Macron quer criar aliança europeia para enviar instrutores militares para a Ucrânia

“No deve ser excluída qualquer opção para evitar que a Rússia ganhe a guerra”: foi com estas palavras que Emmanuel Macron, presidente francês, desafiou os seus parceiros da União Europeia (UE) e da NATO, sugerindo o envio de tropas terrestres para a Ucrânia. Macron, fiel ao seu estilo, apresentou a ideia de forma subtil e sem aviso prévio, demonstrando a sua convicção de que nem a oposição dos aliados nem as possíveis implicações geopolíticas o fariam mudar de opinião. “Impor limites é optar pela derrota”, reiterou semanas depois. Agora, Macron poderá estar prestes a anunciar o envio de tropas francesas e europeias para o terreno.

Há poucos dias, o chefe das Forças Armadas ucranianas, Oleksandr Sirski, revelou nas redes sociais que a França tinha aceitado enviar instrutores militares para treinar soldados ucranianos. O comandante de Kiev não forneceu mais detalhes sobre o acordo, mas fontes diplomáticas explicaram à agência Reuters que a formação se concentraria em operações de desminagem, manutenção de equipamentos e treino no uso de caças ocidentais. As mesmas fontes asseguraram que Paris financiaria, armaria e treinaria uma brigada motorizada ucraniana.

Até ao momento, as autoridades francesas não confirmaram o acordo. O próprio Macron evitou fazer comentários sobre o que considerou “comunicações descoordenadas e infelizes”. “Não tenho o hábito de comentar rumores ou decisões que podem vir a acontecer”, afirmou Macron na terça-feira, numa conferência de imprensa após a reunião com o chanceler alemão Olaf Scholz, onde discutiram o futuro da segurança e defesa europeias.

Apesar do silêncio oficial de Macron, que nem confirma nem desmente, há quem veja nisso uma confirmação tácita do desdobramento. Citando fontes anónimas, o jornal Le Monde adiantou que as autoridades francesas estão a tentar formar uma coligação de vontades, uma aliança de países que agem coletivamente fora de uma instituição oficial, para enviar uma delegação conjunta de especialistas para a Ucrânia.

Muitos países temem que uma decisão como esta possa levar a um conflito direto com a Rússia, que já ameaçou com “graves consequências” caso tropas ocidentais entrem em solo ucraniano. Por enquanto, a França está a consultar os seus parceiros, mas de acordo com o Le Monde, o anúncio desta coligação poderá ser feito nos dias 6 e 7 de junho, durante a comemoração do 80.º aniversário do desembarque da Normandia, que marcou o início da libertação da Europa do nazismo. Este evento contará com a presença do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e de muitos outros líderes políticos mundiais.

Na última semana, os Estados Unidos quebraram um dos grandes tabus relacionados com a guerra, dando permissão à Ucrânia para atacar dentro do território russo usando armas fornecidas pelos americanos. Contudo, esta permissão aplica-se “apenas perto da área de Kharkiv”, de acordo com funcionários americanos. Posteriormente, França, Alemanha e quase uma dezena de outros países deram luz verde ao exército de Kiev para fazer o mesmo. Esta decisão representa uma mudança significativa na política de alguns aliados, como os Estados Unidos, que anteriormente se recusavam firmemente a permitir que a Ucrânia utilizasse armamento para ataques dentro da Rússia, apesar dos constantes pedidos de Zelensky.

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