Moldova declara alerta energético e teme interrupção de fornecimento de gás russo devido a ataque da Ucrânia em Kursk

A Moldova declarou o estado de alerta energética após a ofensiva das forças ucranianas na Rússia e a captura da cidade de Sudzha, onde se localiza uma instalação crucial para o fornecimento de gás à antiga república soviética. Esta decisão foi tomada pelo governo de Chisináu em resposta à situação crítica que poderia afetar o fluxo de energia para o país.

O anúncio foi feito após uma reunião da Comissão para Situações Excecionais da Moldova, que decidiu que a declaração de alerta energética permitiria às instituições responsáveis “as ferramentas necessárias para monitorar a situação de forma atenta e intervir rapidamente se necessário”, conforme informou o Executivo em comunicado oficial.

A decisão de declarar o alerta energético foi proposta pelo operador do sistema de transporte de gás natural de Moldova, Vestmoldtransgaz, após receber uma notificação do seu homólogo ucraniano sobre a estação de bombeamento de gás em Sudzha. Esta localidade, com cerca de 5.000 habitantes, situa-se a aproximadamente 60 quilómetros da central nuclear de Kursk e a menos de um quilómetro da fronteira ucraniana, onde se desenvolvem intensos combates e dezenas de milhares de pessoas já foram evacuadas.

Apesar do risco potencial de uma interrupção no fornecimento de gás, o ministro moldavo da Energia, Victor Parlicov, minimizou as preocupações, afirmando que não há um risco iminente de corte no fornecimento. No entanto, o ministro admitiu que o seu ministério precisaria de tempo para gerir a situação caso ocorra uma interrupção. “Há fatores que não dependem de nós e que não podemos controlar nas localidades onde ocorrem operações militares. Por isso, devemos estar preparados para qualquer cenário”, declarou Parlicov.

Dependência de Moldova e Impactos

O gás russo, extraído em Sudzha, atravessa a Ucrânia até a central elétrica de Cuciurgan (MGRES), situada em Transnístria, uma região separatista pró-russa que declarou independência de facto em 1990. Apesar de a  Moldova ter afirmado que já não depende diretamente do gás da Gazprom, o país ainda está indiretamente dependente da empresa russa pela eletricidade produzida nesta planta. Até o momento, Chisináu não encontrou uma alternativa segura e econômica para substituir este fornecimento.

O único precedente de declaração de estado de alerta energético ocorreu em outubro de 2022, quando o consórcio estatal Gazprom reduziu cerca de 30% do volume de gás entregue a Moldova. Na ocasião, o governo moldavo implementou medidas como a redução da iluminação pública e recomendou o racionamento de consumo elétrico. As autoridades de Tiráspol, capital de Transnístria, também anunciaram cortes no fornecimento de gás para grandes empresas, incluindo a central de Cuciurgan. Como resultado, Chisináu teve que recorrer ao mercado europeu, especificamente ao da Roménia, para adquirir eletricidade, cujo custo é até três vezes maior que o do gás russo, aumentando a dependência da central em Transnístria.

Na primavera de 2023, o ministro Parlicov afirmou que a Moldova não podia rescindir o contrato de fornecimento de gás com a Gazprom, devido ao preço reduzido em comparação com o mercado europeu. Em 2022, mais de 14.000 milhões de metros cúbicos de gás foram transportados através da estação de Sudzha, representando quase metade de toda a exportação russa de gás para a Europa, que foi significativamente reduzida após o início da invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022.

Se o fornecimento através de Sudzha for interrompido, a Transnístria ficará sem gás natural e Chisináu poderá enfrentar uma crise elétrica. Sergio Tofilat, especialista em energia, afirma em entrevista ao EL País: “Se o trânsito de gás for cortado, a planta MGRES deixará de funcionar e teríamos que importar eletricidade de Rumania. A região de Transnístria será a mais afetada. Gazprom teria que redirecionar urgentemente o fornecimento de gás através do Turkstream [pelo Mar Negro], se ainda houver capacidade nos gasodutos, ou a região de Transnístria solicitaria a nossa ajuda para evitar uma crise humanitária, o que exigiria um processo de reintegração.” Tofilat destacou ainda que “os custos seriam bastante elevados” e que “seria necessária ajuda externa para gerir a situação.”

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