Fundação russa ligada ao Kremlin é ‘fachada’ para operações em 48 países na Europa, revela investigação

Documentos secretos, obtidos numa fuga de informação, revelaram uma operação de influência russa disfarçada como uma fundação de defesa legal, ativa em 48 países, incluindo na Europa e no resto do mundo. A fundação, conhecida como Fundo para Apoio e Proteção dos Direitos dos Compatriotas que Vivem no Estrangeiro (Pravfond), é acusada de ser uma fachada para operações de influência do Kremlin, conforme revelam agências de inteligência europeias e analistas.

Os documentos, a que o Guardian teve acesso, indicam que o Pravfond financia sites de propaganda direcionados aos europeus e subsidia a defesa legal de indivíduos condenados, como o traficante de armas Viktor Bout e o assassino Vadim Krasikov. Além disso, a fundação emprega antigos agentes de inteligência para dirigir as suas operações em países europeus.

Desde a sua criação por decreto presidencial em 2012, com o apoio do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia e da agência federal Rossotrudnichestvo, o Pravfond gastou milhões de euros em campanhas de propaganda e legais. Segundo o chefe do Pravfond, Alexander Udaltsov, a fundação representa um “elemento único do soft power russo”. Udaltsov foi sancionado pela União Europeia em 2023 por apoiar ações que ameaçam a integridade territorial da Ucrânia.

Os documentos obtidos pela emissora pública dinamarquesa DR, partilhados com um consórcio de jornalistas europeus, incluindo o Guardian, mostram que vários ex-agentes de inteligência russos estão envolvidos na liderança do Pravfond. Entre eles, Vladimir Pozdorovkin, identificado como agente do SVR (Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia), e Anatoly Sorokin, também membro do SVR, que coordena operações no Médio Oriente, Moldávia e Transnístria.

O chefe do Instituto da Diáspora Russa, Sergey Panteleyev, envolvido em operações de guerra psicológica, é mencionado como implementador de projetos do Pravfond e foi sancionado pela UE.

A revelação de que parceiros locais do Pravfond receberam milhões em subsídios estatais de vários países europeus levanta questões sobre o uso de fundos públicos e a segurança nacional, especialmente com as eleições para o Parlamento Europeu à porta. Andrei Soldatov, especialista em serviços de inteligência russos, destaca que o Pravfond é um “esforço clássico de soft power” e que há uma ligação documentada entre atividades de inteligência e organizações de compatriotas.

Os documentos mostram que o Pravfond financiou a defesa de Krasikov, alegado agente da FSB condenado à prisão perpétua pelo assassinato do ex-comandante checheno Zelimkhan Khangoshvili em Berlim. O advogado Robert Unger recebeu 60.000 euros do Pravfond em 2021 para defender Krasikov. Unger confirmou ter representado Krasikov até 2021, mas recusou-se a dar mais detalhes devido à confidencialidade profissional.

Além disso, documentos de 2014 revelam que o Pravfond também financiou a defesa de Viktor Bout e do traficante de drogas Konstantin Yaroshenko, ambos posteriormente libertados em trocas de prisioneiros entre Moscovo e Washington.

O Pravfond investiu centenas de milhares de euros para manter vários sites que alegam combater a “Russophobia” e promover a defesa da língua russa na Europa. A fundação financiou atividades do site golos.eu, que opera a partir de uma caixa postal em Bruxelas e critica fortemente o governo ucraniano. Yuri Andriychenko, vice-editor do Golos, negou qualquer ligação financeira ao Pravfond, sugerindo que alguém poderia estar a usar o nome do site indevidamente para obter financiamento.

Outro portal, o Euromore, financiado pelo Pravfond, foca-se em alegadas ameaças aos russos na Europa e foi criado como alternativa a plataformas internacionais como RT e Sputnik, bloqueadas no Ocidente após a invasão da Ucrânia em 2022.invasão da Ucrânia em 2022.

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