Cientistas descobrem forma de salvar a banana da extinção. O segredo pode estar em aumentar a diversidade

As bananas que consumimos atualmente são muito diferentes das que eram comuns há algumas gerações. A variedade que encontramos nas prateleiras hoje em dia é chamada Cavendish, mas até aos anos 50, a variedade dominante era a Gros Michel, que foi dizimada por uma doença chamada murcha de Fusarium da banana (FWB, na sigla em inglês).

A FWB, que afetou a Gros Michel, foi causada por um patógeno fúngico denominado Fusarium oxysporum raça 1. Esta infeção fúngica mata a planta ao ocupar o seu sistema vascular, bloqueando o transporte de água e minerais essenciais.

Em resposta, biólogos de plantas desenvolveram a variedade Cavendish, resistente ao Fusarium, para substituir a Gros Michel. No entanto, nas últimas décadas, uma nova ameaça, causada por uma estirpe diferente do mesmo fungo, conhecida como raça tropical 4 (TR4), voltou a colocar em risco a produção global de bananas.

Como é que o Fusarium oxysporum Evoluiu para Superar a Resistência das Plantas?

Li-Jun Ma, professora de Bioquímica e Biologia Molecular na UMass Amherst, que tem dedicado a última década ao estudo da evolução genética do Fusarium oxysporum, explica que este complexo de espécies pode causar doenças de murcha e podridão radicular em mais de 120 espécies de plantas, e certas estirpes podem até infetar seres humanos.

Em 2010, o seu laboratório descobriu que o genoma do F. oxysporum pode ser dividido em duas partes: um genoma central, partilhado por todas as estirpes e responsável pelas funções básicas da célula, e um genoma acessório, que varia de estirpe para estirpe e codifica funções especializadas, como a capacidade de infetar um hospedeiro específico.

Cada espécie de planta possui um sistema imunitário sofisticado para se defender contra invasões microbianas. Para estabelecer uma infeção, cada estirpe de F. oxysporum utiliza o seu genoma acessório para suprimir o sistema de defesa único da planta. Esta compartimentalização funcional permite que o F. oxysporum aumente significativamente o seu leque de hospedeiros.

“Na nossa investigação mais recente, em colaboração com colegas na China e na África do Sul, descobrimos que a estirpe TR4, que ataca as bananas Cavendish, tem uma origem evolutiva diferente e sequências distintas no seu genoma acessório, quando comparada com a estirpe que devastou as bananas Gros Michel”, explica a investigadora ao The Conversation

Ao analisar o ponto de interação onde a estirpe TR4 ataca as bananas Cavendish, a equipa de cientistas apurou que alguns dos seus genes acessórios ativados libertam óxido nítrico, um gás prejudicial para a banana Cavendish. Esta explosão repentina de gases tóxicos facilita a infeção ao desarmar o sistema de defesa da planta, enquanto o fungo se protege aumentando a produção de químicos que neutralizam o óxido nítrico.

Aumentar a Diversidade das Bananas

“Ao rastrear a disseminação global desta nova versão do Fusarium oxysporum, percebemos que um dos principais fatores para o ressurgimento desta infeção fúngica é a dominação da indústria internacional da banana por um único clone, o Cavendish”, conclui a cientista.

Assim, segundo explica, o cultivo de diferentes variedades de bananas pode tornar a agricultura mais sustentável e reduzir a pressão de doenças sobre uma única cultura. Agricultores e investigadores podem controlar a murcha de Fusarium identificando ou desenvolvendo variedades de banana que sejam tolerantes ou resistentes à TR4.

As descobertas sugerem que outra forma de proteger as bananas Cavendish seria desenvolver captadores eficazes de óxido nítrico, para reduzir a pressão tóxica causada pela explosão de gás.

Pode ser difícil imaginar como um consumidor comum, que apenas gosta de comer bananas, poderia contribuir na luta contra esta doença devastadora. No entanto, os consumidores influenciam o mercado, e os agricultores são forçados a cultivar o que o mercado exige.

“Ao escolher intencionalmente uma ou mais das centenas de outras variedades de banana disponíveis no supermercado, pode ajudar a aumentar a diversidade das bananas. Além disso, ao comprar variedades locais de outras frutas e produtos agrícolas, estará a ajudar a preservar a diversidade das plantas e a apoiar os produtores locais”, aconselha Li-Jun Ma.

A colaboração entre cientistas, agricultores, indústria e consumidores em todo o mundo pode ajudar a evitar futuras crises de bananas e outras culturas essenciais.

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