Von der Leyen ‘não larga’ a caça ao lobo: cruzada pessoal da presidente da Comissão Europeia tem causado mal-estar na Europa

Desde que o seu querido pónei ‘Dolly’ foi morto pelo lobo na ​​Baixa Saxónia, na Alemanha, em setembro de 2022, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tem-se concentrado em degradar o estatuto de proteção do grande carnívoro.

Esta ‘incansável’ cruzada pessoal – que se traduziu em lóbi político ao mais alto nível – tem feito levantar questões entre os diplomatas da UE em Bruxelas, que descrevem este foco como “estranho, bizarro, intrigante e definitivamente agressivo”.

“A proteção do lobo não é uma questão tão importante e, no entanto, Von der Leyen está a torná-la uma questão política fundamental”, aponta, em declarações ao jornal ‘POLITICO’, um diplomata de um país da UE que obteve o anonimato para falar abertamente. “A atenção política e as razões por trás disso são um pouco exageradas.”

O que está em jogo é se o estatuto de proteção do lobo deve ser reduzido de “estritamente protegido” para “protegido”, permitindo dessa forma que os animais sejam mortos mais facilmente se ameaçarem o gado.

Superficialmente, esta é uma questão técnica que deveria ser discutida por especialistas nacionais em grupos de trabalho no Conselho da UE. Mas, no fundo, é altamente político – o Partido Popular Europeu, de centro-direita, de Von der Leyen, quer autodenominar-se defensor do agricultor – e é também muito pessoal.

Algumas semanas após a morte de Dolly, Von der Leyen apelou a uma “análise aprofundada” da ameaça dos lobos por parte da Comissão Europeia. Um ano depois — em dezembro de 2023 — estava nas mesas dos países europeus uma proposta para efetivamente rebaixar o estatuto de proteção do animal. E Von der Leyen não aliviou a pressão. “A presidente da Comissão Europeia está a fazer lobby para apressar uma decisão” sobre este tema, disse um especialista nacional ciente das negociações. “Tem sido muito perturbador.”

Em diversas ocasiões, Von der Leyen também abordou pessoalmente a questão com Alexander de Croo, primeiro-ministro da Bélgica, que atualmente ocupa a presidência rotativa da UE e é responsável por supervisionar o progresso do processo no Conselho. De acordo com o porta-voz da Comissão Europeia, Eric Mamer, isto é totalmente normal. “A presidente da Comissão está em contacto regular com o primeiro-ministro belga na sua função de Presidência do Conselho. Nesse contexto, discutem, entre outros temas, o andamento das propostas da Comissão que estão a ser debatidas pelos colegisladores”, realça Mamer. “A presidente discutiu assim muitos dossiers com o primeiro-ministro De Croo… e o estatuto de proteção dos lobos foi apenas mais um dossier neste contexto.”

A proposta da Comissão desvaloriza o estatuto de proteção do lobo de “estritamente protegido” para “protegido”, citando “novos dados sobre o aumento das populações e dos impactos”. “A concentração de matilhas em algumas regiões europeias tornou-se um perigo real, especialmente para o gado”, disse Von der Leyen quando a proposta foi publicada.

De acordo com as estimativas da própria Comissão, existem cerca de 20 mil lobos na Europa e 0,06% das ovelhas dos agricultores são vítimas deles todos os anos.

Se for aprovada, a proposta dará às autoridades nacionais mais flexibilidade para conceder derrogações para matar lobos problemáticos — por exemplo, quando ameaçam o gado dos agricultores — mas os países continuarão a ser obrigados a garantir que o animal permanece em bom estado de conservação.

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