Europeias: Os três fatores em jogo nas eleições que prometem mudar o quadro político da UE
As sondagens recentes sugerem uma inclinação dos eleitores europeus para a direita nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, previstas para decorrer entre hoje e 9 de junho.
Esta mudança pode alterar significativamente o equilíbrio de poderes nas instituições da União Europeia (UE), sedeadas em Bruxelas, e uma mudança no rumo do bloco nos próximos anos.
Cerca de 373 milhões de europeus serão chamados a eleger 720 deputados ao Parlamento Europeu. As últimas sondagens indicam que as forças tradicionais e centristas estão a perder terreno, com um aumento do apoio à extrema-direita, o que poderá influenciar profundamente as políticas do bloco, incluindo migração, clima, agricultura, comércio e tecnologia.
A Euronews destaca três fatores essenciais que estão em jogo nas eleições que já começaram esta quinta-feira, e que levarão os eleitores portugueses às urnas já este domingo:
Fatores Cruciais nas Eleições
1. Ascensão da Extrema-Direita
A extrema-direita, que tem focado as suas campanhas em reduzir a migração, travar ações climáticas e restaurar a soberania nacional, está a ganhar apoio em várias partes da Europa. No Parlamento Europeu, estas forças estão divididas entre o grupo Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) e o grupo Identidade e Democracia (ID).
De acordo com a Super Sondagem da Euronews, estes grupos poderão alcançar até 20% dos assentos no próximo Parlamento Europeu, ganhando força em países como Bélgica, França e Itália. No entanto, a extrema-direita enfrenta desafios de coesão interna, sendo necessário superar divisões para maximizar a sua influência.
Giorgia Meloni, líder dos Irmãos de Itália (FdI), tem sido uma figura central nas negociações políticas. Ursula von der Leyen, candidata do Partido Popular Europeu (PPE), manifestou interesse em colaborar com Meloni, gerando controvérsia entre os aliados tradicionais do PPE no centro-esquerda e centro.
Marine Le Pen, líder do Reagrupamento Nacional (RN), também tenta unir as forças de direita num bloco coeso, possivelmente incluindo partidos como o Fidesz de Viktor Orbán. Se conseguirem formar uma aliança sólida, poderão tornar-se a segunda maior força no Parlamento Europeu.
2. Sustentabilidade da Coligação de Centro
Historicamente, o Parlamento Europeu tem funcionado através da colaboração entre partidos pró-europeus de centro-direita (PPE), liberais (Renovar a Europa) e centro-esquerda (Socialistas e Democratas, S&D). Estes grupos formaram coligações “ad-hoc” para assegurar a passagem de legislação, contando também com o apoio dos Verdes em algumas votações.
Contudo, a atual conjuntura indica uma pressão crescente sobre esta coligação. O descontentamento com os partidos tradicionais está a levar eleitores a optar por partidos da direita e esquerda radicais. A Super Sondagem da Euronews prevê que, embora os três maiores grupos continuem a deter a maioria dos lugares, esta será mais reduzida, sinalizando uma perda de apelo do centro político.
Esta tendência é particularmente visível em países como a França, onde o RN de extrema-direita tem consolidado uma base eleitoral robusta, em detrimento dos partidos centristas tradicionais.
3. Cenário Pós-Eleitoral
O futuro do Parlamento Europeu e das instituições da UE dependerá não só dos resultados das eleições, mas também das negociações políticas subsequentes. O resultado eleitoral influenciará a nomeação do próximo presidente da Comissão Europeia.
O sistema Spitzenkandidaten, que tem sido utilizado nos últimos anos, prevê que a maior bancada no Parlamento Europeu nomeie o presidente da Comissão. Com o PPE esperado para manter-se como a maior bancada, Ursula von der Leyen está na linha da frente para um segundo mandato. Contudo, ela precisará do apoio da maioria absoluta dos eurodeputados, o que pode ser complicado se os seus aliados tradicionais se afastarem devido às suas aproximações à extrema-direita.
A votação para a presidência da Comissão Europeia está prevista para setembro, sendo realizada por voto secreto. Delegações nacionais dentro do PPE, como Os Republicanos da França, podem votar contra von der Leyen. Além disso, os líderes da UE podem optar por um candidato alternativo, como ocorreu em 2019, o que poderia introduzir uma nova figura na liderança da Comissão.
As eleições desencadearão também a corrida por outros cargos de topo na UE, como o presidente do Conselho Europeu e o Alto Representante para a Política Externa e de Segurança. A distribuição destes cargos exigirá um equilíbrio delicado entre género, representação geográfica e filiação política. Os dirigentes da UE deverão reunir-se em Bruxelas no final de junho para discutir estas nomeações.
Conclusão
As próximas eleições europeias têm o potencial de reconfigurar significativamente o cenário político na UE. A ascensão da extrema-direita, a pressão sobre a coligação de centro e as negociações pós-eleitorais serão cruciais para determinar o futuro das políticas e da liderança europeia. O resultado das eleições e as subsequentes manobras políticas moldarão o Parlamento Europeu e, por extensão, a direção da União Europeia nos próximos anos.