O que acontecerá se o supervulcão de Yellowstone entrar em erupção após um sono de 600 mil anos?

Os visitantes de Yellowstone não ganharam para o susto em julho último, depois de um geiser em erupção ter lançado uma nuvem fervente de água escaldante e pedras a 180 metros de altura. No entanto, apesar de os geólogos terem considerado esta explosão no passado dia 23 como um “evento normal”, o incidente provocou novos receios sobre o supervulcão enterrado em Yellowstone despertar do seu ‘sono’ de 600 mil anos.

Segundo Michael Poland, cientista responsável pelo Observatório do Vulcão de Yellowstone, em declarações ao tabloide britânico ‘Daily Mail’, os estados vizinhos do parque ficariam “em más condições” se a “caldeira” cobrisse o céu com cinzas vulcânicas. “As cinzas são pesadas. E causariam problemas com a água, a agricultura e as redes elétricas.” No entanto, frisou o investigador geofísico, embora a explosão inicial da ‘Biscuit Basin’ de Yellowstone matasse milhares de pessoas numa supererupção, que despejaria vários estados americanos em “fluxos piroclásticos” de lava de alta velocidade, rocha e gás quente, não significaria “o fim da humanidade”.

A caldeira de Yellowstone é um “supervulcão” devido à sua capacidade histórica de erupções que podem expelir mais de 386 mil metros cúbicos de material vulcânico a partir da sua localização, 11 quilómetros abaixo da superfície do parque.

A “câmara de magma” subterrânea deste supervulcão, um reservatório de rocha basáltica parcialmente derretida, teve a sua última explosão há cerca de 630 mil anos, estimam os geólogos: há especialistas que sugeriram que as probabilidades de uma supererupção de Yellowstone num determinado ano hoje são de 700 mil para um. Então, o que aconteceria se o Yellowstone entrasse em erupção agora?

Foram considerados dois cenários: no primeiro, se o supervulcão entrasse em erupção num “big bang”, a explosão poderia ser equivalente a 875 mil megatoneladas de TNT (milhões de toneladas). Para colocar isto em contexto, a maior bomba nuclear alguma vez detonada, a soviética ‘Tsar’, tinha 50 megatons – apenas alguns milésimos de por cento dessa potência – e ainda assim foram relatadas janelas partidas a centenas de quilómetros de distância.

Milhares de pessoas morreriam em ondas de pressão resultantes de uma erupção do tipo “big bang”, que poderia cobrir grande parte do continente norte-americano com até 30 centímetros de cinzas. As áreas mais próximas da erupção – os estados de Montana, Idaho e Wyoming – seriam devastadas por aqueles “fluxos piroclásticos” abrasadores e destrutivos – uma mistura de ‘salpicos’ vulcânicos que conteriam blocos ou “bombas” de lava, cinzas e pedras-pomes, todos impulsionados por gás sobreaquecido em rápida expansão.

De acordo com Poland, as novas provas sugerem que as erupções anteriores do supervulcão não foram um “big bang”, mas sim uma série de erupções. Neste segundo cenário, esta série de erupções mais pequenas ainda deixaria devastada uma área num raio de 200 quilómetros de Yellowstone. Segundo o geofísico, as cinzas destas erupções em série cobririam campos, destruiriam cabos elétricos e fariam desmoronar edifícios, com ‘derivações’ mortais de cinzas a deixarem as equipas de resgate em dificuldades.

As áreas mais próximas da erupção ficariam cobertas por mais de um metro de cinzas – incluindo Salt Lake City, no Utah; Boise, Idaho; e Missoula, Montana –, salientou. As enormes nuvens de cinzas e enxofre das explosões também reduziriam as temperaturas globais, durante anos, senão décadas, o que teria impacto na agricultura tanto nas Américas como no mundo. “Em qualquer erupção desta dimensão, haveria impactos climáticos”, assegurou Poland. “Então, colocar-se todos estes aerossóis na estratosfera, o que reduziria temporariamente a temperatura global? Levaria alguns anos para que isso fosse eliminado.”

Poland recordou a erupção do Monte Tambora em 1816, na ilha de Sumbawa, onde hoje é a Indonésia, como um exemplo bem documentado: o evento lançou para a atmosfera uma nuvem de aerossóis do tamanho da Austrália. “Criou aquele que foi chamado ‘o ano sem verão’ na América do Norte e na Europa”, lembrou o especialista, “porque baixou as temperaturas globais durante um ano”.

Mas o que não vai acontecer, garantiu Poland, é o mito urbano popular de uma supererupção de Yellowstone a condenar a Terra a “uma extinção em massa”. “Mesmo que fosse uma destas erupções explosivas massivas”, indicou, “nenhuma erupção explosiva alguma vez resultou na extinção de plantas e animais, uma extinção em massa”. “Devastam uma região. Arrefecem o clima. Depois as coisas voltam ao normal.”

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