ou mais de idade. Do total da população residente com cinco ou mais anos com incapacidade, 62,2% (isto é 674 863 pessoas) são mulheres e 37,8% são homens (410 609 pessoas). Isto quer dizer que, do total da população, 12,9% são mulheres com incapacida- de, comparado a 8,7% dos ho- mens, uma diferença de 4,2 pon- tos percentuais. Isto refere-se às taxas de prevalência.

Por grupos etários, 65,6% das pessoas com incapacidade (712 473 pessoas) têm 65 ou mais anos. A prevalência de incapacidades aumenta progressivamente com a idade, especialmente a partir dos 70-74 anos, sendo mais significativa entre as mulheres.

Por último, 91,9% da população com cinco ou mais anos com incapacidade vive em alojamentos familiares. Do total de pessoas com incapacidade que residem em alojamentos colectivos (87 246 pessoas), 89% residem em alojamentos de apoio social.

Taxas de prevalência da incapacidade.

A taxa de prevalência da incapacidade para a população com cinco ou mais anos, para todos os tipos de funcionalidade, é de 10,9% da população total. Para os diferentes tipos de funcionalidade, as taxas seriam as seguintes:

  • 3,5% visão;
  • 2,8% audição;
  • 6,1% mobilidade;
  • 3,4% cognição;
  • 3,0% autocuidado;
  • 1,5% comunicação.

A taxa de prevalência das pessoas com incapacidade em Portugal aumenta significativamente com a idade. Entre crianças e jovens (5-19 anos), a prevalência é baixa, variando de 2,2% a 3,0%. A partir dos 65 anos, a prevalência cresce substancialmente, alcançando 28,8% aos 75-79 anos, 56,2% aos 85-89 anos e 70,6% para os que têm 90 anos ou mais.

Nível de escolaridade das pessoas com incapacidade.

Os dados relativos ao nível de escolaridade das pessoas com incapacidade evidenciam uma disparidade em comparação com a população geral. Enquanto que 21,5% das pessoas com incapacidade não possuem nenhum nível de escolaridade, esta percentagem é de apenas 5,9% para o total da população com 15 anos ou mais. 8,5% das pessoas com incapacidade completaram o ensino secundário, compara- do com 24,7% da população total. Para o ensino superior, os números são ainda mais baixos, com apenas 5,4% das pessoas com incapacidade tendo alcançado este nível de escolaridade, em comparação com 19,8% da população geral. Isto limita significativamente suas oportunidades no mercado de trabalho podendo resultar em menor competitividade, alta taxa de desemprego e dificuldade na progressão de carreira.

Perfil sociodemográfico das pessoas com incapacidade.

A análise da distribuição geográfica das pessoas com incapacidade em Portugal revela que a maioria reside no Norte do País, 35,3% (383 570 pessoas). Segue-se a região Centro, onde 24,3% (263 994 pessoas) da população com in- capacidade reside, e a Área Metropolitana de Lisboa, com 24% (260 898 pessoas). Essas três regiões juntas concentram a maior parte da população com incapacidade do País.

Rendimento das pessoas com incapacidade.

A análise dos dados sobre as fontes de rendimento da população com 15 anos ou mais com incapacidade em Portugal revela que a maioria depende de rendimentos não laborais.

Do total de pessoas com incapacidade, 762 303 pessoas (71,9%) recebe reformas ou pensões como a principal fonte de rendimento. Esta elevada dependência de pensões e reformas sugere que muitos indivíduos estão fora do mercado de trabalho, possivelmente devi- do a limitações significativas de saúde ou decorrentes da idade que impedem a continuidade no emprego. Ape- nas 12,7%, têm o trabalho como principal fonte de rendimento, o que evidencia a dificuldade que este grupo enfrenta para se manter no mercado laboral.

Além disso, os dados mostram que 69 858 pessoas de- pendem financeiramente de suas famílias, o que representa 6,6% da população com in- capacidade. Esse número sugere uma rede de suporte familiar importante, mas também pode indicar uma falta de acesso a outras formas de apoio financeiro ou de emprego adequado.

A predominância de rendimentos não laborais sublinha a importância de criar condições de trabalho acessíveis e de oferecer programas de requalificação profissional adaptados às necessidades desse grupo. Melhorar a acessibilidade nos locais de trabalho, combater preconceitos e fornecer suporte contínuo são medidas cruciais para aumentar a taxa de emprego e garantir uma vida mais digna e economicamente estável para as pessoas com incapacidade em Portugal.

População com limitações nas actividades diárias devido a problemas de saúde.

Segundo os dados da Eurostat, no ano 2023, a proporção de pessoas com limitações nas actividades diárias devido a problemas de saúde com 16 anos ou mais (uma medida reconhecida internacionalmente de incapacidade) foi de 33,4% em Portugal, tendo uma diminuição de 0,6 pontos percentuais em comparação ao ano anterior. Mas em relação aos últimos 10 anos, observa- -se um aumento geral na proporção de pessoas afectadas.

Este aumento pode reflectir o envelhecimento da população e a maior prevalência de doenças crónicas, sublinhando a necessidade de políticas de saúde pública eficazes e medidas de inclusão e acessibilidade para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.

Comparação com países da União Europeia.

Portugal ocupa uma posição relativamente elevada, com 33,4% da sua população enfrentando limitações nas actividades diárias devido a problemas de saúde. Este valor é superior ao de muitos outros países da UE, incluindo países como a Alemanha (28,2%), Espanha (29,6%) e Áustria (29,7%), destacando-se como um dos países com maiores desafios nesse aspecto. Este valor elevado pode ser atribuí- do a vários factores, incluindo um envelhecimento populacional acelerado. A posição de Portugal no ranking sugere que há uma necessidade urgente de reforçar as políticas de saúde pública e programas de apoio para melhorar a qualidade de vida das pessoas com incapacidade.

02 – O mercado de trabalho das pessoas com incapacidade
Segundo bloco

No segundo bloco deste estudo, também utilizaremos os dados mais recentes do INE (ano 2021) para analisar a distribuição da população com 15 ou mais anos, com e sem incapacidade, segundo diversas características demográficas e socioeconómicas.

Para obter uma compreensão mais precisa, focaremos a análise especificamente nas pessoas com incapacidade entre os 15 e 64 anos, uma vez que esta faixa etária representa a maior parte da força de trabalho activa. Esta análise é essencial para entender a situação actual e as tendências no mercado de trabalho para pessoas com incapacidade em Portugal.

Ao estimar as variáveis de emprego para pessoas com incapacidade nessa faixa etária, pretende-se comparar com a situação das pessoas sem in- capacidade no mercado de trabalho. Os resultados espera- dos desta análise são disparidades significativas nas taxas de emprego entre pessoas com e sem incapacidade.

Esta análise é necessária para promover a igualdade de oportunidades e a inclusão efectiva das pessoas com in- capacidade no mercado de trabalho em Portugal, contribuindo para uma sociedade mais justa e equitativa.

No final do bloco é realiza- da uma comparativa com os países da UE usando os dados da Eurostat do ano 2022. Estes dados não podem ser analisados de forma directa com o resto de dados do segundo bloco devido às diferenças na consideração de pessoas com incapacidade do INE e da Eurostat (também pela diferença nos períodos analisados) mas serve para para conhecer a situação de Portugal com o resto de países da UE.

O mercado de trabalho das pessoas com incapacidade. ACTIVIDADE

O segundo bloco deste estudo centra-se na análise estatística da situação do mercado de trabalho das pessoas com in- capacidade em Portugal. Esta análise é crucial para compreender a situação e desafios que este grupo enfrenta ao procurar e manter emprego, bem como as oportunidades disponíveis para a sua inclusão e participação activa na força de trabalho.

Os dados mostram que a população com incapacidade em Portugal enfrenta desafios significativos no mercado de trabalho. A taxa de actividade das pessoas com incapacidade com uma idade entre os 15 e os 64 anos foi de 47,6% em comparação com a taxa de actividade das pessoas sem incapacidade (dos 15 aos 64 anos) que foi de 73,1%.

População não activa

A grande maioria das pessoas com incapacidade (84,4% – 894 813 pessoas), com 15 anos ou mais, são pessoas não activas. Do total de pessoas inactivas com incapacidade, 77,2% são reformadas, o que pode in- dicar uma saída antecipada do mercado de trabalho devido a condições de saúde. A proporção de estudantes com incapacidade (1,5%) é significativamente menor do que a média, sugerindo barreiras no acesso à educação continuada.

O mercado de trabalho das pessoas com incapacidade. EMPREGO

O número de pessoas empregadas em Portugal com incapacidade foi de 147 294 pessoas, em comparação com as 4 426 461 pessoas empregadas sem incapacidade, destacando uma sub-representação clara deste grupo no mercado de trabalho. A taxa de emprego (população empregada/população em idade activa x 100) das pessoas com incapacidade em idade activa (dos 15 aos 64 anos) foi de 42,3%, enquanto para a população sem incapacidade essa taxa foi de 67,2%.

É importante conhecer esta situação, e implementar políticas inclusivas que incentivem a contratação de pessoas com incapacidade, investir em programas de formação e requalificação, e melhorar a acessibilidade nos locais de trabalho.

População empregada com incapacidade por profissão

A população empregada com incapacidade está sub-representada em quase todas as categorias profissionais. Nas profissões técnicas e de nível intermédio, 10,6% da população geral está empregada nesses cargos versus 7,4% da população com incapacidade. Isto é mais acentuado em áreas que exigem alta qualificação, como actividades intelectuais e científicas, onde apenas 11,1% da população com incapacidade está empregada (vs 18,2% da população geral). Por outro lado, há uma maior proporção de pessoas com incapacidade em trabalhos não qualificados (24,4% vs 15,4% da população geral), indicando possíveis barreiras no acesso a empregos mais qualificados e bem remunerados.

O mercado de trabalho das pessoas com incapacidade. DESEMPREGO

No ano 2021, o número de pessoas desempregadas em Portugal com incapacidade foi de 18 644, em comparação com as 391 517 pessoas desempregadas sem incapacidade. A taxa de desemprego (população desempregada/ população activa x 100) das pessoas com incapacidade em idade activa (dos 15 aos 64 anos) foi de 11,2%, enquanto para a população sem incapacidade essa taxa foi de 8,1% (3,1 p.p. inferior).

Como vimos anteriormente, 17 572 pessoas com incapacidade recebem rendimento social de inserção como principal fonte de rendimento, indicando que uma parcela significativa da população com incapacidade pode viver em condições de vulnerabilidade económica.

Comparação com países da União Europeia.

Os dados da Eurostat (2022) revelam que, em média, a taxa de desemprego na UE é de 6,1% para pessoas sem incapacidade, enquanto que para aquelas com alguma ou severa limitação da actividade foi de 9,4%. Em Portugal, a taxa de desemprego para pessoas sem incapacidade foi de 6%, enquanto que para aquelas com alguma ou se- vera limitação de actividade sobe para 8,8%. Comparando com outros países, a diferença é mais pronunciada em países como Espanha (12,4% vs 22,7%) e Grécia (12,4% vs 27,7%).

O desemprego de longo prazo em Portugal está ainda 1,9 p.p. acima da média da UE, representando 50,8% do total de desemprego, enquanto que a mé- dia na UE foi de 48,9%.

03- O talento das pessoas com incapacidade
terceiro bloco

No terceiro bloco do nosso estudo, realizámos um questionário direccionado para compreender a situação, motivações e expectativas dos(as) pro- fissionais com incapacidade em relação ao mercado de trabalho português.

Este questionário tem como objectivo obter insights detalhados sobre as experiências e desafios enfrentados por estas pessoas, assim como as suas as- pirações e necessidades específicas. Através desta abordagem, procuramos identificar as barreiras que impedem a plena integração destes talentos no mercado de trabalho e compreender melhor as suas expectativas em relação a oportunidades de emprego.

O questionário foi estruturado de forma a capturar in- formações abrangentes, incluindo a actual situação de emprego dos(as) participantes, os tipos de apoio e adaptações que consideravam necessários para desempenhar as suas funções de forma eficaz e as suas experiências anteriores de procura de emprego e no local de trabalho.

Além disso, exploramos as motivações pessoais e profissionais dos(as) participantes, incluindo as áreas de interesse para desenvolvimento de carreira e os factores que influenciavam a sua satisfação e produtividade no trabalho. Esta parte do estudo visou não só recolher dados quantitativos, mas também informações qualitativas que oferecessem uma visão profunda das experiências vividas.

40% das pessoas entrevistadas têm uma incapacidade relacionada com a mobilidade.

Das quatro funcionalidades básicas relacionadas com a análise quantitativa dos blocos anteriores, 40% dos entrevistados têm uma incapacidade relacionada com a mobilidade, 13% com a cognição ou a memória, 10% com uma incapacidade visual e 7% com uma auditiva. Além disso, 42% têm outros tipos de incapacidades, incluindo incapacidades psicossociais e mentais (como transtornos de saúde mental), doenças crônicas e orgânicas, condições autoimunes e imunológicas, e incapacidades neurológicas.

O grau de incapacidade revela que 65% dos entrevistados têm uma incapacidade igual ou superior a 60%, 26% têm um grau de incapacidade inferior a 60% e 9% ainda não foram avaliados. Assim, esta diversidade sublinha a importância de uma abordagem inclusiva e personalizada para garantir que as necessidades de saúde e de apoio no local de trabalho sejam adequadamente atendidas, promovendo a inclusão e a participação activa no mercado de trabalho.

Situação profissional das pessoas entrevistadas. Os dados revelam que 59% das pessoas com incapacidade

entrevistadas estão desemprega- das, destacando um desafio significativo no mercado de trabalho. Das pessoas 41% empregadas, a maioria trabalha em grandes empresas (41%), com uma presença notável também em PME (24%) e na administração pública (15%). Além disto, as funções desempenhadas va- riam com 29% em tarefas administrativas simples, 27% em tarefas técnicas especializadas e 21% em tarefas físicas simples. Por último, a estabilidade no emprego é variada, sendo que 44% das pessoas estão no seu trabalho actual há mais de três anos, mas uma parte significativa está em posições relativamente recentes.

Quase três em cada quatro profissionais empregados está a procura de um novo emprego ou disposto a ouvir ofertas.

Uma alta percentagem das pessoas com incapacidade entrevistadas estão em situação de desemprego (59%).

54% está em situação de desemprego e à procura de emprego, o que sublinha a grande dificuldade em encontrar trabalho. Além disso, 5% não podem trabalhar devido a uma incapacidade severa e permanente. Isso reflecte não apenas a exclusão dessas pessoas do mercado de trabalho, mas também a necessidade de políticas mais eficazes para apoiar a inclusão e reabilitação profissional, onde possível.

Do total dos profissionais que estão a trabalhar, aproximadamente três de cada quatro estão dispostos a ouvir ofertas ou estão à procura de um novo emprego o que indica um desejo de melhores oportunidades ou condições de trabalho. Do total de pessoas entrevistadas, apenas 10,8% estão empregadas e não têm nenhuma intenção de trocar de emprego.

Expectativas profissionais das pessoas com incapacidade.

56% das pessoas empregadas manifestam o desejo de querer mudar de emprego. As principais motivações para mudar de emprego baseiam-se na procura de um melhor salário (79%), em melhores oportunidades de desenvolvimento profissional (55%), ou na procura de um emprego mais adequado à sua formação (21%). Por outro lado, entre aqueles que não querem mudar de emprego, valorizam ter oportunidades de desenvolvimento profissional (40%), o nível de flexibilidade da em- presa (37%) e a localização próxima de casa (34%) como as principais razões para permanecerem no emprego actual.

➜ Situação profissional das pessoas desempregadas.

A grande maioria das pessoas desempregadas com incapacidade em Portugal são de longa duração, estando 62% nesta situação. Especificamente, 36% estão sem trabalho há mais de três anos, enquanto 26% estão desempregadas entre um e três anos. Esta situação reflecte os desafios estruturais e persistentes que as pessoas com incapacidade enfrentam par a conseguir e manter empregos.

A procura de trabalho das pessoas com incapacidade.

Em relação a procura de em- prego existe uma maior preferência pelos sites de emprego (60%) e centros de emprego nacionais (58%) como principais canais. Isso pode ser devido à acessibilidade e conveniência dessas plataformas, que oferecem uma ampla gama de oportunidades e suporte especializado. Em termos de sectores, há uma forte preferência por funções administrativas e de back office (39%), seguidas pela indústria (33%) e recursos humanos (29%). Essas preferências podem ser motivadas pela compatibilidade dessas áreas com diversas condições de incapacidade, a percepção de maior estabilidade e oportunidades de crescimento nessas funções.

À procura de novas oportunidades.

92% das pessoas entrevistadas acham difícil ou muito difícil encontrar um novo emprego, enquanto apenas 8% acham fácil ou muito fácil. Isso indica uma percepção maioritariamente negativa sobre as oportunidades de emprego dispo- níveis para pessoas com incapacidade. Entre as razões, 51% dos participantes identificam a própria incapacidade como o principal obstáculo, seguido pela falta de experiência (37%) e pela falta de adaptação das empresas às necessidades das pessoas com incapacidade (30%). Entre os que acreditam que encontrar um novo emprego pode ser fácil, 50% mencionam que têm for- mação suficiente, 39% acreditam que possuem muita experiência, e 38% confiam no apoio de centros de emprego e associações que ajudam pessoas com incapacidade.

Prioridades na procura de um novo emprego.

O salário continua a ser uma das prioridades mais seleccionadas pela maioria dos entrevistados (49%). Da mesma forma, a flexibilidade nos horários e localização (45%) também é outro dos factores mais importante na procura de um novo emprego, permitindo aos profissionais gerir melhor as suas condições de saúde, uma vez que a possibilidade de trabalhar remotamente pode reduzir barreiras físicas e de transporte. Da mesma forma, a segurança e estabilidade no emprego também é um factor importantes ao considerar uma nova oportunidade profissional (44%). Estes factores também são considerados como prioridades para os profissionais sem incapacidade na procura de um novo emprego.

Outros factores importantes na procura de um novo em- prego são a localização da empresa, que foi seleccionado por 42% dos entrevistados, e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, prioritário para 38% dos inquiridos e que é essencial para manter a saúde e o bem-estar, permitindo que os profissionais atendam as suas necessidades médicas sem comprometer o desempenho no trabalho. Por fim, a formação é uma prioridade para 37% dos participantes, destacando a importância de oportunidades de desenvolvimento profissional e formação contínua para superar barreiras de entrada no mercado de trabalho e avançar nas suas carreiras.

Três em cada quatro profissionais com incapacidade não está a realizar nenhum tipo de formação.

77% das pessoas com incapacidade não está actualmente envolvida em nenhum tipo de formação. As principais razões para não continuar a formação incluem a falta de condições financeiras (38%), a dificuldade de encontrar cursos adaptados à sua incapacidade (16%), e problemas de acessibilidade e mobilidade (11%). Isso sugere que barreiras económicas e físicas ainda são obstáculos significativos para o desenvolvimento profissional destas pessoas, limitando as suas oportunidades de aprimoramento e avanço no mercado de trabalho. Apesar das dificuldades, há um forte interesse em for- mação contínua entre as pessoas com incapacidade. Se encontrassem cursos adaptados e/ou recebessem ajuda financeira, 89% dos participantes teriam interesse em participar de formações.

Áreas nas quais gostariam de continuar a desenvolver competências.

Destaca-se os idiomas, que são prioridade para 39% dos inquiridos, seguido dos conhecimentos de informática, com 29% dos participantes a querer melhorar as suas habilidades tecnológicas, o que é essencial em um mercado de trabalho cada vez mais tecnológico e digital.

Além disso, também se destacam as competências de comunicação e apresentação (14%), as relacionadas com o pensamento criativo e analítico (20%) e gestão administrativa e de projectos (18%). O interesse em análise de dados e inteligência artificial (18% cada) mostra que existe uma consciência crescente sobre a importância dessas mesmas habilidades no futuro do trabalho.

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 221 de Agosto de 2024

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