Quanto custa estudar no Ensino Superior? Alunos gastam, em média, mais de 900 euros todos os meses

Um estudo recente do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), no âmbito do Projeto Europeu Eurostudent VIII, revela que o custo médio mensal para um estudante do ensino superior em Portugal é de 903 euros e 90 cêntimos. Esta análise, que envolveu a participação online de mais de dez mil estudantes, destaca que a maior parte das despesas é direcionada para o custo de vida, com a habitação a representar a maior parte destes custos.

De acordo com o relatório do estudo, o custo de vida, que inclui nove categorias de consumo — alojamento, alimentação, transporte, comunicação, saúde, assistência à infância, pagamento de dívidas (exceto amortizações), atividades de lazer social e outras despesas comuns — é a principal fonte de despesas para os estudantes. Em média, estes despendem 762 euros por mês apenas com o custo de vida, o que representa mais de 84% das suas despesas totais.

O alojamento é a despesa mais significativa, correspondendo a 33,5% do custo mensal. Em termos médios, os estudantes gastam cerca de 300 euros por mês em habitação, com este valor a aumentar para 363 euros para os estudantes deslocados a Lisboa.

O estudo também revela que o montante necessário para cobrir as despesas mensais varia conforme a idade do estudante e se este trabalha ou não. Estudantes mais velhos e com maiores horas de trabalho, bem como aqueles com rendimentos próprios, registam um custo médio mensal de 1.269 euros. Em contraste, os estudantes bolseiros apresentam um custo significativamente menor, com uma média de cerca de 518 euros por mês.

A situação de residência dos estudantes é bastante diversificada. Quase metade (49,3%) vive com os pais ou familiares, embora o estudo observe uma redução nesse número em comparação com edições anteriores do projeto. Este fenómeno é mais comum entre os estudantes com até 21 anos (55,3%) e mantém-se até aos 24 anos (55,7%). Além disso, os estudantes em Lisboa (56,2%) são mais propensos a viver com os pais, possivelmente devido aos elevados custos de alojamento na capital.

João Machado, vogal da Direção do Conselho Nacional da Juventude responsável pela área da Educação, critica a insuficiência das bolsas de estudo em cobrir o custo real do ensino superior. Embora as bolsas cubram várias despesas além das propinas, ainda há lacunas, como a ausência de apoio para materiais de estudo e transporte. Machado sublinha que a oferta de alojamento estudantil deve ser ampliada urgentemente através do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES), utilizando fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Atualmente, apenas 9% dos estudantes inquiridos residem em residências estudantis, conseguindo assim uma despesa média menor de 213 euros por mês. Contudo, apenas 32% das necessidades habitacionais dos estudantes deslocados são cobertas pelo PNAES, com cerca de 35 mil camas disponíveis para 110 mil estudantes.

Embora o Governo tenha anunciado a criação de mais 709 camas em pousadas do Inatel e da juventude em maio passado, com a maior oferta destinada a Lisboa e Porto, os estudantes consideram esta medida insuficiente. Mariana Barbosa, da Federação Académica de Lisboa, criticou a adequação das pousadas, mencionando que muitas não possuem cozinha e são para múltiplas pessoas, o que não corresponde às necessidades dos estudantes.

João Machado também criticou o complemento de alojamento, que apesar de ser uma boa ideia, enfrenta problemas devido à exigência de contratos ou recibos verdes, o que dificulta o acesso devido à resistência de muitos senhorios em formalizar acordos.

Em março deste ano, as federações académicas de Lisboa e Porto já haviam alertado para a dificuldade do custo de alojamento. Francisco Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto, referiu que muitos estudantes são forçados a acordar muito cedo e a regressar tarde a casa devido às exigências dos seus horários de estudo.

A Federação Académica de Lisboa revelou, no final do ano passado, que um terço dos estudantes pondera abandonar o ensino superior devido a custos elevados, com a habitação a ser uma despesa central. João Machado menciona que o abandono silencioso dos estudos afeta desproporcionalmente os estudantes de famílias com condições socioeconómicas mais desfavorecidas, prejudicando o potencial de progresso social.

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