Rússia acusa Washington de exigir “obediência inquestionável” dos aliados: EUA rejeitam comentários ‘choramingas’

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, acusou esta terça-feira os Estados Unidos de exigirem “obediência inquestionável” dos aliados e de ameaçar o multilateralismo, o que levou os responsáveis americanos a considerarem os seus comentários, no Conselho de Segurança das Nações Unidos, com próprios de um “choramingas”.

Recorde-se que Lavrov presidiu a uma reunião do Conselho – convocada pela Rússia, como presidente do órgão de 15 membros até julho – sobre a cooperação multilateral no interesse de uma ordem mundial mais justa, democrática e sustentável.

“Para conter a Rússia, a China e outros países cujas políticas independentes são vistas como um desafio à sua hegemonia, o Ocidente está a desmantelar agressivamente o sistema global que foi originalmente construído com base nos seus modelos”, garantiu Lavrov, destacando que Washington exige dos aliados uma “obediência inquestionável, mesmo em detrimento dos seus interesses nacionais”.

“Governe a América – essa é a essência da notória ordem baseada em regras, que é uma ameaça direta ao multilateralismo e ao direito internacional”, acrescentou o responsável russo.

“Sejamos francos, nem todos os Estados representados nesta sala reconhecem o princípio fundamental da Carta das Nações Unidas: a igualdade soberana de todos os Estados. Os EUA há muito que, através das palavras dos seus Presidentes, declararam o seu próprio excecionalismo”, acusou.

Sobre a questão da paz e segurança internacionais e da cooperação global, a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que a Rússia “não leva este assunto a sério”, deixando o apelo a Moscovo que pare a sua invasão da Ucrânia.

“Ao ouvir a declaração do representante russo, pensei que estava na sala errada porque esta parecia ser uma sessão de lamentações sobre os Estados Unidos e o Ocidente, e quase não ouvi a palavra multilateralismo ser mencionada”, apontou.

Num dos momentos mais tensos da reunião, a embaixadora dirigiu-se diretamente a Lavrov para referir os cidadãos norte-americanos detidos por Moscovo enquanto desempenhavam funções profissionais ou “por estarem no lugar errado, na hora errada”, como jornalistas ou desportistas. “Ministro Lavrov, quero olhar nos seus olhos – enquanto olha para o seu telemóvel – e dizer-lhe que não descansaremos até que Paul [Whelan, um ex-fuzileiro naval dos EUA detido na Rússia] e Evan [Gershkovich, jornalista americano detido na Rússia] voltem para casa, e a Rússia tenha cessado de uma vez por todas esta prática bárbara de manter peões humanos. E isso é uma promessa”, frisou Thomas-Greenfield.

Já a embaixadora britânica na ONU, Barbara Woodward, troçou do tema da Rússia para a reunião, já que Moscovo está “a bombardear sistematicamente civis na Ucrânia numa guerra de agressão não provocada e em flagrante violação da Carta da ONU”. “O que significa tentar anexar terras de outro país?”, questionou. “O que há de democrático em tentar subjugar o povo de outro país? O que há de sustentável em travar uma guerra que matou ou feriu mais de 500 mil pessoas do seu próprio povo?”

O embaixador da China na ONU, Fu Cong, disse que a ordem internacional se baseia no direito internacional. “Muitas vezes ouvimos falar sobre uma ordem internacional baseada em regras por parte de alguns países. Mas de que tipo de regras estamos a falar? E quem são os criadores das regras? Ninguém nos deu uma resposta clara e precisa”, indicou, referindo que uma ordem internacional baseada em regras “defendida por alguns tem realmente a intenção de criar outro sistema fora do sistema existente de Direito Internacional e de buscar legitimidade para padrões duplos e exceções”.

Antes mesmo da reunião começar, cerca de 50 países, incluindo Portugal, denunciaram “a clara da hipocrisia da Rússia” ao convocar este debate, mas apelaram à comunidade internacional que “não se distraia das violações flagrantes da Carta da ONU por parte da Rússia e do seu abuso do Conselho de Segurança”, ao mesmo tempo que Moscovo “tenta cinicamente apresentar-se como guardiã da ordem multilateral”.

Os signatários apelaram ainda a todos aos Estados-membros da ONU que fornecem apoio material e político ao esforço de guerra russo na Ucrânia para pararem esse auxílio.

A Rússia é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (a par da China, EUA, Reino Unido e França) e detém poder de veto.

A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

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