Sabia que? Energeticamente falando…

Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

Neste período de férias nada melhor do que uma leitura aligeirada mas sem perder o foco nas questões energéticas.

As novas tecnologias energéticas e o conhecimento relacionado têm avançado a passos rápidos, fomentados pela emergência climática, mas não só. Frequentemente somos surpreendidos por notícias e divulgações sobre novos desenvolvimentos ou resultados da aplicação de novas políticas e capacidades tecnológicas. Por isso hoje decidi deixar-vos aqui também algumas informações, talvez menos conhecidas do público em geral que demonstram o muito que se tem e está a ser feito neste domínio.

Assim, sabia que:

– foram conseguidas temperaturas superiores a bem mais de 1000ºC com utilização de energia solar térmica de concentração, o que permite a substituição de combustíveis fósseis nas indústrias que utilizam altas temperaturas, como as do cimento e do aço?

– já é possível converter um motor diesel tradicional num híbrido hidrogénio (90%)-diesel, que mantém a injeção diesel tradicional mas injeta hidrogénio (que não necessita de ser puro) diretamente nos cilindros, reduzindo as emissões de CO2 em 85% e também as emissões de NOx e conduzindo a um aumento de eficiência de 26%?

– a Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que 35% de redução dos gases de efeito de estufa (GEE) sejam reduzidos até 2050 usando tecnologias que ainda não estão no mercado?

– na Europa os edifícios são o maior consumidor de energia (40%) e responsáveis por cerca de um terço dos GEE?

– quase 10% da população europeia não consegue aquecer adequadamente a sua residência?

– 75% do edificado existente na Europa (como se vê não é só por cá…) tem baixo desempenho energético?

– a União Europeia (UE) importa mais tecnologias net-zero do que exporta?

– a UE importa 98% das terras raras e 97% do magnésio de que necessita da China? E 80% do lítio do Chile e 60% do cobalto do Congo?

– se prevê que a procura de lítio para as baterias dos veículos elétricos na UE aumente 12 vezes até 2030 e 21 vezes até 2050?

– se prevê que a procura de terras raras para os aerogeradores e motores elétricos aumente até 6 vezes até 2030 e até 7 vezes até 2050?

– os novos tipos de baterias à base de ferro foram reconhecidas pela MIT Technology Review como uma das dez melhores tecnologias de 2022?

– segundo a APREN a minieólica, que utiliza aerogeradores com potências inferiores a 100 kW, com potencialidades a nível individual e empresarial, pode satisfazer dez vezes (as potencialidades que isto tráz!) o consumo atual de energia elétrica a nível mundial?

– Portugal se prepara para realizar o primeiro leilão dedicado à eólica off-shore, tendo em vista a instalação de 10 GW até 2030?

– vai entrar em operação a muito curto prazo, na Dinamarca, uma fábrica de e-metanol (por exemplo para utilização na mobilidade) com um eletrolizador de 50MW?

– já foi testado com êxito um sistema de pilha de combustível para uso marítimo de 200 kW que se prevê disponível a nível comercial em 2027?

– uma grande consultora internacional e uma agência internacional chegaram à conclusão de que já se atingiu o pico do consumo do petróleo, em grande parte devido ao aumento da mobilidade elétrica?

– o uso simultâneo do terreno para a geração de energia solar fotovoltaica e para a agricultura, conhecido como agrivoltaico, abre espaço para sinergias positivas muito promissoras entre estes dois setores?

Como se pode ver há soluções tecnológicas para descarbonização da economia, algumas mais disruptivas, outras mais adaptáveis ao existente, mas uma grande parte da descarbonização da economia passará ainda pela eficiência energética. Muitas das soluções tecnológicas estão ainda em desenvolvimento, mas outras estão já à beira da comercialização. Há que deixar “trabalhar” o mercado, mas os decisores políticos também terão aqui uma (importante) palavra a dizer, assim sejam bem aconselhados. A aposta em tecnologias e recursos que nos deem garantias de fornecimento e de segurança e independência será determinante.

Os hidrocarbonetos fósseis, para fins energéticos, parecem começar a perder a influência económica, mas o seu fade away terá muita resistência, devido às inerentes questões geopolíticas e geoestratégicas, que bem se sentem no mundo atual.